sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

MOUZINHO DE ALBUQUERQUE

"[...] Oficial de Cavalaria animado de sopro heróico, como o foram os da sua geração militar, tinha ganho as esporas nas campanhas de pacificação em África, onde lhe fora dado aperceber-se do futuro de grandeza destinado a Portugal. Nessas ardentes plagas, em contacto com etnias hostis e sujeito ao impiedoso clima, Mouzinho embalou a alma de soldado e compreendeu que o País não se reduzia às estreitas dimensões da Metrópole. Um destino radioso abria-se à Nação portuguesa nos territórios de África, que se impunha pacificar em proveito dos brancos e nativos, numa onda de crescente progresso material e de aproximação humana.

"A esse escol da juventude pertenceu o vencedor de Chaimite e Macontene, que viveu o sonho de um Portugal euro-ultramarino em vias de realização, ideal partilhado por todos os seus companheiros de armas.

"Na definição de Marcello Caetano, o Tenente-Coronel Mouzinho de Albuquerque tinha assim a grandeza "de um grande construtor imperial". Em 25 de Fevereiro de 1896 viu-se elevado a Governador-Geral da Província de Moçambique, com poderes de comissário régio. Ali executou uma obra de administração pública equiparável à do seu prestígio militar, buscando resolver os problemas sociais, financeiros, económicos e culturais da Província.

No fim de 1897 era chamado a Lisboa para contactar com o Governo. A sua fama de soldado e de político enchia a Metrópole, e se para a opinião pública era motivo de admiração, para a baixa política tinha de traduzir-se em malévolos despeitos. O Decreto de 7 de Julho de 1898, assinado pelo ministro Dias Costa, reduzia-lhe os poderes de comissário régio, o que o levou de imediato a pedir a exoneração. Criticando duramente os políticos, "que não fazem bem nenhum à Monarquia", Mouzinho voltava de Moçambique com a esperança de ainda poder ser útil ao regime: "Se é que ainda há futuro em Portugal! Receio muito que não."

"Com o apoio dos seus conselheiros, D. Carlos recompensaria o herói nomeando-o preceptor e aio do príncipe D. Luis Filipe, funções que exerceu com a maior dedicação. É conhecida a carta que dirigiu ao pupilo em fins de 1898, com experientes conselhos sobre a nobreza da arte de reinar. [...] Impunha-se dar ao príncipe a consciência da realeza":

JOAQUIM VERíSSIMO SERRÃO, História de Portugal, Editorial Verbo, 1987, Vol.X, págs. 99, 100.


Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque, nasceu a 12 de Novembro de 1855 na Quinta da Várzea, concelho da Batalha, Leiria, filho de José Diogo Mascarenhas Mouzinho de Albuquerque e de Maria Emília Pereira da Silva e Bourbon, descendentes de uma família da nobreza local. Era neto de Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque.

Destinado a seguir a carreira militar, depois de estudos preparatórios, Mouzinho de Albuquerque assentou praça como voluntário no Regimento de Cavalaria n.º 4, frequentando na Escola Politécnica os cursos preparatórios para ingresso na Escola do Exército. Seguidamente ingressou no Colégio Militar da Luz, terminando o curso na Escola do Exército em 1878, sendo promovido a alferes.

No ano seguinte matriculou-se nas Faculdades de Matemática e Filosofia da Universidade de Coimbra, tendo aí casado com sua prima, D. Maria José Mascarenhas de Mendonça Gaivão. Em 1882, Mouzinho de Albuquerque adoeceu, facto que o impediu de frequentar o 4.º ano da Universidade e o obrigou a regressar a Lisboa, onde permaneceu dois anos em inactividade. No ano de 1884 foi promovido a tenente e nomeado regente de estudos no Colégio Militar.

Dois anos depois, partiu para a Índia, ocupando um lugar na fiscalização do Caminho-de-Ferro de Mormugão, em Mormugão, e, em 1888, foi nomeado secretário-geral do governo do Estado da Índia. Em 1890, foi promovido a capitão e nomeado governador do distrito de Lourenço Marques, cargo que ocupou até 1892, altura em que regressou a Lisboa.

O ano de 1894 marca o regresso de Mouzinho de Albuquerque às colónias, desta vez comandando um esquadrão de Lanceiros que se iriam juntar às forças de expedição militar que tinha por objectivo dominar as rebeliões indígenas no sul de Moçambique.

Foi aí que Mouzinho de Albuquerque se destacou nas campanhas de África, nomeadamente a que levaria à prisão do chefe vátua Gungunhana em 28 de Dezembro de 1895, em Chaimite. A 11 de Novembro de 1895, as tropas comandadas por António Enes, entre as quais se encontrava Mouzinho, tomaram e incendiaram Manjacaze, a residência principal de Gungunhana, levando à fuga deste.

António Enes, então comissário régio em Moçambique, pediu reforços ao Governo português, mas perante a indecisão deste, decidiu dar por terminada a sua missão e regressar a Portugal. Em consequência, a 10 de Dezembro de 1895, Mouzinho de Albuquerque foi nomeado governador do distrito militar de Gaza, prosseguindo com a campanha iniciada no ano anterior, entendendo que só através da prisão ou morte de Ngungunhane, então já alcunhado o Leão de Gaza, a soberania portuguesa sobre os territórios do Império de Gaza poderia ser conseguida.

Após uma temerária marcha de três dias em direcção a Chaimite, as tropas conduzidas por Mouzinho cercaram a povoação, prendendo o chefe vátua e grande parte da sua família, forçando-o a entregar mil libras em ouro, oito diamantes, armas e munições e todo o gado e marfim de que dispunha. Contudo, os relatórios dos outros militares que participaram na campanha, em particular de Soares de Andrea, indicam que Mouzinho sabia da decisão de Ngungunhane de não oferecer resistência, o que de facto se verificou.

No dia 6 de Janeiro do ano seguinte, Gungunhana e os restantes prisioneiros foram entregues, oficialmente, em Lourenço Marques, por Mouzinho de Albuquerque ao governador-geral da colónia para, dias mais tarde, serem enviados para Lisboa por ordem expressa de Jacinto Cândido da Silva, então Ministro da Marinha e Ultramar.

Depois daquele êxito militar, que granjeou numerosas manifestações de apoio em Portugal e ampla cobertura na imprensa internacional, Mouzinho de Albuquerque foi nomeado governador-geral de Moçambique, a 13 de Março de 1896, tomando posse a 21 de Maio. A 27 de Novembro, do mesmo ano, foi nomeado Comissário Régio.

Depois de comandar, durante o ano de 1897, as campanhas de ocupação colonial de Naguema (3 de Março), Mocutumudo (6 de Março) e Macontene (21 de Julho), Mouzinho de Albuquerque partiu para Portugal, a 18 de Novembro, com o intuito de resolver, pessoalmente, com o governo de Lisboa questões relacionadas com a administração e o desenvolvimento económico da colónia de Moçambique, nomeadamente a concessão de um empréstimo que lhe permitisse proceder a algumas reformas.

Chegou a Portugal a 15 de Dezembro de 1897, tendo sido recebido de forma muito calorosa. Após algum tempo de repouso, viajou pela Europa (Inglaterra, França e Alemanha), onde foi orador convidado em diversas sociedades de geografia, em palestras que receberam grande cobertura pela imprensa.

A 22 de Abril de 1898, regressou a Moçambique sem levar qualquer resultado prático da sua presença na Metrópole, mas em Julho do ano de 1898, Mouzinho de Albuquerque recebe, finalmente a notícia de que tinha sido concedido o tão esperado empréstimo. No entanto, no mesmo dia, foi informado de que tinha sido decidido, a 7 de Julho, o fim das suas funções como Comissário Régio, o que o levou a apresentar, de imediato, a sua demissão, aceite pelo Presidente do Conselho, José Luciano de Castro, a 19 de Julho.

Mouzinho de Albuquerque voltou, então, a Lisboa sem ter realizado aquilo a que se tinha proposto, apesar de ter conseguido implementar algumas obras de fomento, bem como um importante impulso às receitas públicas, em boa parte através da imposição de pesados tributos sobre os povos locais, o que seria fonte de grandes conflitos e numerosas revoltas nos anos imediatos.

Foi nomeado, a 28 de Setembro de 1898, ajudante de campo efectivo do rei D. Carlos I de Portugal, oficial-mor da Casa Real e aio do príncipe D. Luís Filipe de Bragança. A sua posição crítica face à política e aos políticos da sua época e os rumores sobre a seu comportamento desumano durante as campanhas em África, levaram a que fosse progressivamente ostracizado e envolvido num crescente clima de intriga.

Incapaz de, pela sua própria formação militar rígida e pelo feitio orgulhoso, de resistir ao clima de intriga acerca do seu comportamento em África e à decadência em que a monarquia agonizava, Mouzinho de Albuquerque preparou minuciosamente a sua morte, suicidando-se no interior de um coupé, na Estrada das Laranjeiras no dia 8 de Janeiro de 1902.

(Fonte: Wikipedia)

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