Majestosamente decoradas, as galeotas reais são
embarcações de uma beleza rara e única em toda a história da Marinha
Portuguesa. Construídas com linhas elegantes e de enormes dimensões,
estas embarcações, movidas a remos, destinaram-se, ao longo dos tempos,
a transportar os membros da família real e as mais altas
individualidades da diplomacia internacional.
Suscitando um
verdadeiro espectáculo de excelência e sumptuosidade, as galeotas reais
adornavam as águas do estuário do Tejo, desempenhando, na perfeição, o
papel de anfitrião dos monarcas e dilpomatas que nos visitavam.
Embora a história nos relate a existência, desde
sempre, de embarcações engalanadas para a condução dos nossos
soberanos, é difícil identificar a sua primeira utilização. Sabe-se,
porém, que antes da construção da primeira galeota, nos primórdios da
monarquia, o transporte da realeza era feito a bordo de embarcações,
aparentemente vulgares, que depois de ricamente decoradas, cumpriam
esta nobre função.
Marcando presença em cerimónias de gala e
festejos reais, estas embarcações testemunharam diversos momentos
históricos, nomeadamente a celebração de casamentos reais, a
comemoração de vitórias e o enaltecimento de figuras públicas.
Vários são os episódios passados a bordo
destas embarcações, como o encontro ocorrido em pleno rio Tejo, em
1383, entre o rei D. Fernando e D. Henrique de Castela, que celebrou a
paz entre os dois reinos ibéricos. Conta-se, igualmente, que D. Manuel
utilizava as galeotas para dar despacho aos assuntos públicos, enquanto
se passeava pelo rio. Terá sido a bordo de uma galeota real que D.
Beatriz seguiu, em 1521, para a nau «Santa Catarina do Monte Sinai», na
qual se transportava semelhante embarcação, destinada a fazer o
desembarque da princesa. Na viagem que fez para Lisboa, por ocasião do
seu casamento com D. João, vinda de Espanha, D. Joana de Áustria é
recebida pela Corte portuguesa numa esplenderosa e rica galeota.
Posteriormente, D.Sebastião, seu filho, terá utilizado estas
embarcações para se deslocar até às naus que o transportaram às praças
do Norte de África, nomeadamente a Alcácer Quibir.
O período de governação filipina marcou a
ausência das galeotas na paisagem fluvial, agora repleta de galés
espanholas. Só em 1662 voltaram a descer às águas do Tejo, preparadas
para embelezar mais uma cerimónia de casamento. Uma deslumbrante e
colorida falua real, protagonizou o transporte de D. Catarina de
Bragança até à nau-almirante da esquadra inglesa, que a conduziu a
Londres, onde contraiu matrimónio com D. Carlos II de Inglaterra.
Contudo, a presença de Filipe III, reforçou a imponência na construção
das embarcações reais. Assim, foi em 1666 que se construiu o primeiro
bergantim português.
Apesar da extraordinária e atribulada
história vivida por estas embarcações, a documentação a ela referente é
bastante escassa. Considerado como o mais precioso e completo
documento alguma vez escrito sobre o assunto, o livro «Noções da
Legislação Naval Portuguesa», elaborado pelo cabo das galeotas reais
Manuel Pinto da Fonseca, constitui o verdadeiro repositório das memórias
destas peças náuticas.
Resta
acrescentar que para além da função de recreio, lazer e condução de
cerimónias de Estado, as embarcações régias, de um modo geral,
serviram, ainda, as componentes militar e científica, lideradas por
alguns monarcas portugueses. Falamos dos reis D. Luís – o primeiro rei
Oficial de Marinha – e D. Carlos – pioneiro e mentor dos trabalhos de
Oceanografia e Ictiologia em Portugal. Destaca-se, ainda, a presença de
embarcações reais em eventos náuticos de carácter desportivo.
Fonte: Museu de Marinha
Fotos: Mónica Franco
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