sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

EL-REI D. PEDRO V - O REI SANTO

O Palácio Real das Necessidades está profundamente ligado à história de Portugal no século XIX, tem um bonito lago nos seus jardins a que se dá o nome o “Jardim do Imperador” (D. Pedro IV), aqui neste Palácio viveu a filha do Imperador. Foi a rainha D. Maria II e aqui neste mesmo Palácio nasceu o seu filho EL-Rei D. Pedro V.

Aqui viveram depois D. Luíz I, D. Carlos I e D. Manuel II, enfim as últimas décadas da história da monarquia Portuguesa estão todas ligadas a este Palácio das Necessidades.

Actualmente é a sede dos Negócios Estrangeiros.

Mas de facto hoje irei falar, sobre o nosso 30º Rei, D. Pedro V.

Ele reinou muito pouco tempo, começou novo e acabou muito novo, morreu aos 24 anos.

Durante o seu reinado tudo aconteceu mal, não houvera desgraça que não atingisse o nosso país, tanto no plano interno como externo.

Foram anos de verdadeira tragédia apesar disso, nenhum outro Rei ficou tão profundamente na alma de todos os Portugueses. El-Rei D. Pedro V é o Rei “Santo”, cuja memória é ainda hoje evocada como alguém que estava fora da barafunda deste mundo como uma pessoa superior, sem maldade com uma auréola de prestigio como talvez nenhum outro Rei em Portugal.

E era isto que eu gostava de explicar…como é que é possível com um tempo tão mau um Rei, deixar uma memória tão boa!

A sua mãe D. Maria II casada com Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, irmão do rei dos Belgas, Leopoldo I, e primo do marido da rainha Vitória da Inglaterra, o príncipe Alberto. Teve 11 filhos apenas 7 sobreviveram e faleceu com apenas 34 anos.

Durante o seu curto reinado, passado num dos mais conturbados períodos da nossa história, o das lutas entre liberais e absolutistas, vários acontecimentos históricos se passaram: a Guerra Civil, a revolução de Setembro, a Belenzada, Revolta dos Marechais, a Maria da Fonte, a Patuleia.

Do casamento nasceram:

1. D. Pedro V , que sucedeu no trono;

2. D. Luís, duque do Porto, que em 1861 sucedeu a seu irmão;

3. D. Maria. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 4 de Outubro de 1840, tendo falecido no mesmo dia;

4. D. João. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 16 de Março de 1842, e faleceu no Palácio de Belém em 27 de Dezembro de 1861. Era Duque de Beja e de Saxe Coburgo Gotha;

5. D. Maria Ana. Nasceu no Palácio das Necessidades, a 21 de Agosto de 1843, e faleceu em Dresda, a 5 de Fevereiro de 1884. Casou em Lisboa, a 11 de Maio de 1859, com Frederico Augusto (1832-1904) que foi rei da Saxónia, com o nome de Jorge III. Com descendência;

6. D. Antónia. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 17 de Fevereiro de 1845, e morreu em Sigmarinen, a 27 de Dezembro de 1913. Casou em Lisboa, a 12 de Setembro de 1861, com Leopoldo Estevão Carlos (1835-1905), príncipe de Hohenzollern. Com descendência;

7. D. Fernando. Nasceu em Lisboa, no Palácio de Belém, em 23 de Julho de 1846, e faleceu no Palácio das Necessidades, a 6 de Novembro de 1861, estando sepultado no Panteão Real de S. Vicente de Fora.

8. D. Augusto. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 4 de Novembro de 1847, e faleceu no mesmo local a 26 de Setembro de 1889.Está sepultado no Panteão Real de S. Vicente de Fora. Foi duque de Caminha e de Saxe-Coburgo-Gotha;

9. D. Leopoldo. Nasceu em Lisboa, no Palácio das Necessidades, a 7 de Maio de 1849, tendo falecido no mesmo dia;

10. D. Maria. Nasceu no Palácio das Necessidades, em 3 de Fevereiro de 1851, e morreu no mesmo dia.

11. D. Eugénio. Nasceu no palácio das Necessidades, a 15 de Novembro de 1853, e faleceu no mesmo dia.
No Palácio das Necessidades a sala de D. Maria II é muito ilustre porque foi aqui que nasceram todos os seus filhos, 2 deles Reis de Portugal e foi aqui também que D. Maria II morreu durante o parto de D. Eugénio a 15 de Novembro de 1853.

Neste quarto foi onde nasceu D. Pedro V, e morreu, como também foi o mesmo quarto da sua Lua-de-mel com princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen da casa real da Prússia com 22 anos ambos.

Ainda hoje é visível no mesmo quarto nas bandeiras das portas os escudos que D. Pedro V mandara gravar como sinal do seu amor. É a única coisa que hoje nos recorda a presença do casal Real nesta Sala.

Foi um curto casamento (1858), durou apenas 14 meses, porque D. Estefânia apanhou uma ponta de sol, ao qual não estava habituada e arranjou uma Angina Difetérica, é claro nesta altura a medicina não tinha forma de a curar e ela morreu.

Mas morreu com estas palavras sua Alteza Real “Consolem o meu Pedro”era o seu marido que ia ficar viúvo. Aprendera Português porque D. Pedro V fizera questão que a sua Rainha falasse a sua língua. No entanto não foi possível consolar o seu Pedro, depois da sua morte, o seu Pedro mandou fechar todas as janelas do Palácio e este ficara numa escuridão completa e era aqui na treva, da saudade e nesta angústia permanente que El-Rei de Portugal passou os 2 últimos anos da sua vida.

E isto é muito dramático.

Mas ainda mais dramático é o seu Reinado!

O reinado começou sobre o signo do luto, a mãe de D. Pedro V era a Rainha D. Maria II que morreu no parto do seu 11 filho e espantou Portugal, era muito estimada a Rainha e ninguém esperava um final tão trágico. O filho mais velho tinha apenas 16 anos era uma idade que não permitia ser Rei porque a Lei, só admitia aos 18 anos.

Então sucedeu-se um período de regência em que foi regente o Rei D. Fernando, o Rei viúvo, esses 2 anos são efectivamente bons para Portugal, tudo corre bem, o Rei era muito estimado.

Até que em 1855 D. Pedro V perfaz 18 anos. Começa a reinar e logo sobre o país acontece uma calamidade pavorosa, um grande epidemia de Peste a febre-amarela, as pessoas morrem às centenas todos os dias em Lisboa.

Lisboa aterrada de gente, despovoa-se, toda a gente tem uma maneira de sair, seja de comboio, ou de barco, vai para uma quinta de familiares ou vai para a outra margem do Tejo simplesmente.

Lisboa ficara então uma cidade “Fantasma”, só com os Agonizantes e com o Rei, porque o Rei recusou-se a abandonar a cidade, onde os Portugueses sofrem e morrem e mais do que isso, contra a opinião e pressão de todos os seus conselheiros que lhe dizem “saía daqui majestade…porque isto é altamente contagioso é mortal”. El-Rei D. Pedro V vai aos hospitais ver os homens que já estão nos últimos instantes de vida e ergue-lhes a cabeça no braço e diz-lhes “eu sou El-Rei de Portugal, venho aqui e não queria deixar de o ver, e queria desejar-lhe muitas melhoras…são maus bocados mas tudo passa…tenha esperança” e os enfermeiros e médicos com as suas batas brancas franzidos atrás das portas sem sequer ousarem aproximar-se daquele Rei, Temerário que desafiava a morte.

É claro o Rei não morreu, mas isso ficou profundamente na alma Nacional. ~

Um Rei que acima da sua segurança pessoal da sua saúde, punha o Amor pelos Portugueses sobre as quais ele governara.

Isto é logo no 1º ano do seu Reinado, logo a seguir vem a 2ª epidemia a “Cólera-morbo” que mata ainda mais gente e El-Rei continua Imperturbável, continua a assistir aos moribundos, a acompanhar os enterros, a ver o abrir das covas

Entretanto a vida dos Portugueses tinha tremendas dificuldades quer cá dentro quer lá fora.
  • “O ano das 3 desgraças, Lisboa 12 Abril de 1856, chuvas torrenciais durante 3 meses a fio destroem sementeiras; Tremor de Terra que destruiu o sul do Algarve”
  • “Os históricos alternam com os Regeneradores, Lisboa 6 Junho de 1856”
  • “Relatório do Commissario Regio para a Commissão Imperial”
É nesta altura que aparece uma questão irritante, são os tais casos políticos, que se inventam, que no fundo não tem importância nenhuma, mas que são explorados de uma maneira que acaba por totalmente dominarem a vida Politica Nacional. Foi a questão das “Irmãs da Caridade”.

As Irmãs da Caridade (ordem fundada em França, em 1633, por S. Vicente de Paulo) chegaram a Portugal em 1819, vindo outro grupo francês em 1857, devido às epidemias de cólera e febre-amarela no País. Tinham objectivos assistenciais e educativos. A sua presença, porém, causou grande celeuma política em Portugal. Assim, na fragata Orénoque, enviada pelo imperador francês Napoleão III a pedido de D. Luíz I, embarcaram de Lisboa com destino a França, a 9 de Junho de 1862, cinco religiosas de S. Vicente de Paulo, que trabalhavam em obras de caridade no nosso país, na sequência da acesa discussão na sociedade portuguesa sobre o congregacionismo.

Esta discussão, mantida entre 1858 e 1862, transcendeu o simples facto de se debater a presença destas religiosas francesas em Portugal, pois motivou uma disputa religiosa entre clericais e anticlericais, isto é, entre absolutistas e liberais. Dentro da própria elite política havia divisões. Os deputados do Partido Histórico tentavam expulsar as religiosas, enquanto os deputados do Partido Regenerador aceitavam a sua presença no nosso país.

mas isto é um regresso ao passado…temos outra vez um país de freiras e dos frades, isto não pode ser...”

Os jornais publicaram dezenas de artigos, houvera comícios com milhares de pessoas, abaixo assinados com milhares e milhares de assinaturas.

As freiras eram apedrejadas, correram perigo de vida.

Inventaram-se as maiores Obscenidades…haviam canções populares grosseiras e isso originou um problema terrível com a França. O Rei não sabia o que fazer era evidente.

O Rei achava que as irmãs, só estavam aqui, para fazer bem e por outro lado percebia a importância do movimento político, um movimento que estava a alarmar o mais profundo da consciência popular Portuguesa que era, o muito anticlerical.

El-Rei D. Pedro V acabará por falecer sem decidir o que fazer.

Hoje esta questão surpreende-nos pelo que tem de pequenino mas mostra como a politica pode fazer de uma insignificância um assunto que perturba e mobiliza completamente as forças da consciência popular, e isto foi um dos grandes dramas do reinado do Rei D. Pedro V.

Logo nós tratando assim mal as 5 velhas Francesas, poderá estar “Relacionado” com a forma brutal Indígena verdadeiramente Infame como o governo Francês tratou o caso da “Barca Charles et George”.

A questão é esta, no tempo do Rei D. Pedro V estávamos em luta contra a escravatura. “Lisboa, 29 de Abril de 1859 colonos contra escravatura”. Nas províncias Portuguesas de toda a parte era rigorosamente proibido vender escravos, fazer tráfico ignóbil de vender criaturas humanas nossos irmãos e vende-las como se fossem gado.

E portanto todos os navios de guerra Portugueses e todas as autoridades tinham ordem para não permitir a venda de negreiros.

Acontece que em Moçambique as autoridades viram o barco “Charles et George” que tinha a bordo 120 pretos amarrados de pés e mãos.

As autoridades disseram ao capitão “então quem é que lhe dá autoridade de comprar escravos”…o Capitão responde “eles são voluntários”…as autoridades “mas tem as mãos e os pés atados”…capitão “eles é que pediram”

Deu-se então a volta ao navio e foi evidente que era um negreiro a comprar escravos para as províncias Francesas. O navio foi apreendido o capitão preso, segundo a legislação internacional e aparece o governo da França nessa altura era o Napoleão III.

Que intima o governo de Portugal a respeitar a bandeira Francesa. “não senhora, aquele capitão de navio não estava nada a fazer trafico de escravatura…isso é uma infâmia, um francês não faz escravatura” “o governo de Portugal tem de respeitar a verdade francesa e a bandeira francesa”.

Bom os Portugueses tinham como ministro do ultramar o “marques Sá da Bandeira” nessa altura visconde.

E respondeu com os documentos todos, “está aqui a prova de tudo, isto é um facto absolutamente evidente!” “Era um negreiro odioso que tinha comprado aos Régulos Africanos 120 homens”.

Mas ainda assim o governo francês, insiste na sua inocência e nós por esta altura não tínhamos nenhum dos nossos aliados (Inglaterra), que viessem em nossa ajuda…e o governo francês acaba de enviar uma nota…
“ou vocês restituem o navio e põem o capitão, Étienne Mathurin Rouxel em liberdade e lhe pagam uma quantia de 239 045 francos ou uma esquadra francesa entra no Tejo e fará reinar a justiça ditada pela França pela força das armas.

Imaginem a violência e o sofrimento que isto causou no povo Português, foi preciso ceder, claro contra a força de uma esquadra francesa nós não tínhamos armas, éramos um pobre país à mercê da França que era a principal potencia militar da Europa, foi preciso pagar-lhes tudo o que queriam, entregou-se o negreiro e nós tivemos de engolir essa afronta e El-Rei D. Pedro V assistiu a tudo isto angustiada mente.

Voltando agora a falar do Palácio das Necessidades o salão nobre que ao mesmo tempo era o salão do trono (móvel) onde os vassalos vinham prestar a homenagem ao Rei, ajoelhavam e beijavam a mão da sua majestade.

D. Pedro V, acaba com isso, diz “ajoelhar….1 homem só se ajoelha perante Deus, que está acima dele, todos os outros homens são irmãos”, “ ninguém tem de ajoelhar-se diante de ninguém”e “beijar a mão…isso pode-se beijar a mão a um pai a uma mãe…agora eu não sou pai dos Portugueses…sou irmão deles” “portanto mais ninguém me vai beijar a mão” “um português que estime outro Português aperta-lhe a mão é com um leal aperto de mão que exprime a sua amizade”.

Este é o Rei que no salão nobre do Palácio suprime a flexão dos joelhos e o beija-mão Real Secular pelo aperto de mão democrático, que reina até hoje.

Eu penso que isto sejam factos importantes que nos ajudam a dar uma ideia clara de quem era e foi este Rei de Portugal.

Mas realmente as condições políticas do tempo em que se vivia são muito perturbadas e embora ele tivesse muitos irmãos, a certa altura os Príncipes começam a morrer!

Não se sabe bem porque, ou era uma febre muito grande, uma dor, uma cólica muito forte, os médicos vêem mas não há nada a fazer…e o príncipe morre.

Depois é ele próprio que morre a 11 de Novembro de 1861 (24anos) com febre tifóide.

Apenas escapou D. Luíz porque era oficial da marinha e andava longe, no navio, nessa altura vem com o seu navio, ainda não havia telegrafo, e quando entra na barra do Tejo e as autoridades o vêem cumprimentar a bordo, dizem-lhe “Vossa majestade” a 22 de Dezembro de 1861, pondo fim a uma regência de 72 horas assegurada pelo Rei D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha.

E é aqui nesta altura que D. Luíz comandante com os seus galões de capitão-de-fragata diz “vossa majestade”, “que ideia essa” … “majestade é o meu irmão”, “devo-lhe dizer sua majestade, seu irmão acaba de falecer o reino de Portugal é de vossa majestade”, é desta forma que começa o seu longo reinado.

Perante a morte dos Príncipes e do Rei, à uma grande insurreição popular porque o povo amava verdadeiramente aquele Rei. O Palácio foi invadido quiseram matar porque puseram suspeitas a pairar…quem é suspeito…de certeza foi esse “Costa Cabral”, não Costa Cabral não foi…de certeza que foi o “Duque de Loulé”… Bom arranjavam com que toda a gente de quem não gostavam, tinha a cabeça a prémio, assaltaram casas, destruíram mobílias, incendiavam, perseguiam pessoas, o governo teve de fugir pelas traseiras do Palácio do ministério porque o povo indignado queria vingar o seu Rei.

É claro que El-Rei D. Pedro V ficou para sempre na alma Popular.

Foi este mesmo Rei que fundou o curso superior de letras que é o antepassado da faculdade de letras de Lisboa, foi ele quem escolheu os professores e ele próprio Rei, saía do Palácio Real e ia com frequência ouvir as aulas dos “Lentes”.

Sobretudo a de um professor que falava muito bem e dava umas belas aulas de história que era o historiador “Rebelo da Silva”.

Rebelo da silva fala do Rei e descreve o seu falecimento desta forma: “na tarde de 11 de Novembro às 7horas solta em fim dos laços do desterro, levou a unir-se aos que chorava uma das mais formosas almas que enobreceram a púrpura Real, honrando este século e humanidade”.

Seria isto uma transcrição Real e geral do sentimento que tomou o País após a morte de um Rei com 24 anos?

Se ele tivesse uma vida longa qual seria o seu destino?

Era um Rei que não se contentava com o vão título de reinar, presidir aos destinos nacionais.

Não ele intervinha pormenorizadamente, queria saber tudo, dava a sua ideia, concelho e punha a sua opinião, escolhia os seus ministros, afastou o Fontes Pereira de Mello de que não gostava.

Ora bem os tempos já não eram para isso, o Rei tinha uma função já meramente passiva e ele não agia de acordo com esse espírito da constituição, foi realmente esse intervencionismo activo, esse querer saber de tudo que perdeu EL-REI D. Carlos I e levou-o ao Regicídio.

Acho que morreu a tempo D.Pedro V.

Deixou na alma Portuguesa esta ideia de um formoso espírito que como um anjo da guarda dirigiu os destinos de Portugal durante apenas 6 anos.

 
Chegada a Lisboa da Rainha Dona Estefânia a bordo da corveta Bartolomeu Dias 1859.

 
 
Interior de Negreiro


 
Charles et Georges


 
Napoleão III


 
Mapa de Lisboa - a amarelo o impacto da Febre amarela


 
Caricatura da época da Febre amarela



 
Personal flag of King Peter V of Portugal (1853-1861)

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