Defender a restauração da monarquia não é simplesmente desejar um Rei por capricho ou preferência estética. A forma de governo que ambicionamos representa muito mais do que isso. É uma outra visão de mundo que deverá surgir com o fim da república. Esta transformação deverá operar-se nas mentalidades.
Ibsen Noronha
Defender a restauração da monarquia não é simplesmente desejar um Rei por capricho ou preferência estética. A forma de governo que ambicionamos representa muito mais do que isso. É uma outra visão de mundo que deverá surgir com o fim da república. Esta transformação deverá operar-se nas mentalidades.
De que nos serviria ficarmos agarrados à Coroa – à qual tanto nos dedicamos – se, por vezes, nos puxam o tapete e caímos? Consideramos que não há grande vantagem em restaurar uma Monarquia se, a instituição que a originou e a sustentou, a Família, estiver cada vez mais debilitada em resultado dos constantes ataques de que vai sendo alvo, por acção da mentalidade e dos costumes laicos e republicanos. Defender a Família contra estas investidas torna-se um imperativo moral para aqueles que propugnam a restauração de um sistema fundamentado naquela que é a célula mater da sociedade.
Em 13 de Dezembro último, aquando do fracasso em Bruxelas das negociações sobre o projecto de uma Constituição europeia, a nossa reacção só podia ser de júbilo. Para além do óbvio problema da criação de um super estado europeu, que implica, necessariamente, a perda de poderes soberanos dos Estados-membros, mais um ataque à Família foi, pelo menos, adiado.
Os membros da Convenção tinham decidido, à última hora, integrar no projecto de Constituição, a Carta dos Direitos do Homem, que viria a constituir assim a segunda parte do documento. Mas notámos que a dita Carta foi alterada, de modo a adaptar-se à evolução dos costumes – o eterno sofisma! Com efeito, o artigo II-9 do projecto prevê que o direito de casamento e o direito de fundar uma família estão garantidos conforme às leis nacionais que regem o seu exercício. Parece bem, mas consideremos o texto original: o homem e a mulher têm o direito de se casar e de fundar uma família segundo as leis nacionais que regem o exercício desse direito.
Os membros da Convenção explicaram que a redacção foi modernizada (sic) no desejo de poder abranger os casos em que as legislações nacionais reconhecem outras vias, fora do casamento, para fundar uma família. E também para poder reconhecer o estatuto de «casamento» às uniões entre pessoas do mesmo sexo. Eis o motivo de já não se dizer o homem e a mulher têm o direito de se casar. O direito de se casar é reconhecido de forma abstracta, perdido no absoluto. E lamentamos ter de afirmar, mas há uma perfeita consonância com a posição do Tribunal de Justiça Europeu que já decidiu que, entre outras coisas, os Estados deviam omitir a referência ao sexo das pessoas quando tal não fosse indispensável.
Ufa! Sentimos necessidade de respirar perante tudo isto...
Mas o facto é que, talvez não por motivos morais ou por desejo de defender a Família, o projecto não foi adiante. Contudo, não temos ilusões. Estudando a dinâmica do processo histórico em que nos encontramos, sabemos que a tendência dos governos laicos – com velocidades variáveis – é prosseguir até à supressão total de tudo aquilo que faça lembrar que a Europa foi o berço da Civilização Cristã.
É aqui precisamente que reside o ponto-chave do problema. A ideia de uma União Europeia é conduzida fundamentalmente em contraposição à ideia de uma Europa Cristã. Esta Europa foi fruto de um processo histórico de civilização de povos bárbaros, que transformou este continente – o menor de todos, uma pequena península da Ásia – num pólo de cultura, ciência, arte e riqueza, visitado ainda hoje por milhões de turistas do mundo inteiro, que contemplam com admiração profunda os seus monumentos militares, civis e religiososo.
A Europa ou é Cristã ou não é Europa!
Não nos contentamos com uma mera referência ao Cristianismo num texto que estará repleto de legislação anti-cristã. Das ruínas da Europa laica desejamos que renasça a Europa fiel aos princípios que lhe deram vida, fiel a si mesma.
A Monarquia foi uma das mais belas criações da Civilização Cristã no campo temporal. E é uma Monarquia Cristã numa Europa Cristã que nós desejamos e pela qual lutamos.
Este artigo foi publicado na edição nº. 13 do Boletim Arautos d'El-Rei de Fevereiro de 2004
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