Chegamos a uma situação de quase ruína…expressa em regressão económica, em eliminação de direitos e rendimentos, em limitações inaceitáveis de soberania, porque o actual regime foi incapaz de se consolidar através de uma estratégia política autónoma.
Ao longo destes 36 anos, a politica desprezou a indispensabilidade de encarar as potencialidades de Portugal no mundo moderno e globalizado. Restringimos as nossas preocupações ao nível da distribuição de rendimentos e das regalias sociais, sem cuidar de as preservar no futuro através do pensamento estratégico de desenvolvimento.
Acreditamos numa ilusão… que pertenceríamos a uma Europa, capaz de garantir o nosso sonho de bem-estar, o nosso novo-riquismo, as nossas necessidades alimentares e a nossa ansiedade consumista crescente.
Esta cegueira de visão estratégica foi fatal para Portugal.
Hoje já se reconhecem os gravíssimos erros cometidos na definição de aplicação dos fundos estruturais que beneficiamos com a nossa adesão à Comunidade Económica Europeia.
Uma boa parte do território nacional (interior) em desertificação ambiental, social e económica galopante, auto-estradas sem rentabilidade possível porque carecem de utentes, escolas abandonadas e novas escolas com despesas de funcionamento e conservação incompatíveis com a melhoria do serviço que as justificaram, hospitais e centros de saúde ingeríveis no aspecto financeiro e na prestação do serviço essencial.
Erramos, porque fomos incapazes de ter pensamento estratégico autónomo, assumindo esse drama de que pertencíamos já a uma outra Nação…como se fosse possível haver uma Nação sem um povo identificado com o novo projecto, homogéneo na sua identidade.
Erramos, porque não pensamos por nós, porque fomos na canção do bandido de uns quantos apátridas.
Assim não o fizeram outros povos, do mesmo projecto…por isso está aí claro, também hoje, a dominância Alemã de novo na Europa, com o suporte subserviente da França.
Acabamos, nesta vergonhosa intervenção externa, que nos vai obrigar a mudar radicalmente de vida e de políticas, sem que tenhamos sequer a possibilidade de pestanejar.
Que esta lição, nos conduza de novo a pensar por nós próprios e nos mobilize a encontrar os projectos e os desígnios que preservem a nossa capacidade de nos auto-governar.
Há sinais de que assim vai ser.
Curiosamente esses sinais não são valorizados na Comunicação Social, apenas ávida da promoção da luta partidária como forma de manter o sistema pelo entretenimento emocional do povo.
O novo ministro da economia, Álvaro Santos Pereira, passa por ser a maior decepção perante as expectativas face ao governo, na perspectiva banal dos analistas políticos da nossa praça…mas é a ele que se deve a primeira alteração substancial na estratégia macro económica, que pode indiciar a viabilidade do nosso futuro.
Trata-se da mudança de agulha nos projectos do TGV e da utilização ferroviária e portuária na sua função decisiva de fomento económico.
A União Europeia já aceitou e garantiu que os fundos previstos serão utilizados para construção de uma via ferroviária mista (pessoas e mercadorias) Sines-Caia, com bitola europeia. Uma importantíssima vitória nacional e uma derrota do centralismo Castelhano de Madrid.
Falta ainda ganhar a segunda batalha. Que a linha que segue de Madrid para França também tenha a mesma bitola…mas agora temos novos aliados para essa guerra…a Catalães e Bascos também convém esta solução.
O porto de Sines passará a ser um importantíssimo pólo de desenvolvimento nacional, por três razões essenciais.
1- Porque passará a ser um porto determinante de importações e exportações de mercadorias do Atlântico e não apenas de acesso de produtos petrolíferos, passando assim para a ser um espaço intermodal de referência nacional, peninsular e europeia.
2- Vinhos e Azeites do Alentejo, passarão a beneficiar de novos mercados (países lusófonos e emigração portuguesa) de uma nova capacidade de competição pelo benefício de terem este espaço de escoamento muito menos oneroso dos custos de transporte e colocação no mercado mundial…dado que muita da reestruturação do olival alentejano foi feita por espanhóis que laboram o produto nos lagares da Andaluzia, esta nova oportunidade de escoamento poderá também assumir o efeito de deslocação para território nacional uma boa parte dos lagares e para a vinha originar uma mais determinada reivindicação na possibilidade de alargamento da área vitícola nacional.
3- Também a nossa dependência e custo das importações sai fortemente atenuada, porquanto a nossa reserva alimentar estratégica será fortemente beneficiada uma vez que passamos a não depender quase exclusivamente do transporte terrestre através dos Pirenéus e nos garante uma outra capacidade negocial com muitos outros países, para além do continente europeu.
É claro que esta mudança radical não é salientada, nem sequer entendida como essencial no quadro do debate político nacional…a mediocridade e traição dos agentes políticos mais influentes assim o determina e a mediocridade da generalidade dos nossos comentadores ao seu serviço assim estabelece.
Pela minha parte fico obrigado a Álvaro Santos Pereira e ao facto de ter atravessado o Atlântico e ter meditado sobre o que este oceano pode e deve vir de novo a nos oferecer, se formos inteligentes e patriotas.
José J. Lima Monteiro Andrade
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