terça-feira, 18 de outubro de 2011

ABIÚL - A VILA ONDE ESTÁ A MAIS ANTIGA PRAÇA DE TOUROS DE PORTUGAL

Abiúl recebeu o seu primeiro foral em 1167 por Didacus Peaiz e sua mulher D. Examena. Em 1175 foi doada ao Mosteiro do Lorvão que vendeu parte da vila a André de Sousa Coutinho, passando mais tarde para os Duques de Aveiro que a fizeram prosperar. Com a sua implicação na tentativa de assassinato do Rei D. José, Abiúl é confiscada e vendida em hasta pública iniciando um período de decadência hoje ultrapassado.
Nos anos de 1561 e 1562, desenvolveu-se na vila uma grande peste, a qual causou a morte a centenas de habitantes, tendo sido nesta altura que os seus moradores fizeram um voto, o qual consistia numa grande festa à sua padroeira Nossa Senhora das Neves, e na qual se registava uma cerimónia que atraía muitos forasteiros no primeiro domingo de Agosto, festa conhecida por Festas do Bodo. No largo onde existia a praça de touros existe um grande forno, o qual se acendia na sexta feira antecedente ao dia da festa, estando o mesmo a arder até ao domingo, dia da festa, e em que se gastavam 12 a 13 carros de bois de lenha, no domingo era então metido no seu interior um bolo (fogaça) no qual se gastavam 10 a 12 alqueires de trigo. Realizava-se uma procissão desde a Igreja até ao forno, em que o Juiz designado para dar a volta ao Bolo, fazia a mesma de costas durante todo o trajecto, junto do andor da padroeira. Antes de entrar no forno, o Juiz com chapéu armado retirava da mão da padroeira um cravo. Entrava no forno com o cravo preso nos dentes e dava três voltas no seu interior, contanto que estivesse preparado com os sacramentos da confissão e comunhão e saía do mesmo, sem ter sofrido quaisquer queimaduras. Tudo isto se passava sob o olhar da imagem da Virgem, colocada em frente ao forno. Esta tradição foi mantida até ao ano de 1913.
É na era seiscentista que aparece a praça de touros, considerada hoje a mais antiga do País. Era dotada de um redondel murado com pedra firme, estando os curros e os alçados das bancadas seguros por grossos troncos de pinheiro. Aquando da realização da tourada, as ruas circundantes eram vedadas por carros de bois e toros de pinho.
As lides foram realizadas nesta praça até ao ano de 1898, ano em foi substituída por uma outra praça, construída com os fundos de uma cotização dos seus habitantes. A nova praça era moderna e adaptada às exigências da lide tauromáquica e foi construída noutro local da vila, encontra-se no mesmo local, actualmente.
Em 1766 registou-se um episódio curioso, com o bispo de Coimbra, D. Frei Miguel da Anunciação, tendo o mesmo excomungado as touradas de Abiúl que se realizavam no dia de celebração das festas em honra do seu orago, Nossa Senhora das Neves. Esta situação provocou um grande diferendo com a população desta vila, o qual apenas foi debelado por um despacho de el-Rei D. José I, no dia 27 de Agosto de 1769, pronunciou el-Rei que: “…para não faltar ao costume e devido culto, que nesta posse se conservam desde tempos que excede a memória dos homens, presidindo a Câmara a todos os actos desta festividade, porém que neste presente ano sucederá que julgando Vós não ser decente outro festejo que não fosse o da Igreja, pretendestes estabelecer que não houvesse touros, nem os costumados divertimentos que vêm em consequência deles… sou servido declarar-vos, que tão dissonante é impedirdes a festa que costuma fazer naquela igreja a Câmara e o povo de Abiul, com excesso e abuso da vossa jurisdição e ministério é proibir directa ou indirectamente os touros e que a uma ou outra coisa vos deveis abster…”, com esta decisão os touros continuaram a ser lidados nos dias de festa em honra da sua padroeira.
No ano de 1758, na noite de 3 para 4 de Setembro, D. José I é vítima de um atentado. Entre os implicados no crime encontrava-se D. José de Mascarenhas, duque de Aveiro e mordomo-mor da casa real, senhor da vila de Abiúl. Foi condenado à morte, no dia 12 de Janeiro de 1759tendo todos os bens da Casa de Aveiro sido confiscados pelo Reino, entre os quais se encontrava a vila de Abiúl. A vila é então vendida em hasta pública.
No ano de 1801 a vila tem 1 771 habitantes.
A partir daí, a vila decaí de importância, e com as Invasões Francesas no ano de 1811, que saquearam e incendiaram a mesma e a peste que então ocorreu, sofreu uma machadada final.
Em 1821 com a reestruturação territorial realizada no Reino, é então extinto o julgado e o concelho de Abiúl e no ano de 1870 a Misericórdia é anexada à de Pombal.

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