Andando pelas ruas dum tradicional lugar de veraneio, vejo jovens portugueses envergando t-shirts com
figuras de indivíduos que nada têm a ver com a cultura portuguesa,
europeia, ou, sequer, ocidental. Daria vontade de rir, pelo paradoxo e
ridículo, caso não fosse um triste sinal da ignorância e da falta de
referências de toda uma juventude. Dupla ignorância, pois nem lhes
passa pela cabeça quem são os vultos que transportam ao peito, e
porque, também por desconhecimento, não conseguem encontrar, na nossa
riquíssima e apaixonante História, personagens para ostentar
orgulhosamente junto ao coração. Sendo certo e sabido que um Povo que
não tem memória não tem futuro, esta falta de referências —
iconográficas e conceptuais —, por parte dos nossos mais novos,
conduzirá, a curto prazo, à total e completa falta de identidade de
Portugal. Resta-me pensar que esta situação se deve a uma nova forma de
crise de crescimento; dos jovens, que não do País, porquanto os 900
anos de Portugal lhe conferem antes a elevação da sabedoria e não a
insegurança da adolescência. Assim, quero crer que, se alguém tiver a
iniciativa de produzir t-shirts com as imagens de D. Afonso
Henriques, Nun'Álvares, Camões, Pessoa — e tantos outros santos, sábios
e heróis —, haverá ainda portugueses prontos a vestir a camisola.
Façam-se.
João Marchante
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