Para o monárquico Rodrigo Moita de Deus, a saída da moeda única seria uma tragédia e uma perda enorme para Portugal e a monarquia poderia ser a solução para a crise
A monarquia é a solução para a crise?
Não é uma solução milagrosa, mas pode ser parte da resposta. É uma maneira diferente de ver o país, e sobretudo de estar no país. Mudando o regime pode--se mudar qualquer coisa, sobretudo a mentalidade das pessoas. Há muito pouco respeito pelo país.
Os portugueses estariam dispostos a mudar?
Não. Avaliando os dados que se conhecem, estariam hoje um pouco mais sensíveis à mudança de regime do que estavam no dia 4 de Outubro de 1910. Temos é um azar; nós, os monárquicos, somos uns tipos mais passivos, mais simpáticos, mais bonacheirões, portanto não gostamos de revoluções. As pessoas não estão sensíveis a esta mudança, consideram que a questão do regime não é essencial, como nunca consideraram. Além de ser preciso sensibilizar as pessoas, era preciso desmanchar a República. E ela teve imensas vantagens, uma das quais foi criar um sistema de ensino absolutamente dirigido e propagandista. Conseguiu imputar uma série de preconceitos à questão monárquica de que ainda hoje não nos livrámos.
Que tipo de medidas é que a monarquia poderia apresentar e a República não pode?
Sobretudo a questão da despartidarização do poder. Quer se queira, quer não, o Presidente da República é eleito pelos votos e pelos apoios dos partidos.
Mas a Espanha é monarquia...
A Espanha ainda não foi ao Fundo Monetário Internacional. Não há nenhum país monárquico que tenha pedido ajuda ao FMI. Todos os países que recorreram à ajuda financeira são repúblicas. Por norma, as monarquias são muito mais estáveis que as repúblicas. O país passou por quantas revoluções nas últimas décadas? Por quantos Presidentes? Este país é uma balbúrdia, somos indisciplinados e temos pouco respeito pelo nosso país. Quando se fala na reorganização da dívida, aquilo que estamos a dizer é que o Estado pode ser caloteiro. Viramo-nos para as pessoas que nos emprestaram dinheiro e dizemos que não vamos pagar. É uma coisa que achamos inadmissível fazer na nossa casa ou nas empresas, mas achamos que é tolerável no Estado. Há pouco respeito pelo Estado porque o Estado se dá pouco ao respeito.
Há quem defenda o federalismo e quem defenda uma maior regulação nos mercados. Qual é a visão de um conservador sobre o assunto?
Um conservador é uma pessoa que é resistente às modas. Há um pormenor curioso em relação à União Europeia. Dois anos atrás estávamos a assinar o Tratado de Lisboa e todos os países disseram que iriam salvaguardar a soberania do seu país, nem queriam pensar que Bruxelas se iria intrometer na questão dos países. Agora há 27 países a perguntar como é que Bruxelas não se intromete nos assuntos e como é que não manda. Chegámos a um impasse, temos uma moeda única mas depois esquecemos que o poder político tem de vir com o poder económico. Bruxelas vai ter inevitavelmente os instrumentos de fiscalização dos orçamentos de cada um dos países. Se há uma moeda única, então os poderes de fiscalização também têm de ser únicos. A Europa corre o risco de se tornar uma federação por conta da crise, esta crise é a grande oportunidade de qualquer europeísta. Ou damos o passo que falta ou então acaba a Europa. Qual é a decisão que vai ser tomada? Tem vindo a ser adiada variadíssimas vezes, mas vai ter de se decidir. Bruxelas vai ter de ficar com parte dos poderes que hoje em dia são dados aos países na sua política económica. E nesse dia a nossa soberania vai ser muito mais residual.
Há quem defenda a saída do euro...
A ideia de que a moeda única possa ser desfeita devia vir acompanhada da ideia de que isso teria um custo enorme para Portugal. Seria uma tragédia e uma perda enorme para o nosso país, tanto que ficaríamos muito atrasados. Se temos mil euros no banco, isto significaria que 30% dos mil euros, ou seja, 300 euros, iriam logo à vida. É 30% de perda imediata. Ganhávamos a longo prazo com as exportações, mas esse cenário seria uma tragédia, seria o fim da Europa.
Como é que um especialista em comunicação vê as notícias de economia a dominarem os discursos? Isso ajuda ou complica a comunicação?
Antigamente ganhávamos eleições dizendo aquilo que as outras pessoas queriam ouvir, preferiam que lhes mentissem. Hoje, com esta sede de informação e com a velocidade com que as pessoas acedem à informação, isso já não acontece. Temos cada vez mais informações que nos ajudam a tomar decisões conscientes. Não queremos continuar a ser enganados.
Não é uma solução milagrosa, mas pode ser parte da resposta. É uma maneira diferente de ver o país, e sobretudo de estar no país. Mudando o regime pode--se mudar qualquer coisa, sobretudo a mentalidade das pessoas. Há muito pouco respeito pelo país.
Os portugueses estariam dispostos a mudar?
Não. Avaliando os dados que se conhecem, estariam hoje um pouco mais sensíveis à mudança de regime do que estavam no dia 4 de Outubro de 1910. Temos é um azar; nós, os monárquicos, somos uns tipos mais passivos, mais simpáticos, mais bonacheirões, portanto não gostamos de revoluções. As pessoas não estão sensíveis a esta mudança, consideram que a questão do regime não é essencial, como nunca consideraram. Além de ser preciso sensibilizar as pessoas, era preciso desmanchar a República. E ela teve imensas vantagens, uma das quais foi criar um sistema de ensino absolutamente dirigido e propagandista. Conseguiu imputar uma série de preconceitos à questão monárquica de que ainda hoje não nos livrámos.
Que tipo de medidas é que a monarquia poderia apresentar e a República não pode?
Sobretudo a questão da despartidarização do poder. Quer se queira, quer não, o Presidente da República é eleito pelos votos e pelos apoios dos partidos.
Mas a Espanha é monarquia...
A Espanha ainda não foi ao Fundo Monetário Internacional. Não há nenhum país monárquico que tenha pedido ajuda ao FMI. Todos os países que recorreram à ajuda financeira são repúblicas. Por norma, as monarquias são muito mais estáveis que as repúblicas. O país passou por quantas revoluções nas últimas décadas? Por quantos Presidentes? Este país é uma balbúrdia, somos indisciplinados e temos pouco respeito pelo nosso país. Quando se fala na reorganização da dívida, aquilo que estamos a dizer é que o Estado pode ser caloteiro. Viramo-nos para as pessoas que nos emprestaram dinheiro e dizemos que não vamos pagar. É uma coisa que achamos inadmissível fazer na nossa casa ou nas empresas, mas achamos que é tolerável no Estado. Há pouco respeito pelo Estado porque o Estado se dá pouco ao respeito.
Há quem defenda o federalismo e quem defenda uma maior regulação nos mercados. Qual é a visão de um conservador sobre o assunto?
Um conservador é uma pessoa que é resistente às modas. Há um pormenor curioso em relação à União Europeia. Dois anos atrás estávamos a assinar o Tratado de Lisboa e todos os países disseram que iriam salvaguardar a soberania do seu país, nem queriam pensar que Bruxelas se iria intrometer na questão dos países. Agora há 27 países a perguntar como é que Bruxelas não se intromete nos assuntos e como é que não manda. Chegámos a um impasse, temos uma moeda única mas depois esquecemos que o poder político tem de vir com o poder económico. Bruxelas vai ter inevitavelmente os instrumentos de fiscalização dos orçamentos de cada um dos países. Se há uma moeda única, então os poderes de fiscalização também têm de ser únicos. A Europa corre o risco de se tornar uma federação por conta da crise, esta crise é a grande oportunidade de qualquer europeísta. Ou damos o passo que falta ou então acaba a Europa. Qual é a decisão que vai ser tomada? Tem vindo a ser adiada variadíssimas vezes, mas vai ter de se decidir. Bruxelas vai ter de ficar com parte dos poderes que hoje em dia são dados aos países na sua política económica. E nesse dia a nossa soberania vai ser muito mais residual.
Há quem defenda a saída do euro...
A ideia de que a moeda única possa ser desfeita devia vir acompanhada da ideia de que isso teria um custo enorme para Portugal. Seria uma tragédia e uma perda enorme para o nosso país, tanto que ficaríamos muito atrasados. Se temos mil euros no banco, isto significaria que 30% dos mil euros, ou seja, 300 euros, iriam logo à vida. É 30% de perda imediata. Ganhávamos a longo prazo com as exportações, mas esse cenário seria uma tragédia, seria o fim da Europa.
Como é que um especialista em comunicação vê as notícias de economia a dominarem os discursos? Isso ajuda ou complica a comunicação?
Antigamente ganhávamos eleições dizendo aquilo que as outras pessoas queriam ouvir, preferiam que lhes mentissem. Hoje, com esta sede de informação e com a velocidade com que as pessoas acedem à informação, isso já não acontece. Temos cada vez mais informações que nos ajudam a tomar decisões conscientes. Não queremos continuar a ser enganados.
Fonte: jornal i
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