domingo, 8 de maio de 2011

O MILAGRE DAS ROSAS

Rainha Santa Isabel, peça da barrística popular estremocense, 
criada pelo jovem artesão, Ricardo Fonseca (Fotografia de Pedro Soeiro).

 Segundo a lenda, a Rainha Isabel de Aragão (1270-1336), esposa de el-Rei D. Diniz (1261-1325) terá saído do Castelo do Sabugal, numa manhã de Inverno para repartir pães pelos mais desprotegidos. Surpreendida pelo monarca, que lhe perguntou onde ia e o que acarretava no regaço, a Rainha teria clamado: “São rosas, Senhor!” Suspeitoso, D. Dinis teria indagado: “Rosas, no Inverno?” D. Isabel expôs então o recheio do regaço do seu traje e nele havia rosas, ao invés dos pães que encobrira.

 A lenda, com algumas variantes, integra a nossa tradição oral desde finais do século XIV, sendo certo que o registo mais antigo conhecido é o do retábulo quatrocentista conservado no Museu Nacional de Arte da Catalunha. Por sua vez, o primeiro registo escrito do “Milagre das Rosas” data de 1562 e encontra-se na Crónica dos Frades Menores, de Frei Marcos de Lisboa:

 “(…) levava uma vez a Rainha santa moedas no regaço para dar aos pobres(...) Encontrando-a el-Rei lhe perguntou o que levava,(...) ela disse, levo aqui rosas. E rosas viu el-Rei não sendo tempo delas“ 

Em meados do séc. XVI, a lenda “O Milagre das Rosas” estava já amplamente disseminada. Dessa época datam o quadro anónimo, conhecido por “Rainha Santa Isabel”, do Museu Machado de Castro, em Coimbra, assim como a afamada iluminura da “Genealogia dos Reis de Portugal” de Simão Bening, baseada em desenho de António de Holanda.

A PRIMEIRA BIOGRAFIA DA RAINHA 

Uma biografia anónima de Isabel de Aragão, conhecida por “Lenda ou Relação”, foi redigida imediatamente após a sua morte, por alguém que de perto com ela conviveu, provavelmente o seu confessor, Frei Salvado Martins, bispo de Lamego, ou então uma das donas de Santa Clara que a assistiram durante o tempo de viuvez. O original da biografia perdeu-se. Todavia, no Museu Machado de Castro, em Coimbra, conserva-se uma cópia quinhentista, manuscrita e iluminada, que tem o título: “Livro que fala da boa vida que fez a Rainha de Portugal, Dona Isabel, e seus bons feitos e milagres em sua vida, e depois da morte.” Nela, o autor refere que:

(…) e por qualquer lugar onde fosse não aparecia pobre que dela não recebesse esmola (…) E em cada quaresma fazia grandes esmolas a homens e a mulheres envergonhados; e no dia que se diz Ceia do Senhor lavava a certas mulheres pobres e leprosas os pés, e lhos beijava, e vestia-as e dava-lhes de calçar e contas por amor de Deus.” 

Na obra, são evocados inúmeros actos de devoção e piedade cristã da Rainha e exaltadas as suas virtudes de caridade e de misericórdia, bem como as numerosas e relevantes obras sociais e o apoio prestado a conventos e congregações religiosas.

 Conforme refere o biógrafo anónimo, a Rainha morreu no Castelo de Estremoz, com 66 anos de idade, no dia 4 de Julho de 1336, de uma doença súbita surgida quando se dirigia para a raia em missão de apaziguamento entre o filho, D. Afonso IV, e o neto, Afonso XI de Castela. Contra o conselho de todos, D. Afonso quis cumprir a tenção de sua mãe ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara. A longa trasladação fez-se sob o sol aceso de Julho e, para assombro de todos, apesar dos grandes calores que se faziam experimentar, o ataúde exalava um perfume tão aprazível que "tão nobre odor nunca ninguém tinha visto", assim se lê na primeira biografia.

As virtudes da Rainha, mais tarde considerada Santa, estiveram na origem da sua beatificação por Leão X, em 1536, com autorização de culto circunscrito à Diocese de Coimbra. Em 1556, o papa Paulo IV, torna extensiva a devoção isabelina a todo o Reino de Portugal. Seria o papa Urbano VIII, dada a incorrupção do corpo e o relato dos milagres, quem proclamaria em 1625, a canonização de Isabel de Aragão como Rainha Santa.

RAINHA SANTA ISABEL, DE RICARDO FONSECA

 No passado dia 22 de Abril, no decurso da FIAPE 2011, foi apresentado oficialmente o Boneco de Estremoz, conhecido por “Rainha Santa Isabel”, vencedor do Concurso de Barrística, com o mesmo nome, promovido pela Câmara Municipal de Estremoz. O vencedor do concurso foi Ricardo Fonseca, um jovem artesão de 24 anos.

 O concurso aberto exclusivamente a artesãos residentes no concelho de Estremoz, visava sensibilizar e incentivar a criatividade e a inovação dos artesãos locais, assim como divulgar a autenticidade dos Bonecos de Estremoz.

 O concurso propunha a criação de um Boneco tendo por nome “Rainha Santa Isabel”, devendo os participantes inspirar-se no “Milagre das Rosas” para a criação da figura.

 O júri que avaliou os trabalhos submetidos a concurso era constituído pelos representantes da Câmara Municipal de Estremoz, Francisco Ramos (Vice-Presidente), José Trindade (Vereador do Pelouro da Cultura) e António Serrano (Chefe do Gabinete de Apoio à Presidência), bem como por Hugo Guerreiro (Director do Museu Municipal de Estremoz) e Domingos Cordeiro (Vice-Presidente do Turismo do Alentejo).

 Nas condições gerais do regulamento, o boneco, confeccionado em barro de acordo com a técnica tradicional dos bonecos de Estremoz, deveria ser pintado nas cores tradicionalmente usadas e ter uma altura compreendida entre 10cm e 25cm, assim como uma base compreendida entre 5cm x 5cm e 13cm x 13cm.

 Os critérios de avaliação seguidos pelo júri e determinados pelo regulamento, foram a originalidade/inovação, a apresentação, a criatividade e a fidelidade no modo como foi representada a Rainha Santa Isabel, assim como o respeito pela tradição dos Bonecos de Estremoz.

 Ricardo Fonseca, o vencedor do concurso será agora apoiado pela Câmara Municipal de Estremoz na divulgação do “Rainha Santa Isabel”, cuja comercialização foi iniciada na FIAPE 2011.

 Estão de parabéns o jovem criador e a Câmara Municipal de Estremoz, que volvidos 675 anos sobre a morte da Rainha ocorrida no Castelo de Estremoz, lhe prestou homenagem de múltiplas formas, entre elas a realização dum Concurso de Barrística que através da figura da Rainha, procura contribuir para a promoção e valorização turística do concelho de Estremoz.

 Hernâni Matos

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