A Tapada como couto real de caça dos monarcas dos séculos XVIII, XIX e XX
Caçada do Rei D. Carlos
A importância da caça na Tapada remonta à sua fundação em 1747. Pelo facto de ser uma área florestal de fortes potencialidades cinegéticas, a realeza encontrou neste espaço um local especialmente vocacionado para a caça e o lazer, conferindo-lhe um cunho próprio de nobreza que ainda hoje é preservado e continuado.
A prática da caça está ligada à natureza humana desde os tempos pré-históricos, evoluindo de uma actividade indispensável à sobrevivência humana ou de complementaridade alimentar, para uma actividade de recreio e lazer associada ao gosto do contacto com a natureza e à gestão das espécies animais.
Sendo hoje uma actividade de significativa importância económica e socialmente popularizada, tempos houve em que estava reservada às classes sociais privilegiadas – aristocracia e realeza, que dispunham de extensas áreas de tapadas e coutos de caça para seu uso exclusivo.
A caça assumia então um simbolismo de poder por um lado e de lazer por outro, constituindo essa prática de vencer animais fisicamente mais poderosos uma forma de preparação física para as contendas militares.
Na época de D. João V, monarca que construiu o Convento e criou a Tapada de Mafra, deu-se um grande incremento no fabrico nacional de armas de fogo e armas de caça, que teve continuidade no reinado do seu filho D. José I. À medida que as armas de caça se tornavam distintas das armas de guerra, tornaram-se objectos de ostentação, espelhando o poder económico e o gosto do seu possuidor.
Mafra, pela sua proximidade à Corte em Lisboa, constituiu, a par de Salvaterra de Magos, área privilegiada de caça dos reis e rainhas da Casa de Bragança, nomeadamente D. João V e D. José I, assim como D. Maria I e D. João VI, D. Pedro II, D. Fernando, D. Luís e D Carlos.
A tradição era caçar de batida ou de montaria, com o tiro feito a curtas distâncias sobre a caça em movimento. A introdução da carabina no exercício da caça em Portugal deve-se D. Fernando Saxe Coburgo Gotha (marido da rainha D. Maria II), de origem alemã, grande caçador e coleccionador de armas e que transmitiu aos seus filhos D. Pedro e D. Luís o gosto pela caça e pelos valores da natureza.
D. Luís I, que reinou 28 anos, manifestou interesse pela natureza e pela caça muito para além do seu aspecto lúdico e transmitiu também ao seu filho, o futuro Rei D. Carlos I, as bases que vieram a resultar na sua figura de notável naturalista, oceanógrafo, caçador e fotógrafo, registando frequentemente os eventos cinegéticos em que participava.
Arma do Rei D. Carlos
D. Carlos foi considerado um grande caçador não tanto pelo número de animais abatidos ou pelo tempo dedicado à caça, mas sobretudo pela sua atitude perante o caçar, pela forma como integrava a caça noutros saberes e outros saberes na caça.
Sobressaiu também, no meio cultural da época, como notável pintor, transpondo para a tela as emoções colhidas no seu contacto com os campos e com os mares.
D. Carlos foi ainda um frequentador assíduo e entusiasta da Tapada de Mafra, gosto partilhado pela sua mulher Rainha D. Amélia, ficando na história da Tapada como a sua figura mais emblemática.
Fonte: Tapada de Mafra
Sem comentários:
Enviar um comentário