Vivemos tempos difíceis, não é novidade para ninguém, mas talvez seja novidade para muitos dos actuais portugueses, sobretudo os mais jovens, a percepção de que o poder parece estar a afastar-se do povo. Aquilo a que nos habituámos a chamar de democracia, ou melhor, de “sistema democrático”, parece hoje algo de opaco, restringido a eleições sazonais onde através de um voto, cidadão eleitores são chamados a escolher partidos, que constituem listas com cidadãos para ocuparem cargos do poder. A realidade mostra que cada vez menos cidadãos vão votar, e cada vez mais os eleitos se esquecem de cumprir os programas propostos, pelos partidos pelos quais se fizeram eleger. Tudo isto provoca um descrédito generalizados do tal “sistema democrático” e da representatividade que tem como interlocutores únicos os partidos políticos.
Ajudando a descredibilizar a democracia, surge o poder económico. Um poder que transforma mercados em deuses que determinam a vida das pessoas como marionetas. Um poder que transforma as escolhas democráticas numa espécie de folclore inócuo.
Felizmente que a Igreja parece ter acordado para a sua missão de defesa das pessoas, da sua liberdade de decisão, da dignidade sua vida. A última nota dos bispos portugueses sobre a chamada “crise” deve merecer uma reflexão. Se um povo carregado de história, não tem um Rei a que apelar quando se sente oprimido e violentado na sua dignidade, é preciso que o clero saiba cumprir o seu papel fundamental na defesa da liberdade e da democracia, da verdadeira democracia.
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