Neto de D. Manuel I, porque filho do infante D.Luís e de Violante
Gomes, "a Pelicana", ( com quem terá casado em segredo ), foi D.
António, Prior do Crato, pretendente ao trono durante a crise sucessória
de 1580, e, do mesmo modo que D. João I em 1385, o preferido do povo,
que o aclamou rei a 24 de Julho daquele mesmo ano; por pouco tempo
porém, pois que «Sabendo o duque de Alba por espias e ruins
portugueses [ os Migueis de Vasconcelos de então ], como grande parte da
gente da cidade se recolhia a ela a dormir em suas casas, acometeu de
súbito o arraial do Senhor D. António trabalhando de entrar pela ponte
de Alcântara », tendo-se aí travado, a 25 de Agosto, uma batalha
decisiva, da qual D. António saiu derrotado.
Mas o filho de D. Luís continuaria rei de uma parcela do
território português, os Açores, cujo corregedor, Ciprião de Figueiredo,
escreveria, em 1582, a Filipe II de Espanha « Antes morrer livres
que em paz sujeitos ». Só um ano depois, em 1583, os castelhanos
alcançariam o intento de entrar na Ilha da Terceira, baluarte da
resistência portuguesa ao domínio espanhol.
publicado por Cristina Ribeiro em Estado Sentido
Dom António, Prior do Crato
Nasceu em Lisboa, filho de
uma mulher do povo e do infante D. Luís.
Seu pai desejava que ele
seguisse a vida eclesiástica e a sua educação processou-se em sucessivos
mosteiros e colégios religiosos, tendo tido por mestres o grande humanista Fr.
Diogo de Murça, o padre Simão Rodrigues de Azevedo, o teólogo Pedro MargaIho
a D. Frei Bartolomeu dos Mártires.
Com a morte de seu pai
decide romper com a carreira que lhe tinha sido imposta. Já prior do Crato e
com as ordens de diácono, recusa a ordenação de presbítero e comporta-se
como pessoa secular. Por esse motivo, seu tio o cardeal D. Henrique
manifesta-lhe um ódio declarado, o que o leva a exilar-se em Castela, em várias
ocasiões, durante a menoridade de D. Sebastião. Com a subida ao trono deste
monarca e gozando da sua estima, D. António desempenha o cargo de governador de
Tânger.
Obtém, então, dispensa do
papel das ordens de diácono. Toma parte na batalha de Alcácer-Quibir e é
feito prisioneiro. Resgatado, regressa a Lisboa para chefiar um dos partidos
nacionais que se opunham à candidatura de Filipe II ao trono português. O
prior do Crato baseava a sua candidatura na situação de filho legitimado do
infante D. Luís, segundo filho de D. Manuel, uma vez que não havia
descendentes directos de D. João III. Era necessário, todavia, provar o matrimónio
secreto de seus pais. Organiza-se um processo a D. António obtém uma sentença
favorável, mas a actuação pessoal do cardeal-rei, que contesta aquela decisão,
culmina numa nova sentença desfavorável.
Com a morte do cardeal, as
tropas filipinas entram em Portugal. Os partidários do prior do Crato
aclamam-no rei em Santarém; Lisboa e Setúbal recebem-no vibrantemente e, em
breve, quase todos os burgos do reino alinham a seu lado. Mas, não dispondo de
exército organizado, nem de recursos, é derrotado na batalha de Alcântara
pelo exército castelhano. Consegue fugir com dificuldade para o estrangeiro
onde, nas cortes de França a de Inglaterra, procura obter auxílio para lutar
contra Filipe II.
Duas esquadras francesas
enviadas à Ilha Terceira são derrotadas sucessivamente pelos castelhanos. A
Terceira perde-se, como último bastião de D. António. Vivendo miseravelmente
em França, a expensas de Catarina de Médicis resolve passar à corte de Isabel
I pedindo novo auxilio. Os ingleses como represália contra o ataque da Invencível
Armada, resolvem enviar a Portugal uma esquadra, comandada por Drake. D. António
desembarca em Peniche mas sofre novo desaire. Regressa a França e, depois de
ter conseguido um novo auxílio de Henrique IV, morre em Paris de uma crise de
uremia, sem realizar o projecto por que tanto lutou.
Ficha
genealógica:
D. António nasceu em Lisboa, em 1531, tendo falecido em
Paris, a 26 de Agosto de 1595, tendo sido enterrado no Convento de S. Francisco
da mesma cidade. Era filho natural ou legitimado do infante D. Luís e de
Violante Gomes, mulher plebeia. Foi rei de Portugal desde 19 de Junho de 1580,
data da sua aclamação em Santarém, até à derrota de Alcântara, a 25 de
Agosto seguinte.
Nunca resignou aos seus direitos e, embora exilado em França
a na Inglaterra, manteve luta armada contra Filipe II, nos Açores
(1582‑1583) a em Lisboa (1589). De várias mulheres teve 10 filhos, sendo
os mais conhecidos:
1. D. Manuel de Portugal (n. em Lisboa, 1568; f. em
Bruxelas, a 22 de Junho de 1638), acompanhando seu pai no exílio e vivendo em
França, na Inglaterra a na Flandres. Casou em 1597 com Emília de Nassau,
princesa de Orange, dela se separando em 1625 por motivos de ordem religiosa;
2. D. Cristóvão de Portugal (n. em Tânger,
em Abril de 1573; f. em Paris, a 3 de Junho de 1638). Viveu também no
estrangeiro, sustentando a causa paterna e, após a morte de D. António,
manteve vivo o mesmo ideal.
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