terça-feira, 9 de agosto de 2011

NA APRESENTAÇÃO DO ELMO DE D. SEBASTIÃO












No passado Domingo, dia 7 de Agosto, na quinta Wimmer de Rainer Daehnhardt foi apresentado o elmo de D. Sebastião.





Lá estive com o anfitrião e o Emb. Jorge Preto para fazer a apresentação com uma vasta assistência.

Fica a minha palestra intitulada;




A IMPORTÂNCIA DO REAPARECIMENTO DO ELMO DE D. SEBASTIÃO NA NOSSA GERAÇÃO


“Morrer sim, mas devagar”


D. Sebastião, em Alcácer Quibir










Passou
a ser recorrente, entre nós, atacar a figura do nosso rei D. Sebastião
– nome único entre todos os nossos reis e também no mundo – que de
“Desejado” por todos, como ficou para a História, passou a ser
considerado, por muitos, como o símbolo do erro e da leviandade.




Tudo porque arriscou uma partida
difícil e perdeu uma batalha que quase esteve ganha. Acaso a tivesse
ganho seria hoje um herói?




Creio que aquela imagem começou a
ser construída no século XIX, pela historiografia emergente da
Convenção de Évora-Monte, quase toda ela Liberal e Maçónica, e que se
prolongou pela I República, da qual também saiu ferido o infeliz rei D.
João VI, cuja figura está a ser lenta e justamente recuperada.




Não nos fica bem tratar, deste modo, o jovem Rei-Menino, que parece, afinal, ter morrido velho…



Em primeiro lugar
porque a jornada de África, sendo discutível, não era desprovida de
nexo estratégico. Não acreditamos que se tratasse de ocupar todo o
Marrocos – para o que, sozinhos, nunca disporíamos de forças
suficientes – mas sim jogar em apoios que permitissem deter o Império
Otomano em rápida expansão nos Balcãs e no Norte de África, onde já
tinham chegado a áreas argelinas – lembra-se que os Turcos só foram
parados às portas de Viena em 1529 e, mais tarde, em 1683.




Lembro ainda que a batalha de
Lepanto, que quebrou a expansão naval turca, no Mediterrâneo, se dera,
em 1571. O perigo não tinha findado, porém, recordando-se a acção dos
Cavaleiros do Santo Sepulcro de Jerusalém, a partir da ilha de Malta (e
a importância da ajuda nacional nesse âmbito), e a decisiva
contribuição da esquadra portuguesa na vitória do Cabo Matapam, contra
os Turcos, em 1707, 130 anos depois de Alcácer Quibir…




Acresce a tudo isto
o constante perigo que representava para a navegação cristã (e para as
populações do litoral), a pirataria Berbere e também a
“concorrência”espanhola, que cada vez intervinha mais no litoral norte
africano, desde Carlos V, como são exemplos os ataques a Tunis e Argel,
onde também participaram fortes esquadras portuguesas.




No Reino também se assistiu a uma
mudança de política, relativamente à ideia de abandono de praças em
Marrocos, posta em prática no reinado de D. João III, sobretudo após as
Cortes de 1562 e da extraordinária defesa ao formidável cerco que os
Mouros puseram a Mazagão, nesse mesmo ano.




A situação política em Marrocos era,
outrossim, favorável: havia guerra civil e um dos principais
contentores aceitou fazer uma aliança com Portugal.




É certo que o monarca português
cometeu erros, sendo o maior de todos, o de se colocar à testa do
Exército sem ter assegurado descendência – embora tal se devesse, em
muito, à pressão dos acontecimentos; não avaliou bem as intenções do
seu tio Filipe II, de Espanha – que o traiu – e, durante a batalha foi
mais um combatente voluntarioso em detrimento da acção de comando na
direcção da contenda.




Mesmo a critica de se ter afastado
da costa perdendo assim a protecção da frota não colhe, já que o ataque
a Larache, um dos principais objectivos da expedição, era muito
difícil de fazer por mar, para o que se contava com os 50 navios e os
5000 homens prometidos por Filipe II, e que nunca vieram. Já o “timing”
da expedição, no pino do verão marroquino, é menos sustentável, se bem
que decorresse dos atrasos sucessivos a que a prontidão do Exército
foi sujeita. Houve também dificuldades de recrutamento de tropas,
sobretudo no Norte de Portugal, o que obrigou ao recurso de mercenários
alemães, italianos e espanhóis o que tornou o Exército algo
heterogéneo. A carriagem era, ainda, muito pesada tornando difíceis as
deslocações.




Sem embargo, Sebastião não nos desmereceu:
começou por preparar a campanha com antecedência, para o que reformou
toda a legislação militar, incluindo a primeira concepção moderna de
serviço militar obrigatório; depois, combateu bem e com denodo; deu o
exemplo, e pagou com a vida ou o desterro – e tudo indica que foi esta
última hipótese que ocorreu – a sua audácia e crenças. Dele disse o
grande Mouzinho, na sua esplêndida carta ao Príncipe D. Luís Filipe: “…mas a morte de valente, expiatória e heróica, redime os maiores erros. Bem merece ele o nome de soldado…”




O desfecho da batalha pode não
redimir totalmente a figura do jovem Rei, mas salvou para sempre a sua
imagem. De tal modo que se entranhou no imaginário nacional, um
peculiaríssimo estado de alma – à revelia de toda a racionalidade - e
que só os portugueses entendem: o “sebastianismo”, essa saudade das
glórias passadas, misturado com a esperança da redenção do porvir.




Deve ainda ter-se em conta que não
foi por D. Sebastião ter sido derrotado em Alcácer Quibir, que Filipe
II se apoderou da coroa portuguesa – a nossa Marinha, por ex., ficou
intacta: foi pelo caquectismo e pusilanimidade do velho Cardeal D.
Henrique, e porque a maioria do alto clero e alta nobreza se deixou
seduzir e corromper pelos ideais iberistas e pela prata de Sevilha! Uma
lição de que nos deveríamos lembrar hoje, todos os dias…




Em síntese,
apesar da sua pouca idade em Alcácer – 24 anos – D. Sebastião não nos
deixou ficar mal, não fugiu, não desertou do combate, não traiu. Deu o
exemplo, pôs-se à frente das tropas, combateu com bravura, não
desmereceu dos seus maiores, não envergonhou a nobreza, o clero e o
povo. Sebastião agiu de boa mente e com boas intenções.




Não era um “louco” ou um doente com
deformações, como quiseram fazer crer. O seu reinado tinha sido um bom
reinado: ocorreram um número elevado de vitórias militares, em três
continentes; estabeleceram-se muitas medidas para o saneamento da
economia e finanças e, até, da moral e dos costumes, e o próprio Rei se
interessou pessoalmente pela administração da Justiça.




Ao contrário do que também quiseram fazer crer,
o jovem rei não era incapaz de conceber e não se opôs a casar-se.
Opôs-se sim, a casar com quem lhe destinavam e, ou, nos moldes em que o
propunham. Neste âmbito é necessário recordar toda a má política
seguida por seu tio, o sempre presente Filipe II.




O “Desejado” passou, desde o seu
desaparecimento, a representar a esperança da redenção da Pátria, de tal
modo que o povo se recusou sempre a acreditar, contra tudo e contra
todos, na sua morte.




A sua figura foi um pilar
fundamental da resistência à usurpação filipina e inspiradora da
Restauração da Independência; foi um sustentáculo da Fé e da coesão,
foi a luz que nunca se extinguiu no fim da esperança. “Da Lusitana antiga liberdade…” no dizer de Camões.




Configurou
o mito da Fénix renascida, agregou vontades e deu um sentido para o
futuro; ao mesmo tempo que ajudava a suportar os sacrifícios e as
humilhações do longo calvário de 60 anos em que estivemos sujeitos a
Madrid.




D. Sebastião nunca morreu entre nós,
esteve sempre presente na mente do povo e dos grandes portugueses, nas
artes e na literatura. É um ícone do nosso imaginário!




De facto, a acreditar no que D. Sebastião representa, é conseguir ultrapassar-nos a nós próprios.






 


O elmo de combate,
em boa hora recuperado, que hoje está entre nós, e que reúne muitos
indícios que podem levar a concluir, sem rebuço, que é aquele que o
nosso Rei usou na malograda batalha – e disso é mister fazer prova
junto da comunidade académica e cientifica - é o que nos resta d’ Ele, é
um símbolo d’ Ele, é uma imagem que podemos recriar d’ Ele.






Hoje
D. Sebastião, o seu espírito e o que ele representa, é-nos mais
necessário do que nunca. Regressados às fronteiras do século XIII, se
bem que enriquecidos com os Arquipélagos Atlânticos, poderíamos
manter-nos uma pequena potência mas, em vez disso, deixámo-nos
escorregar, por via de lideranças incompetentes e antipatrióticas – que
nós temos tolerado - para um quase estado exíguo, que vive
desmoralizado e de mão estendida.



E não temos mais retaguarda estratégica…




Três grandes perigos/ameaças impendem sobre o nosso país: o federalismo europeu, o iberismo – que aquele potencia em extremo – e, sobretudo, o desleixo nacional, o baixar das guardas, a perda de referências e de auto-estima.




A União Europeia – recordo que nem o
Conde Duque Olivares se atreveu a substituir-nos a moeda – só pode
evoluir em três sentidos: ficar a patinar na situação cacofónica em que
está, e nós com ela; fazer uma fuga para a frente e avançar de
qualquer maneira na integração económica, social e política - e
Portugal desaparece como Estado, primeiro, e com o passar do tempo,
como Nação; ou implode, e cada um irá por si, estilhaçando-se em
conflitos e egoísmos algo catastróficos. Qualquer dos cenários é mau e
devemos preparar-nos rapidamente para fazer face a qualquer um desses
cenários.




O que passa, obviamente, por
preparar o abandono desta organização internacionalista cujos fins são
indefinidos. A Europa só nos interessa enquanto preservar a
individualidade da Nação Portuguesa. Não menos do que isso. Qualquer
outra solução representa o nosso epitáfio!




Os
perigos do Iberismo aumentaram exponencialmente pois todas as defesas
que criámos ao longo dos tempos foram todas derrubadas desde a
experiência funesta que iniciámos em 1986.




O “fraco rei faz fraca a forte gente”,
não é apenas uma frase lapidar camoniana, é uma verdade incontornável
de todos os tempos. Vamos ter que ter grande coragem, liderança e
perspicácia estratégica para conseguirmos sobreviver a tudo isto.




Creio
termos que regressar à matriz nacional e a acreditar no velho espírito
da casa lusitana. Em síntese, reaportuguesar Portugal!




Para isso nada melhor para nos
inspirar do que a figura do Rei menino que quis a glória da terra que
lhe deu o berço. O seu elmo de batalha aí está a significar a sua
intemporalidade e transcendência. Ele nos fará correr mais rápido o
sangue nas veias, de modo a que nos disponhamos a enfrentar quaisquer
perigos.








   


Com ele se levantará a altaneira “raça” portuguesa e não haverá Adamastor que nos detenha.

Uma nota final:




D. Sebastião está, pois, vivo entre nós; o que ele representa está vivo, viva então em nós o “Desejado”!



E se os seus restos mortais foram
inumados em Limoges, como estudos recentes parecem atestar, e existindo
forte possibilidade de se conhecer a urna em que estiveram
depositados, então só nos resta pugnar, junto do governo francês, para
que a dita urna e toda a memoralistica que se possa vir a identificar,
regresse a Portugal.




Devemos,
então, enviar uma escolta de cadetes das Academias Militares, para o
acto de tomada de posse, enviar tudo para o porto mais próximo e
embarcar num navio da esquadra portuguesa, que faria o transporte para
Portugal. A Cruz de Cristo, das asas dos caças da Força Aérea, será
protecção segura após entrada em águas nacionais. O desembarque seria no
Restelo, após salvar a artilharia; seguir-se-ia guarda de honra e “Te
Deum” nos Jerónimos e festa em todo o país.




D. Sebastião é um dos nossos maiores, deve regressar à Pátria. É um dever e uma dívida de todos nós.



Viva o Desejado!



Arraial, Arraial, por Portugal




Ten. Cor. João José Brandão Ferreira






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