domingo, 4 de dezembro de 2011

ENTREVISTA DE S.A.R., O SENHOR DOM DUARTE AO "EXPRESSO" SOBRE O 1º DE DEZEMBRO

"O Dia de Portugal devia ser celebrado a 1 de Dezembro"
 
Dom Duarte Pio, Duque de Bragança, é o rosto e a voz dos monárquicos portugueses. Aceitou dar uma entrevista quando o risco de acabar o feriado do Dia da Restauração se tornou bem real. Era o palco principal das celebrações dos adeptos da Monarquia que, assume. Já "são 30% da população". Dom Duarte discorda. Para ele o perigo continua a vir de Espanha.
 
Choca-o o fim deste feriado? - Acho que se podia juntar o feriado de 10 de Junho ou o 1 de Dezembro, porque o dia de Portugal foi escolhido um pouco arbitrariamente. Foi o Camões, como poderia ser o Nuno Álvares... Celebrando o Dia de Portugal a 1 de Dezembro - um feriado criado na 1ª república - celebrava-se a Independência. Porque a mensagem que se passa ao não se celebrar a Independência é a de que o assunto não tem importância. Se quiserem entregar-nos a Espanha, porque não?
 
Há risco dessa interpretação? - Claro que sim. Faz parte de uma campanha que dura há muito de que Portugal não tem viabilidade e que mais vale sermos espanhóis.
 
Sabe a origem da campanha? - Há interesses económicos de empresários que vêm vantagens nessa associação. Há interesses ideológicos, que vêm desde os revolucionários de 1910. Há uma corrente iberista que vai passando a sua mensagem. As pessoas tentadas por estas ideias deveriam visitar a Catalunha, o país Basco, a Galiza e ver como é bom ser dominado pelos castelhanos!
 
Uma coisa é a nossa colaboração - e eu gosto imenso de Espanha e da Família Real - mas temos de tratar os espanhóis em pé de igualdade. Quando eles começam a mandar noutros povos são sempre problemáticos.
 
Os perigos não vêm antes de França e da Alemanha? - Não acho. As empresas alemãs em Portugal são excelentes exemplos. Os empresários espanhóis são completamente diferentes. O problema não é esse. Nós achámos que éramos ricos como os alemães, comecámos a gastar como eles e até mais. Agora, temos de pagar. A culpa não é de modo nenhum da senhora Merkel. A culpa é nossa.
 
Não vê a crise europeia o risco de invasão da soberania? - Só quando pagarmos o que devemos recuperaremos esse tipo de soberania. Os países mais bem governados acham que somos um bocado irresponsáveis, que não nos sabemos governar.
 
Concorda? - Fomos muito irresponsáveis,  de facto. Tentei sempre contrariar os excessos de autoestradas, a Expo, o CCB, uma grande quantidade de coisas que se estava mesmo a ver não íam produzir riqueza. Toda a gente achava que não tinha razão. Contrariei quanto pude a entrada no euro,  porque não tinhamos competitividade para isso. A verdade é que os países que não estão no euro, no geral, estão melhor.
 
O fim do 1º de Dezembro tira-lhe o espaço de intervenção? - Não quero ser como os profetas que acabaram apedrejados por estarem sempre a dizer coisas muito chatas... Há uma parte da população que me ouve. Ouvem-me os adeptos da Monarquia e esses serão cerca de 30%, dizem as sondagens. Esse alertar para os problemas nacionais e propor soluções positivas sempre poderei fazer.
 
Há monárquicos no governo? Ouviram-no sobre isto? - Há vários, até inscritos em organizações. Mas não fui ouvido sobre este tema, embora já tenha contactado com membros do Governo e tenha tido conversas muito interessantes com o primeiro-ministro.
 
A supressão de feriados é necessária? - Não sei. Acho que podia ser uma medida provisória, até a situação económica estabilizar. O que acho muito mau para a produtividade são as pontes. Foi um hábito que se criou que é francamente desaconselhável.
 
Vê uma saída para esta crise? - Depende. Como não temos moeda para desvalorizar, só pode ser com medidas duras. Mas é preciso que sejam justas e que não haja grupos que fiquem de fora dos sacrifícios.
 
A população percebe a necessidade destas medidas? - Há aquele ditado popular de "o que tem de ser tem muita força". Mas é preciso explicar. E há que dar exemplos. É importante consumir produtos nacionais. Digo isto há anos. Os particulares ainda ligam alguma coisa. O Estado não liga nenhuma: veja os carros que compram! Importam materiais e mão de obra para as grandes obras públicas!
 
NÃO À REVOLUÇÃO
 
Os portugueses vão contestar a austeridade? - As pessoas estão suficientemente informadas para perceberem que a revolta não leva a nada. O que resolve é essa capacidade portuguesa para o desenrascanço.
 
Soares disse que poderá haver uma revolução... Está a voltar aos seus tempos heroicos da revolta. É muito jovem de espírito e como se revoltou para implantar a democracia, acha que estamos na mesma. Só que o regime não democrático estava economicamente muito bem e os revolucionários de 74 puderam ser generosos com o dinheiro que a 2ª república acumulou. Acho que foi Tatcher quem disse que o socialismo era a arte de ser muito generoso com o dinheiro dos outros.
 
Precisamente por essa falta de dinheiro, podia dar-se uma revolução... Não vejo sinais. O marxismo-leninismo está completamente fora de moda, ninguém acredita nisso. Nem mesmo em Cuba... Há um lugar onde o socialismo e até o comunismo funcionam muito bem, que são os conventos. Aí divide-se tudo, partilha-se tudo. Mas é voluntário.
 
Rosa Pedroso Lima, Expresso de 03 de Dezembro de 2011

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