domingo, 24 de abril de 2011

TRADIÇÃO NÃO É CONSERVAÇÃO

Dada a relevância da matéria, repito sobre a forma de um postal a resposta que dei aqui ao confrade Mats:

Os conservadores de hoje são os revolucionários de ontem. Certas posições conservadoras do passado são vistas como extremistas pelos conservadores do presente. Ou seja, o Conservadorismo não tem outro critério senão o da própria conservação. Os conservadores limitam-se a cristalizar no tempo determinados preceitos e regras de uma dada época. E portanto, sem se darem conta, os conservadores – se bem que estáticos – são também progressistas. A única forma de contrariar isto é através do Tradicionalismo, cujo critério não é fixo, por estar vivo. A Tradição – no dizer de Luís de Almeida Braga – «não é velharia, hábito irreflectido, que apenas consiste em repetir cegamente o que já teve razão de ser e a não tem mais. Isso é inércia, e a tradição é o contrário dela. Não é também sinónimo de conservação, nem a explica o amor das ruínas extáticas, suspensas do beijo melancólico do luar. Para o verdadeiro tradicionalista, inteligente e activo, o Passado é fonte de exemplos e de lições. A tradição é para ele o que durou, o que provou secularmente. A vera tradição exige estudo e reflexão. É crítica. Reúne as forças da terra e do sangue, dos reveses do Passado tira ensinamentos, dos êxitos – modelos. Representa-a o que de positivo nos legaram nossos pais antigos. E esse conteúdo positivo, continuadamente acrescentado no rodar do tempo, torna a Tradição coisa viva, que não cessa de se enriquecer, de progredir. Produto de costumes seculares e de necessidades próprias, assente sobre a observação e sobre a história, a Tradição é força activa que se desenvolve incessantemente. Tradição é continuidade no desenvolvimento, permanência na renovação, como Sardinha gostava de repetir. Direi mesmo: Tradição é selecção.»

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