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É neste contexto confuso de crise do Euro e da Europa que a sr.ª Angela Merkel e Nicolas Sarkozy enviaram, a 7 de Dezembro, uma carta ao sr. Herman van Rompuy, e não aos Governos da EZ, com as propostas das medidas que entendem dever ser incorporadas em um novo Tratado Europeu, a debater na Cimeira Europeia de 8 e 9 de Dezembro.
Esta iniciativa da dupla de governantes que tem agido como o diretório da EZ surge num momento em que a moeda única europeia e as economias dos países que a compõem vacilam fortemente, devido a múltiplos factores; a grande crise iniciada em 2008: a especulação sobre as dívidas soberanas de todos os países da EZ, e já não só de Portugal, Irlanda e Grécia; a compra especulativa do euro pelos fundos financeiros internacionais, nomeadamente norte-americanos; e as políticas europeias que, tal como nos EUA, têm seguido o princípio de socializar as perdas e privatizar os lucros.
No nosso país, que faz parte do clube dos devedores da EZ na, é escassa e confusa a informação que nos chega sobre a posição do nosso Governo nestas matérias, e que contrapartidas o mesmo pretende apresentar na mesa das negociações da Cimeira, hoje e amanhã.
Face a esta situação, considera o Instituto da Democracia Portuguesa que a situação de emergência não pode ser pretexto para não sermos informados pois em Democracia, exige-se escrutínio permanente para as decisões que comprometem o país.; sem ele, piora a qualidade da decisão política e cresce um vazio de participação sempre preenchido por movimentações oportunistas e perturbadoras da coesão social. Iremos mesmo assim, pronunciarmo-nos durante e depois da Cimeira de e amanhã.
1. A carta ontem publicada pelo diário francês Le Monde, estabelece que todos os estados membros da UE, mas em particular da EZ, devem sujeitar-se ao limite de endividamento que é de 3% do PIB. O ponto decisivo que a Carta não esclarece são os detalhes e as metas calendarizadas de transição para o acatamento desta regra, a partir da situação presente de incumprimento; e lembramos que o primeiro país da EZ a incumprir foi a Alemanha, o segundo a França e o terceiro Portugal.
2. A carta prevê sanções automáticas em caso de não-conformidade com a regra de déficit, exigindo-se uma maioria de 85% para suspender a aplicação dessas sanções. Considera o IDP que este automatismo é insólito e atrevido, uma vez que a Europa só alcançou resultados duradouros mediante soluções consensuais. Parecem-nos insuficientes estas disposições para julgar em caso de litígio sobre a ilegalidade de orçamentos nacionais.
3. A carta indica que a participação futura do Setor Privado em resgates financeiros seguirá as regras do FMI. O Acordo com a Grécia continua válido, mas é considerado um caso a não repetir, de modo a evitar os eventos de crédito que lhe estão associados. Considera o Instituto da Democracia Portuguesa que esta continuada ternura para com a banca privada, não é um sinal positivo para a regulação do capital financeiro internacional.
4. A carta pretende que as disposições do novo Tratado estejam prontas em Março de 2010 e que o Mecanismo Europeu de Estabilidade (SME) se inicie em finais de 2012. Perante a crise do euro, pode-se pensar que estes prazos são demasiados longos, porque os ataques especulativos à moeda única e às dívidas soberanas continuam em força.
5. A carta pretende que os chefes de Estado e de Governo reúnam cada mês, para o governo económico da ZE. Como todas as informações apontam para que dentro, de um ano, os EUA estejam a braços com um desastre de proporções equivalentes ao da Eurozona, considera o IDP que estas medidas mensais de concertação são um caso típico de “demasiado pouco e demasiado tarde” e que melhor seria uma decisão firme e consensual imediata.
6. Finalmente, a carta do directório franco-alemão não indica sequer a possibilidade de euro-emissões que, segundo muitos, é única forma de a Europa mostrar coesão na crise presente. O Instituto da Democracia Portuguesa não aceita a narrativa que os países do “Norte” são estados virtuosos que, para emprestar dinheiro aos “irresponsáveis” do Sul têm de se munir de “garantias”, mormente um regime de “protetorado” e sequestro da soberania até que as dívidas estejam saldadas. Pelo contrário. Devemos exigir a todos os estados membros, todos eles credores e todos devedores em grau diverso, que acordem na emissão de dívida europeia conjunta porque só assim existirá uma Europa das Nações.
Por tudo isto, a Cimeira Europeia de 8 e 9 de Dezembro precisa de definir os detalhes e a distribuição de papéis dos estados membros; tem de apresentar os compromissos e os objectivos para os próximos anos; tem de definir o que entende por resolução dos problemas da EZ; tem de apresentar uma estratégia de resolução, as datas e as metas intercalares para alcançar o objectivo final que é estabilizar a EZ.
Há mais de dez anos, com a criação da Eurozona, Portugal alienou uma parte significativa da soberania sem que ninguém nos perguntasse nada. Mercê de uma ilusão bem elaborada, entregámos a credores o nosso presente e uma parte do nosso futuro e dos nossos filhos. Esta situação nunca foi explicada, nem à época nem nos solavancos confusos que até hoje se seguiram. Desta vez, não será assim. O IDP vai continuar a trabalhar para que os Portugueses sejam informados e possam debater o seu futuro na Europa das Nações.
Lisboa, 8 de Dezembro de 2011
A Direção do Instituto da Democracia Portuguesa
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