«Emmenez-moi au Portugal; je m’endormirai en France, mais c’ést au Portugal que je veux dormir pour toujours.» - Rainha Dona Amélia
A 25 de Outubro de 1951 foi recebida em Portugal, a triste noticia de haver falecido, em Versalhes, a Augusta e Venerada Senhora Dona Amélia de Orléans e Bragança, Rainha de Portugal.
A Rainha Senhora Dona Amélia, pelo muito amor e afeição que teve a Portugal de que foi Rainha e pelo que muito honrou e tão dignamente serviu a Pátria, bem mereceu todas as honras e homenagens que lhe foram prestadas.
Ela tornou-se justamente credora em todos os corações portugueses que tiveram o prazer de a conhecer. Como que uma respeitosa veneração, todos continuaram a tê-la, na sua memória, como a Rainha de Portugal. Ela era amada e querida por todos.
Não podia o Governo português mostrar-se insensível a tantas provas de amor patriótico e de civismo, dadas por uma Mulher que se encontrava exilada da sua amada Pátria.
Foi enviado a França o NRP Bartolomeu Dias, para trazer o seu corpo para Portugal, missão confiada ao Exmº Capitão-de-Mar-e-Guerra, Oliveira Lima ao 2º Comandante Aragão e ao Reverendo Padre Correia da Cunha. Foi no dia 26 de Novembro de 1951, que a urna com os restos da Rainha D. Amélia Rainha de Portugal foi transportada a bordo do navio da Armada Portuguesa, no Porto de Brest.
Dignificou-se o Governo Português em dar fiel cumprimento dos desejos expressos por Sua Majestade, promovendo a vinda para Portugal dos seus restos mortais, que ficariam no Panteão da Dinastia de Bragança, em São Vicente de Fora, junto aos túmulos de Seu Marido e Filhos. Coube a este mesmo Governo, fazer-lhe um funeral nacional, com as honras devidas à Sua dignidade de Rainha de Portugal e de considerar luto nacional o dia 29 de Novembro.
Revestiu-se de grande imponência e da mais esplendorosa solenidade o funeral da Rainha Senhora Dona Amélia, que se realizou oficialmente em Lisboa.
O cortejo fúnebre teve início no Terreiro do Paço, conforme podemos verificar na presente foto. Marinheiros do Bartolomeu Dias, transportando a urna, formavam um cortejo, encabeçado por Padre José Correia da Cunha – capelão da Marinha Portuguesa.
Estas cerimónias tiveram o cunho impressionante da gratidão e da saudade portuguesa, manifestada no comovido recolhimento e no religioso respeito com que muitas centenas de milhares de pessoas, que assistiram à passagem da urna, que encerrava o corpo da excelsa e querida Rainha dos Portugueses.
O povo permaneceu monárquico e apesar duma república imposta, não esqueceu a sua Rainha. |
Foi me testemunhado que, quando a urna foi retirada do Coche para ser conduzida para o templo, uma força militar, formada por soldados de Infantaria 1 deu as descargas da ordem, ao mesmo tempo que os clarins tocavam a sentido. As bandeiras, os estandartes e os guiões baixaram em funeral e uma banda de música executou a marcha fúnebre de Chopin.
Às cerimónias religiosas realizadas na Igreja de São Vicente de Fora assistiram o "chefe de estado" membros do governo, Reis e Príncipes estrangeiros, altas patentes do Exército e da Armada, Corpo Diplomático, altas autoridades civis, Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e outras dignidades eclesiásticas, onde se incluía o Padre José Correia da Cunha.
Antes de se dar início à Missa fez-se ouvir a marcha fúnebre de Schumam, tendo depois a orquestra executado a missa de Perosi.
O Senhor Visconde de Asseca e o Senhor Capitão Júlio da Costa Pinto foram inclusive a bordo do NRP Bartolomeu Dias, agradecer ao Comandante e à tripulação do navio, da armada portuguesa, a forma respeitosa e o serviço religioso, assim como o patriótico recolhimento, com que toda a tripulação do navio se associou ao luto da Nação. Este episódio foi-me relatado por Padre Correia da Cunha, dando a entender que o cadáver de Sua Majestade foi velado piedosamente durante todo o trajecto desde o Porto de Brest até ao Terreiro do Paço, em Lisboa.
No dia que passam 60 anos sobre essa data não poderia deixar de recordar esta última guarda de honra, ou seja, a homenagem saudosa e comovida da dedicação e da lealdade dos seus antigos súbditos.
Embora francesa de origem, tornou-se portuguesa pela afeição à sua Pátria adoptiva, que a ela se prendeu com todos os afectos. Era esta afeição que lhe aprimorava a alma e o coração. Ficou gravada em pedra, no seu túmulo, em letras gravadas a ouro:
AQUI DESCANSA EM DEUS
DONA AMÉLIA DE ORLEÃES E BRAGANÇA
RAINHA NO TRONO, NA CARIDADE E NA DOR.
Legenda simples mas expressiva e altamente honrosa para a memória de tão ilustre, excelsa e venerada Rainha.
Pe. José Correia da Cunha
«Emmenez-moi au Portugal ; je m’endormirai en France, mais c’ést au Portugal que je veux dormir pour toujours.» (Rainha Dona Amélia)
No chatêau de Bellevue, Le Chesnay, perto de Versailles, a Rainha D.Amélia de Orléans e Bragança está frágil e doente.
Encostada nos almofadões, quase sem um gemido: «Sofro tanto!».
Depois deixando transparecer no rosto uma calma infinita: «Deus esta comigo!». Assim murmurava num português suavíssimo.
Eram quase 09h e 30m...nos olhos azuis da Rainha Senhora D.Amélia havia uma lucidez perfeita.
Instantes depois, abrangendo com o olhar os portugueses e franceses que a cercavam, disse, sempre em português: «Adeus. Levem-me para Portugal !»
"MORREU DONA AMÉLIA DE ORLÉANS E BRAGANÇA - A ÚLTIMA RAINHA DE PORTUGAL"
(Clique na imagem para ampliar)
60º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE S.M., A RAINHA DONA AMÉLIA DE ORLÉANS E BRAGANÇA
"MORREU DONA AMÉLIA DE ORLÉANS E BRAGANÇA - A ÚLTIMA RAINHA DE PORTUGAL", noticiava o “Jornal de Notícias” de 26 de Outubro de 1951.
Apesar de esperada, a notícia do falecimento de Dona Amélia de Orleães e Bragança causou profunda consternação em todo o país, registando-se as mais inequívocas manifestações de pesar. Além dos edifícios públicos, muitas casas particulares ostentavam a bandeira nacional a meia-haste.
Em Braga, onde a notícia foi conhecida através dos “placards” do “Jornal de Notícias”, o sr. Presidente da Câmara Municipal, durante a reunião da vereação, pronunciou palavras de homenagem à memória da última Rainha dos portugueses, declarando:
“Curvo-me reverente perante a Sua Augusta Memória, em nome da Câmara e da cidade, cidade que, fiel ao seu nunca desmentido tradicionalismo, vai viver, por certo, com bem funda emoção as homenagens que o país, dirigido por um governo esclarecido que ela tanto apreciava, não deixará com certeza de lhe prestar”.
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