quinta-feira, 31 de março de 2011

HÁ DISCRIMINAÇÃO E MESMO AFASTAMENTO DOS MONÁRQUICOS NOS ESPAÇOS DE INFORMAÇÃO E DISCUSSÃO

Fonte: Jornal Público de 27/03/2011

Nos dias 1 e 2 de Fevereiro deste ano de 2011, a Rádio e Televisão de Portugal voltou a exibir, no seu primeiro canal, a série em dois episódios (na verdade, é mais um telefilme em duas partes) «República», que antes havia sido exibida nos dias 4 e 5 de Outubro de 2010. A primeira exibição, é fácil de deduzir, foi feita para assinalar – e festejar – o centenário da implantação da república. E, agora, a repetição? Basta ver as datas: foi feita para assinalar – e festejar – mais um (o 103º) aniversário do Regicídio.
Esta decisão, de que o primeiro (ir)responsável é, obviamente, José Fragoso, actual director de programas da RTP 1, não é apenas uma provocação lamentável e de um mau gosto atroz; representa, antes de mais, uma nova demonstração da tese de que a República Portuguesa tem a sua causa principal num crime cruel – ou, dito de outros modos, que aquela não teria sido possível sem aquele, que aquela deu justificação e legitimidade àquele. Essa tese foi, aliás, exuberante e formalmente «ratificada» a 1 de Fevereiro de 2008 na Assembleia... da República, quando a «maioria de esquerda» reprovou um voto de pesar pela morte de Dom Carlos e de Dom Luís Filipe proposto pelo deputado Miguel Pignatelli Queiroz. Alberto Martins, que era então presidente do grupo parlamentar do partido socialista, não poderia ter sido mais eloquentemente transparente: a aprovação teria sido «um voto contra a república». Depreende-se que a exaltação de um atentado terrorista, de um duplo assassinato, terá contribuido decisivamente para que o líder da bancada do PS tenha sido promovido, após as eleições legislativas de 2009, a ministro... da Justiça!
Alberto Martins também afirmou na mesma ocasião que «não nos cabe a nós julgar as pessoas na História, fazer qualquer juízo moral sobre a História ou reescrever a História». Sim, (tentar) reescrever a História coube, não ao parlamento, mas sim à Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. E, nessa tarefa de propaganda, a RTP tem funcionado como um autêntico braço («armado») audiovisual da Comissão. É verdade que, desde o seu início, a estação de televisão do Estado sempre funcionou, com maiores ou menores variações, como a «voz do dono» do poder... fosse ele qual fosse. Porém, depois do 25 de Abril de 1974 a subjugação aos interesses instalados nunca pareceu tão grande como desde que José Sócrates é primeiro ministro... e que começou a operação de «branquemento» da república a pretexto dos 100 anos do regime. «Branqueamento» esse que, na Avenida Marechal Gomes da Costa, tem sido feito de duas formas principais. Uma, a produção e exibição de «ficção» em que um dos «lados da barricada» é sistematicamente (mesmo que subtilmente) enaltecido e valorizado em relação ao outro. Outra, a discriminação e mesmo o afastamento dos monárquicos nos espaços de informação e de discussão – processo em que o ponto culminante foi atingido a 4 de Outubro de 2010, em que nas emissões daquele dia dos programas «Sociedade Civil» (este na RTP 2) e «Prós e Contras» não esteve sentado às mesas qualquer opositor declarado da república; parece que na televisão pública se «aprendeu» com experiências anteriores, em que convidados monárquicos, quando não venciam inequívoca e invariavelmente os debates em que participavam, pelo menos não deixavam de desmascarar mentiras e de revelar verdades «inconvenientes».
Não se está a afirmar que todos os trabalhadores e colaboradores da RTP sejam cúmplices activos das regulares manobras de manipulação que nela se concretizam – e que, em alguns momentos, quase colocam a televisão oficial portuguesa na mesma (falta de) «categoria» das suas congéneres chinesa e norte-coreana. No entanto, sem dúvida que aparecem como espectadores (ou será «espetadores»?) passivos da crescente degradação da empresa, onde a aplicação do «acordo ortográfico» constitui disso o sinal mais recente. Quantos são os que lá se sentem envergonhados ao verem no ecrã, constantemente, «direto» e «Egito», entre outras aberrações linguísticas? Quem cala... consente.
Público Nº 7659, 2011/3/27
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(*) Nasci em Lisboa a 16 de Abril de 1965. Segui Sociologia no ISCTE, onde fui um dos alunos a concluir o primeiro seminário (especialização) em comunicação daquela licenciatura. Iniciei-me no jornalismo em 1985 no jornal regional Notícias de Alverca. Estive nas revistas TV Mais e África Hoje, e ao serviço das revistas Cyber.Net, Inter.Face e Comunicações fui distinguido em 1998, 1999 e 2000 pelo Prémio de Jornalismo Sociedade da Informação - galardão que voltei a ganhar em 2009. Colaborei também, entre outros, com A Capital, Blitz, Diário de Notícias, Diário Digital, Diário Económico, Expresso, Fórum Estudante, O Diabo, Público, Seara Nova, Semanário, Tempo e Vértice. «Visões» foi a minha primeira obra editada - em 2003 em livro e em 2005 em disco. Em 2004 iniciei um projecto para a recriação em computador da Ópera do Tejo (destruída em 1755). Em 2006 foi editado o meu segundo livro, escrito com Luís Ferreira Lopes: «Os Novos Descobrimentos». Em 2008 é editado «A República Nunca Existiu!», colectânea de contos, de que fui o criador, organizador e um dos 14 participantes. Em 2009 foram editados: «Espíritos das Luzes»; e «Poemas» de Alfred Tennyson, que traduzi.octanas.blog@gmail.com

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