quarta-feira, 23 de novembro de 2011

PORQUE É QUE NÃO NOS REVOLTAMOS?

Maria da Fonte
“Um povo que tenha a coragem de se manter pobre, é invencível”
Oliveira Salazar

A citação encerra uma profunda e antiga sabedoria, mas depara-se com um problema sério derivado da natureza humana: é que toda a gente – à parte uns quantos “franciscanos” – o que pretende, é ser rica. E, quanto aos povos, aplica-se aquele trecho do Antigo Testamento que reza assim: “nenhuma cidade cercada resiste a uma mula carregada de ouro”…

Este último libelo explica, em parte, o facto da Nobreza e do Alto Clero terem cedido tão facilmente às teses de Filipe I, e é contumaz aos actuais iberistas e fascinados pelas teses de Bruxelas!

No fundo, a sempre presente dualidade entre os bens e os valores espirituais e os materiais; ou se quisermos, a eterna luta entre o Bem e o Mal. É a adoração do “Deus Mamon” (o dinheiro), em detrimento do Deus dos crentes, da Justiça e do Amor, o qual não se cinge à Troposfera mas está, sobretudo, para além dela.

O Deus Mamon apoderou-se da sociedade portuguesa, do mesmo modo que, do anterior, se tinha apoderado de todo o Ocidente, e com muito poucas peias.

A actuação dos políticos, ignorantes ou comprometidos, ávidos de votos, e a acção da propaganda e dos “média” atearam os eventos a um ritmo alucinante.

Hoje o sonho do crescimento económico constante e imparável acabou e o mito do crédito fácil e barato, para sempre, terminou da pior forma. Como é da natureza das coisas.

As pessoas estão a acordar de um pesadelo súbito (embora mais do que anunciado), e não abriram bem os olhos de estremunhadas que estão. Esta é a primeira razão porque não se revoltam.

A segunda razão tem a ver com a ignorância, a falta de informação e a desorientação dos espíritos. Numa primeira fase, os cidadãos, estão a ver se percebem o que se passa e como vão ser afectados e sobreviver. Enquanto o mal for só, ou maioritariamente, dos outros e, ou, não atingir proporções calamitosas, a prioridade irá para a acomodação e para a limitação de estragos. Quem tem algo a perder, quer perder o menos possível e isso inibe-os de actuar. É uma atitude egoísta, certamente mas, sem embargo, muito típica do género humano.

Em terceiro lugar existem ainda muitas “almofadas” que, apesar de estarem a ser exauridas rapidamente, ainda dão aconchego e esperança a muitos. Quero referir-me a reservas existentes (apesar da poupança interna ter descido a mínimos históricos); aos subsídios de desemprego e do rendimento mínimo garantido; à “casa dos pais”; à diminuição do fluxo imigratório e ao abandono de muitos imigrantes do território nacional; ao aumento da emigração (os portugueses voltaram a emigrar às dezenas de milhar), etc.

A perda de hábitos de trabalho, organização e disciplina, bem como a falta de qualificações e a falta de interesse por muitos mesteres essenciais vai, também, levar o seu tempo a resolver.

Finalmente, e mais importante, as pessoas estão, aparentemente, “mansas” e pouco activas na indignação, por uma questão psicológica ponderosa: estão de consciência pesada!

Isto apesar da grande fatia da responsabilidade não lhes caber.

Porquê aquele sentir?

Porque, simplesmente, durante mais de 30 anos (não são 30 dias), viram este “filme” correr frente aos seus olhos e fingiram que não viram. Levaram demasiado tempo a perceber que os políticos actuavam demagogicamente, mentiam e não cumpriam as promessas que faziam. Isso era, porém, adequado às suas ilusões. Que diabo, quem é que gosta que o confrontem com a dureza da verdade? E, a partir de certa altura, em quem votar?

Por isso enquanto se verificou o “venha a nós o vosso reino”, quase todos se acomodaram e muitos bateram palmas: havia que usufruir dos subsídios a esmo; dos fundos de coesão, aproveitados para tudo menos para o que deviam; do cartão de plástico. O futuro que se danasse!

Ora se “todos” faziam assim, era agora “eu” que me ia opor, ou não seguir o exemplo? Maria vai com as outras, eis o ditado popular no seu esplendor; se os outros têm, eu também quero ter…Deixar andar, etc.

Um “etc.”que até fez com que se fechasse os olhos ao aumento exponencial da roubalheira, da corrupção, do crime organizado, da bandalheira. Andar para trás nisto não vai ser fácil, mas vai ser essencial.

Daí que, os poucos que alertaram para o desvario e o descalabro, fossem ignorados, ofendidos e apelidados de “profetas da desgraça”. “Tremendista” era outro dos termos usados.

Por tudo isto as pessoas que, no fundo, não são burras e têm consciência, estão de monco caído e muitas à beira de um ataque de nervos.

Lembram-se da desgraça da “Descolonização”? Pois ela deu-se e quase todos nós ficámos, outrossim, de má consciência. A libertação de Timor do domínio indonésio e a reacção do País, funcionou como uma espécie de catarse colectiva de expiação de culpas, a essa má consciência. Lembram-se?

Assim nos desgraçámos e nos deixámos desgraçar, agravado pelo facto de sermos relapsos a aprender, de que não temos de nos queixar a não ser de nós próprios.

As pessoas, de um modo geral, não gostam de ouvir estas coisas – razão primeira pela qual ninguém as diz na televisão – mas são verdades cristalinas e incontornáveis.

A próxima catarse colectiva vem a caminho, só não se sabe é como nem quando.

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