terça-feira, 22 de novembro de 2011

HOJE, SIM, É DIA DE PORTUGAL (14 DE AGOSTO)

… Porque 10 de Junho não é, não merece ser, Dia de Portugal.
 
10 de Junho é o Dia de Camões? Sim, sem dúvida. É praticamente a única data completa de que há certeza relativamente ao nosso grande poeta.
 
10 de Junho é o Dia das Comunidades Portuguesas? Sim, talvez, porque não? O autor de «Os Lusíadas» percorreu grande parte do Mundo em vida, pelo que pode constituir como que uma figura tutelar de todos os portugueses que depois dele se instalaram em todos os pontos do Mundo.
 
10 de Junho é o Dia de Portugal? Não, de maneira nenhuma. O dia nacional de um país deve ser, logicamente, uma data em que o mesmo afirmou, iniciou e/ou reforçou a sua identidade, a sua independência, a sua natureza. E para nós o décimo dia do sexto mês representa precisamente o oposto. 10 de Junho de 1580 não foi só a data da morte de Luís de Camões. Foi também, de certo modo, a data da morte - de uma certa forma de morte – da nossa pátria: aquele foi também o ano em que Filipe de Espanha foi entronizado Rei de Portugal, na sequência das mortes de D. Sebastião e do Cardeal D. Henrique (sem deixarem sucessores) e da derrota de D. António, Prior do Crato.
 
Por outras palavras: o actual «Dia de Portugal» é aquele que evoca a sua maior derrota; é o dia da morte do homem que viria a tornar-se não só o seu artista mais celebrado mas também um do seus maiores símbolos, se não mesmo o maior; num certo sentido, esta nação deixou de existir depois de Camões deixar de existir.
 
É absurdo, patético, ridículo? Sim, sem dúvida. Mas não para os republicanos, que foram quem preconizaram e instituíram o 10 de Junho como Dia de Portugal. Há que lembrar que eles - em especial os de «esquerda» - sempre foram tendencialmente iberistas, pelo que não os incomoda que o «Dia de Portugal» seja, na prática, o «Dia da União com Espanha».
 
E qual deveria ser o – verdadeiro – Dia de Portugal? Existem várias hipóteses, diferentes alternativas. 24 de Junho (de 1128), dia da Batalha de São Mamede; ou 25 de Julho (de 1139), dia da Batalha de Ourique - momentos decisivos da ascensão e aclamação de D. Afonso Henriques enquanto Rei, e, por arrastamento, da formação e da consolidação de Portugal. 5 de Outubro (de 1143!), dia da assinatura do Tratado de Zamora, que reconheceu - pela primeira vez - a independência do nosso país. 1 de Dezembro (de 1640), quando se restaurou a independência.
 
Porém, o dia que mais atributos reúne para merecer a designação de – verdadeiro – Dia de Portugal é 14 de Agosto. Nesta data, em 1385, a Batalha de Aljubarrota – culminar de uma crise que proporcionou (por uma vez) uma notável coesão entre os diferentes estratos da população – assegurou, mais do que a sobrevivência da nação, a sua futura expansão: confirmou como Rei D. João I, que fundou a dinastia de Avis e gerou a Ínclita Geração, primeira responsável pelos Descobrimentos. O recontro do Campo de São Jorge constituiu igualmente a primeira grande manifestação efectiva da aliança luso-inglesa e ainda ofereceu às lendas heróis mais ou menos míticos – Nuno Álvares Pereira, a Ala dos Namorados, Brites de Almeida.
 
Só mesmo os ignorantes, os indiferentes e os interesseiros é que podem continuar a defender o 10 de Junho como o Dia de Portugal.
 
Artigo publicado com o título «Hoje não é Dia de Portugal» no jornal Público Nº 6645, 2008/6/10
 
Publicada por OCTÁVIO DOS SANTOS (OCTANAS) em Sexta-feira, Agosto 14, 2008
ESQUINAS.ORG
 
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Hoje, 14 de Agosto, passa mais um aniversário da Batalha de Aljubarrota de 1385, e esta é a data que eu considero que deveria ser o nosso dia nacional. O que eu defendi no meu artigo «Hoje não é Dia de Portugal», publicado no jornal Público a 10 de Junho último, e que pode agora ser lido no Esquinas e no Nova Águia.- OCTANAS

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