sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

1 DE DEZEMBRO DE 2011 - O BALANÇO


Chegaram ao fim as comemorações do dia 1 de Dezembro de 2011, pela última vez, ao que parece, dia feriado para todos os portugueses. O que podemos dizer acerca destas comemorações?

Em primeiro lugar, lamentar pelo fim do feriado. Ao contrário de muitos monárquicos, que bateram palmas à mudança dos feriados pelo simples facto de o 5 de Outubro deixar de ser feriado, eu lamentei essas alterações. Sempre defendi que extinguir feriados por causa da produção nacional não levaria a nada enquanto o Estado procurasse, com isso, contornar outras medidas que teriam mais efeitos positivos na nossa economia se fossem levadas a cabo. Uma dessas medidas, que apontei, foi extinguir de vez as pontes e tolerâncias de ponto, que são fruto da preguiça portuguesa e não de um qualquer feriado. Mas não sou eu quem decide e é com pena que vejo os monárquicos ficarem a perder com a mudança dos feriados: perdem o 5 de Outubro, que evocava o Tratado de Zamora para nós, tal como devia ser para todos os portugueses; perdem o 1 de Dezembro, que evoca as lutas para manter a independência conseguida em Zamora. Somos, agora, de facto, o único país que conheço que sabe os dias exactos dos momentos que marcam a sua independência e que não os comemora ou evoca com um feriado. Um sinal importante de como, em Portugal, por meia dúzia de tostões, se passa por cima da História, e eu só posso lamentar isso.

Em segundo lugar, a mensagem de D. Duarte no dia 1 de Dezembro. Depois de analisada atentamente, o que podemos dizer é que pode ter sido dos discursos mais significativos do nosso Chefe da Casa Real até à data. Dá uma grande quantidade de sugestões, tanto aos monárquicos, quanto à generalidade dos portugueses. Importantes são as medidas que SAR propõe, muitas delas antigas bandeiras que defende há anos, mas que raramente congrega num único discurso. Mas mais importante ainda parece-me ser o tom assumido por D. Duarte, que falou como um líder político e não como um príncipe. Uma mudança de tom que, espero, seja um primeiro passo para uma mudança da postura do nosso Herdeiro do Trono. Na conjuntura política actual, em que o país está descontente e se divorciou da República e dos seus políticos, é chegado o momento ideal para a Monarquia se afirmar como uma alternativa viável e credível ao que temos instalado. Uma oportunidade como esta não acontecerá muitas mais vezes e, certamente, não durante as nossas vidas. Por isso, acredito ser importante, dada a heterogeneidade do movimento monárquico, que D. Duarte se assuma como único líder monárquico máximo em Portugal, e que, nesse seguimento, assuma uma postura mais proactiva e interventiva, tanto no seio dos monárquicos, tanto na vida política nacional. Isto vai parecer um atentado a muitos monárquicos, que vêm D. Duarte como um rei, imparcial, que não deve dizer ou fazer certas coisas. Mas temos de encarar a realidade: D. Duarte ainda não é rei. Se desejamos isso, e se desejamos assistir à Restauração da Monarquia, devemos dar liberdade ao nosso Herdeiro do Trono, neste momento, para mostrar aos portugueses o que ele é de verdade: um homem de ideias, de visão, de pensamento. E a partir daí, será tarefa dos monárquicos juntarem-se em redor do seu Chefe, num movimento de contestação aos erros do regime republicano que nos levaram ao atoleiro onde a Pátria está enterrada. Assim o desejo, e assim o espero ver.

Em terceiro lugar, o discurso de Luís Lavradio, no famoso Jantar dos Conjurados. Depois de salientar o papel de um monarca como símbolo da história, da continuidade da Nação e da esperança num futuro melhor, o Presidente da Causa Real fala-nos do modo como tenta virar a sua organização para o futuro. Justifica o facto de o website da Causa Real estar, desde há vários meses, “em construção”, com a ambição do seu projecto de comunicação online. Nada contra, da minha parte. Lamento é a morosidade do projecto e do website, talvez por, como frisou Luís Lavradio, serem “todos voluntários”. O que mostra mais uma vez o amadorismo da estrutura monárquica, que a demarca de um movimento político mais forte, que tem, esse sim, um staff de profissionais a agilizar as coisas. Por aqui não vamos lá. Na política do século XXI, a disponibilidade e o voluntarismo individual são sempre bem-vindos, mas para certas coisas, temos de contar com profissionais. E se não há verbas na Causa Real para isso, porque não cobram aos que, sistematicamente, não pagam as suas quotizações? Churchill certamente que aprovaria o gesto.

Quanto ao Jantar dos Conjurados em si, mais uma vez repito: nada contra. Os monárquicos, como outras forças políticas, promovem os seus jantares e convívios desde sempre. Os portugueses sempre falaram melhor de política depois de terem a barriga cheia. Recordem-se as reuniões dos “Vencidos da Vida”, nas mesas do Tavares Rico, em Lisboa, com Eça de Queirós à cabeça. Louvável é a ideia de aproveitar o jantar para fazer mais acções de filantropia. Não podemos, como monárquicos, esquecer quem tem menos possibilidades que nós. É assim que penso e é assim que faço, e fiz recentemente, participando de uma angariação de roupas de criança feita pelo Centro Monárquico do Porto, e que foi já entregue à Caritas do Porto, conforme o CMP já anunciou há umas semanas. Gestos destes, venham de quem vierem, merecem sempre a nossa salva de palmas. O que não merece a minha salva de palmas continua a ser o preço da inscrição nestes Jantares dos Conjurados que, sistematicamente, são feitos em espaços caros e por empresas de catering caríssimas. Mais valia alugar uma sala num vulgar restaurante (muitos há que têm salas próprias para estes eventos) e cada um pedia o que desejasse comer e pagava o seu consumo. Seria muito mais justo, muitos mais monárquicos poderiam participar e certamente muito mais dinheiro seria arrecadado nestas acções de filantropia. É assim que deve ser: sem elitismos, sem preços exorbitantes, com mais monárquicos, unidos sob a sua bandeira, à mesa com o seu Chefe, numa verdadeira festa azul e branca. Ou será que a organização (Causa Real e RAL) tem medo que o mais popular monárquico vá arrotar e comer com as mãos para a mesa real?

Por falar em jantares… no passado dia 25 cumpriu-se, como anunciado, o jantar da Real Associação do Porto, no Hotel Porto Palácio, com a presença de SS.AA.RR. o senhor D. Duarte e a senhora D. Isabel. Precisamente no dia de aniversário do Infante D. Dinis. Tal como em Lisboa, o preço foi puxado para quem foi ao jantar, o que merece, como no caso anterior, a minha total reprovação. Com isso, a RAP, em consonância perfeita com a RAL e a Causa Real, continua apostada em passar aos portugueses a ideia de que ser monárquico é ser chique, é ser rico, é ser aristocrata, é usar anel de brasão no dedo mínimo, é viver numa vivenda de 8 quartos, é conduzir BMW ou Mercedes, é ser advogado, professor universitário, latifundiário, médico, doutor ou engenheiro. Perante acções deste calibre, concluo que há monárquicos de primeira e monárquicos de segunda e terceira, e que nem todos os monárquicos, mesmo os mais leais, são gente capaz para se poder sentar à mesa num jantar com SAR.

De igual modo, reprovo a RAP pelo secretismo que rodeou esse jantar, do qual não tivemos acesso a uma única fotografia, e tampouco às palavras que D. Duarte proferiu nesse jantar. Partindo do princípio, inocente e honesto, de que a RAP não mentiu às pessoas, e de que SAR compareceu de facto ao jantar, como havia sido anunciado, entendo que a obrigação da RAP era divulgar as fotografias em que figura o nosso Chefe da Casa Real, bem como as palavras que proferiu. E entendo-o por achar, como qualquer monárquico, que o Rei é de Portugal, e não da RAP, ou da Causa. O Rei é de todos os portugueses. O que diz ou faz D. Duarte não é apenas do interesse de alguns privilegiados endinheirados que podem ir aos jantares caros, é do interesse de todos os monárquicos, aliás, de todos os portugueses. D. Duarte é o Chefe da Casa Real do meu país, e eu, como monárquico, exijo às instituições monárquicas a divulgação das fotos dos eventos onde ele vai, e das palavras que ele diz nesses eventos. Porquê? Porque me interesso por tudo aquilo que SAR diz e faz como Chefe da Casa Real, mesmo quando o preço é tão elevado que eu não tenho dinheiro para poder comparecer e poder ouvir e ver pessoalmente o homem que vejo como o meu rei.

Perante estes dois jantarinhos caros, onde os “monárquicos de primeira” (vulgo, os senhores doutores, engenheiros, cavaleiros, condes e barões) se reuniram para festejar o 1 de Dezembro, e onde os “monárquicos de segunda” (vulgo, o povinho pobretanas e sem maneiras à mesa, que tanto incomoda os “monárquicos de primeira”) foram automaticamente excluídos por falta de indumentária (no jantar da RAP exigiu-se fato ou casaco) ou de dinheiro, e perante o secretismo que rondou o jantar da RAP, eu apenas concluo que tanto snobismo e secretismo apenas mostram uma realidade: a Causa Real e as Reais (principalmente a do Porto) tentam, ao máximo, que a imagem de D. Duarte, bem como a sua augusta pessoa, sejam sua exclusiva propriedade. Querem tornar D. Duarte no chefe de uma elite monárquica, e não dos monárquicos no seu conjunto. Para a Causa, e para a RAP, o rei é “deles”. Não de todos, muito menos de Portugal. Não posso, por isso, deixar de expressar a minha revolta e rejeição a estes gestos.

Mas de facto, existem monárquicos de primeira e de segunda: os monárquicos de segunda são todos os que, como a RAP e a Causa, entendem que o Rei é deles, só deles e apenas deles, e que onde vai ou o que diz interessa apenas a eles. E os monárquicos de primeira, nos quais me incluo sem falsas modéstias, são pessoas que, como eu, entendem que D. Duarte é o Chefe de todos os monárquicos, e a ser rei, será Rei de Portugal inteiro e não de facções. E que entendem, no seguimento dessa maneira de pensar, que o que diz e faz deve ser amplamente publicitado, por interessar a todos, e não apenas a quem organiza os eventos, ou tem dinheiro para lá estar. Tenho dito.

Filipe Manuel Dias Neto.

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