segunda-feira, 16 de maio de 2011

16 DE MAIO, DIA DOS MÁRTIRES DA LIBERDADE


Como dissemos numa postagem anterior, em 16 de Maio de 1828 começou em Aveiro uma revolução liberal, com fortes ligações ao Porto, que pretendia pôr fim ao golpe absolutista de D. Miguel. A tomada de posição do Porto estava prevista para o dia 17, mas, acontecimentos imprevistos, levaram à antecipação para o dia 16.

Na preparação desta revolução destacaram-se os membros da maçonaria local, nomeadamente os elementos da loja maçónica que funcionou em Aveiro, nas instalações da Quinta dos Santos Mártires (junto à capela homónima, na actual Baixa de Santo António), bem como a maior parte dos oficiais do Batalhão de Caçadores 10.

Neste breve apontamento, destacamos: o desembargador Joaquim José de Queirós (avô de Eça de Queirós); o desembargador Francisco José Gravito da Veiga e Lima; o corregedor da comarca Francisco António de Abreu e Lima; Luís Cipriano Coelho de Magalhães, médico e pai de José Estêvão; João dos Santos Resende, negociante e vice-cônsul da Suécia e Noruega, cuja mercearia (na Praça do Comércio, actual Praça Joaquim de Melo Freitas) era um dos pontos de encontro dos constitucionalistas locais; Manuel da Cruz Maia, sacerdote e farmacêutico, com farmácia na Rua Larga (actual Rua de José Estêvão), outro ponto de encontro dos constitucionalistas aveirenses mais radicais; Custódio José Duarte e Silva, quartel-mestre das milícias de Aveiro; Francisco Silvério de Carvalho Magalhães Serrão, fiscal do contrato do tabaco; Manuel Coelho de Moura, capitão reformado; Vicente José de Almeida, capitão de veteranos; os irmãos José e João Henriques Ferreira; o coronel José Júlio de Carvalho, comandante de Caçadores 10; Manuel Maria da Rocha Colmieiro, tenente-coronel de milícias; os irmãos Morais Sarmento (Clemente, Evaristo, João António, António Joaquim e Jerónimo); João de Sousa Pizarro, capitão de Caçadores 10; e dezenas de outros nomes identificados pelo historiador e aveirólogo Marques Gomes (1928, passim).

Entretanto, em Coimbra, alguns filhos de Aveiro alistaram-se no Batalhão Académico, como foi o caso de Manuel José Mendes Leite (3º ano de Leis), Francisco António Resende (4º ano de Medicina), Francisco José de Oliveira Queirós (2º ano de Matemática e Filosofia), Manuel Ribeiro Dias Guimarães (Filosofia Racional e Moral) e José Estêvão Coelho de Magalhães (1º ano de Leis).

A direcção dos trabalhos que levaram a esta revolução coube ao desembargador Joaquim José de Queirós, que viria a integrar a Junta do Porto. A grande maioria dos chefes políticos e militares das forças liberais não se mostraram à altura das suas responsabilidades, condenando este movimento ao fracasso. Restou a fuga, cobarde nuns casos, corajosa noutros, o homizio e o exílio. Fuga cobarde dos elementos da Junta que abandonaram tudo e todos para embarcarem no navio Belfast, em direcção a Inglaterra; fuga corajosa dos chefes militares e de alguns políticos, como o Conselheiro Queirós, que optaram por acompanhar as tropas desmoralizadas, sob péssimas condições meteorológicas, atravessando toda a Galiza, para embarcarem nas costas do Cantábrico, em direcção aos miseráveis barracões que os aguardavam em Plymouth. O exílio ou o homizio duraria até 1832, quando as forças liberais, comandadas por Pedro IV (o imperador Pedro I do Brasil) desembarcaram na Praia de Arnosa do Pampelido, perto do Mindelo, para, passados dois anos de feroz guerra civil, controlarem o País e reinstaurarem o Liberalismo.

Toponímia urbana aveirense:

Foi grande o impacto destes acontecimentos na vida social e política da cidade de Aveiro, o que claramente transparece na respectiva toponímia urbana, se considerarmos o elevado número de arruamentos cujo nome está ligado ao período histórico que vai da Revolução de 1820 à Regeneração. Deixamos aqui o registo desses topónimos:

Rua do Batalhão de Caçadores 10 (antiga Rua da Corredoura), na freguesia da Glória, começa na Praça do General Humberto Delgado e termina na Praça do Milenário. O Batalhão de Caçadores 10, que esteve aquartelado no Convento de São Domingos (de que só resta a actual Sé), foi a primeira unidade militar a manifestar-se pela causa liberal, aquando dos acontecimentos de 1828.
Beco do Batalhão de Caçadores 10, à entrada da rua anterior.

Rua do Capitão João de Sousa Pizarro, na freguesia da Glória, começa na Rua de 31 de Janeiro e termina na Avenida de Artur Ravara. Capitão de Caçadores 10, morreu em 1828, nos combates da Cruz de Morouços.

Praça 14 de Julho, na freguesia da Vera Cruz, começa no Largo da Apresentação e termina na confluência da Rua dos Mercadores e da Rua de Domingos Carrancho. Data alusiva à Tomada da Bastilha, é dia nacional da França.

Rua de Clemente Melo Soares de Freitas, na freguesia da Glória, começa no Cais dos Moliceiros e termina na Rua da Liberdade. Clemente da Silva Melo Soares de Freitas era advogado em Aveiro; na sequência da revolução, a Junta do Porto nomeou-o juiz de fora na Vila da Feira; foi um dos justiçados na forca, em 7 de Maio de 1829.

Largo do Conselheiro Queirós, na freguesia da Glória, Bairro do Alboi, na confluência da Rua Dezasseis de Maio com a Rua Clemente de Melo Soares de Freitas. Joaquim José de Queirós e Almeida foi chefe do movimento liberal de 16 de Maio de 1828, conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, ministro da Justiça.

Rua do Conselheiro Queirós, na freguesia de Aradas, em Verdemilho. Arruamento onde fica a antiga casa (Quinta da Torre), hoje em ruínas, do Conselheiro Queirós. Daqui saía todas as tardes, montado numa jumentinha, em direcção ao estabelecimento de João dos Santos Resende, ponto de encontro e de cavaqueira política dos liberais constitucionalistas.

Rua de 16 de Maio, na freguesia da Glória, começa no Cais do Alboi e termina na Rua de Magalhães Serrão. Lembra a data do início da revolução de 1828, em Aveiro e no Porto.

Rua de Domingos Carrancho, na freguesia da Vera Cruz, começa na Praça de Joaquim de Melo Freitas e termina na Praça de Catorze de Julho. Domingos dos Santos Barbosa Maia, “O Carrancho” (alcunha que lhe veio por ser proprietário de umas terras de cultivo denominadas as “Carranchas”, em Verdemilho. Domingos Maia esteve envolvido nos acontecimentos de 16 de Maio e teve de exilar-se para fugir à perseguição miguelista. Foi tesoureiro da Alfândega de Aveiro, chefe cartista local e presidente da Câmara de 1842 a 1845, período em que trouxe para a cidade a iluminação pública e muitos outros melhoramentos.

Rua do Gravito (antiga Rua de São Paulo), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua de Manuel Firmino e termina na Rua do Carmo. Francisco Manuel Gravito foi fidalgo da casa real, cavaleiro professo da ordem de Cristo, desembargador dos agravos da Casa da Suplicação, corregedor do cível da corte, deputado e conselheiro de Estado por nomeação de D. Pedro IV, datada de 1827.

Rua de João Henriques Ferreira, na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua de D. Jorge de Lencastre e termina na Rua do Dr. António Cristo. João Henriques Ferreira Júnior era um jovem liberal residente em Albergaria-a-Velha, que se alistou no Batalhão de Voluntários D. Pedro IV, formado em Aveiro aquando dos acontecimentos de 1828. Entrou em combate contra os miguelistas entre A-dos-Ferreiros e Talhadas. Tendo fugido para a Galiza, regressou a Aveiro onde acabou por ser preso. Foi enforcado no Porto em 9 de Outubro de 1829.

Rua de José Estêvão (antiga Rua Larga, no troço superior; Largo das Tripas, no troço central; Viela do Açougue ou Rua de Trás dos Mercadores, no troço inicial), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua Viana do Castelo e termina na confluência da Rua António Cristo com a Rua de Manuel Firmino. José Estêvão Coelho de Magalhães participou nos acontecimentos de 16 de Maio, integrando o Batalhão Académico, exilou-se em Inglaterra e dali seguiu para os Açores. Acompanhou depois as tropas de D. Pedro IV, que desembarcaram no Mindelo, destacando-se nos combates do cerco do Porto (1832-1833). Até à sua morte, em 1862, teve uma agitada vida política, sempre na primeira linha da luta pelos ideais da Liberdade.

Rua de Luís Cipriano, na freguesia da Glória, começa na Rua do Batalhão dos Caçadores 10 e termina na Rua de Gustavo Ferreira de Pinto Basto. Luís Cipriano Coelho de Magalhães era médico e pai de José Estêvão; foi membro da loja maçónica dos Santos Mártires e liberal constitucionalista. Teve de homiziar-se na sequência dos acontecimentos do 16 de Maio de 1828.

Rua de Luís Gomes de Carvalho, na freguesia da Vera Cruz, começa na Avenida do Dr. Lourenço Peixinho e termina na Rua do Almirante Cândido dos Reis. Coronel de engenharia e encarregado das obras da barra de Aveiro; foi membro da loja maçónica dos Santos Mártires, em Aveiro, e teve aqui um papel de destaque aquando da revolução de 1820, sendo um dos principais chefes do liberalismo local. Morreu em 1826.

Rua de Magalhães Serrão, freguesia da Glória, começa na Rua dos Santos Mártires e termina na Rua da Arrochela. Francisco Silvério de Carvalho Magalhães Serrão, nasceu em 1774 em Figueiró dos Vinhos. Residia em Aveiro onde desempenhava as funções de fiscal real do contrato do tabaco. Foi um dos principais dirigentes da revolução, tendo sido preso quando se deslocava de barco na Ria de Aveiro, levando consigo muitos documentos que o incriminavam e vinte e cinco armas carregadas, que pertenciam ao batalhão de voluntários que comandava.

Rua de Manuel Luís Nogueira, (antiga Rua do Norte), na freguesia da Vera Cruz, começa na Rua de São Bartolomeu e termina no Cais de São Roque. Nasceu em 14 de Março de 1774 na freguesia de Baltar. Era bacharel em Direito e exercia a profissão de advogado no Porto, quando o governo liberal revolucionário (Junta do Porto) o nomeou juiz de fora em Aveiro, lugar de que tomou posse em 4 de Junho de 1828.

Travessa da Maria da Fonte, na freguesia de Esgueira, começa na Travessa da Patuleia e termina na Rua Vicente de Almeida d’Eça. Lembra a Revolução da Maria da Fonte, em Abril de 1846, contra a política dos Cabrais.

Rua de Mendes Leite, na freguesia da Vera Cruz, começa na Praça de 14 de Julho e termina na Praça de Jaime de Magalhães Lima. Manuel José Mendes Leite integrou o Batalhão Académico em 1826 e 1828. Foi um dos exilados em Inglaterra, tendo acompanhado sempre o seu grande amigo José Estêvão. Foi jornalista, parlamentar e governador civil de Aveiro em três períodos distintos, desempenhando ainda outros cargos de natureza política. Em 10 de Março de 1852 apresentou uma proposta de adenda ao parágrafo 18 do artigo 145 da Carta Constitucional, em que se acabava com a pena de morte por crimes políticos; a proposta foi aprovada e entrou em vigor no dia 5 de Junho do mesmo ano, aquando da promulgação do Acto Adicional à Carta Constitucional de 1826.

Travessa da Patuleia, na freguesia de Esgueira, começa na Rua Adriano Serra e termina na Rua de Dias Cainarim. Lembra as sublevações populares, que tiveram lugar um pouco por todo o País, na continuação dos acontecimentos ligados à rebelião da Maria da Fonte.

Rua do Sargento Clemente Morais (antiga Rua do Sol), na freguesia da Vera Cruz, começa no Largo da Apresentação e termina na Rua de Antónia Rodrigues. Foi um dos justiçados na forca, em 9 de Outubro de 1829, pela sua participação nos acontecimentos do 16 de Maio de 1828.

bibliografia:
GOMES, Marques — Aveiro berço da Liberdade: A revolução de 16 de Maio de 1828. Aveiro: [Câmara Municipal], 1928. 88 p.

Publicado por Rui Paiva Monteiro em "Causa Monárquica"

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