terça-feira, 3 de maio de 2011

CASAS REAIS

A ideia monárquica em Portugal ou, talvez ainda melhor, “realista”, como se diz noutros países europeus,  está condicionada por “cem anos sem rei”, facto que fez desaparecer a vivência directa do que significa ter um chefe de Estado cuja legitimidade assenta na cultura e na história nacionais, e não em processos eleitorais. Por outro lado, a memória desse facto tem vindo a crescer mercê do esforço da convicção dos que nunca desistiram, do que tem revelado a investigação histórica e das novas formas de comunicação das redes sociais digitais.

Entretanto o “feitiço virou-se contra o feiticeiro” porque as criticas à Casa Real portuguesa de há cem anos atrás, viraram-se contra o regime republicano. A crise da dívida externa portuguesa que explodiu com a crise internacional de 2008 parece-se demasiado com a crise de financeira de 1892. A falta de soluções convincentes dos partidos do Bloco Central da 3ª República recorda o empastelamento dos partidos rotativos da Monarquia. E mesmo os gastos da Presidência República Portuguesa são tão superiores em bruto e em termos relativos aos da Coroa espanhola, por exemplo, que todos se interrogam se, em tempo de crise, também daqui não poderá vir alguma solução.

Falta ainda definir claramente na opinião pública como, em Portugal, monarquia e democracia precisam uma da outra. Houve uma manipulação evidente dos ideais monárquicos pelas forças salazaristas desde o Estado Novo e nunca houve uma alternativa muito clara a este “roubo do realismo” . D Duarte de Bragança,  representante da Casa Real Portuguesa, tem dado os passos decisivos ao responder quando lhe perguntam se “foi educado para ser rei”, que “foi educado para servir Portugal”. Esse sentido de serviço, que é o melhor da cidadania, ajuda a explicar a popularidade crescente da ideia monárquica entre uma população farta de ver os políticos “servirem-se a si próprios” em vez de servir o país.

Quanto ao casamento do príncipe Harry (?) Windsor com Kate Midleton, ele significa, a meu ver, mais uma aliança das Casas Reais  com os respectivos povos.  Embora os tradicionais casamentos dinásticos entre monarcas e seus sucessores ainda sejam por vezes apresentados  na “imaginação mediática” como de “sangue azul”, sempre corresponderam a alianças no quadro europeu. Começaram a desaparecer nas monarquias nórdicas desde a década de 80, devido ao sólido posicionamento dos respectivos países dentro da realidade comum europeia, o que dispensa casamentos entre príncipes de nações estrangeiras e reforça os sentimentos de coesão nacional.

Mendo Henriques
Presidente do Instituto da Democracia Portuguesa

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