Ficámos a conhecer, há dias, o projecto com que Paredes pretende contribuir para o centenário da república. Paredes propõe-se gastar um milhão de euros na construção de um gigantesco mastro, na ponta do qual sugere seja desfraldada uma também desmesurada bandeira.
Não tenho, como é evidente, nenhum preconceito contra a bandeira, cujo culto um brasileiro técnico de futebol logrou resgatar nas barbinhas das esquerdas mais encarniçadas. Não sou daqueles que reprovam tudo quanto possa soar a serôdias evocações de tempos que se querem idos. Mas não julgo adequado que se instrumentalizem os símbolos nacionais, pondo-os na disponibilidade de criativos, mais ou menos imaginativos, que nutrirão por esses mesmos símbolos os afectos que costumamos dispensar às larvas de gafanhoto.
Do perdulário orçamento do Estado, garantem-nos, não sairá um euro para custear este folclore, embora saibamos que cada cêntimo que for gasto na paródia que vão ser as comemorações oficiais é menos um que é investido naquilo que verdadeiramente acossa os portugueses. Mas nós, povo intrépido, sempre fomos pródigos em projectos ingentes. Construímos e mantivemos um dos maiores impérios do globo… mas, como vaticinou o poeta, “outros haverão de ter o que houvermos de perder”… e não mais parámos. Continuámos na peugada da excepção e temos para exibir o maior fogareiro de castanhas do mundo, maravilhamo-nos com a maior árvore de Natal de que há memória e organizámos a maior feijoada-servida-em-tabuleiro-de-pontes-sobre-rios da história da humanidade. Um povo capaz destas façanhas não terá engenho e arte para erguer um mastro como deve ser e manter ondulante uma bandeira de dimensões consideráveis? Tem. Para isso e para muito mais.
E para ser franco, o despesismo, os absurdos, os crimes, os desvarios, as corrupções, os dislates, as traições, os disparates e os desatinos destes últimos 100 anos são tantos, e tão impressivos, que uma bandeirinha de dimensões paroquiais não conseguiria fazer justiça a todas as patifarias que a república nos concedeu. Para mim, quanto maior, melhor.
E que todos os que ponham os olhos nela se lembrem do que representa tão bem parida ideia!
(*) Nuno Pombo nasceu em Lisboa no ano de 1973. É Licenciado e Mestre em Direito, pela Universidade Católica Portuguesa, onde é assistente desde 1999 e exerce a sua actividade profissional como jurista. É Vice-presidente da direcção da Real Associação de Lisboa. Desde 2001, integrado no grupo informal “Quinta-Feira.com”, vem publicando artigos de opinião monárquica em órgãos de comunicação social, nomeadamente no Semanário e no Diário Digital.
Câmara pretende erguer um mastro com cem metros para colocar a bandeira nacional e assinalar o centenário da República. Será quase tão alto como o monumento do Cristo-Rei ou terá mais 25 metros que a Torre dos Clérigos, no Porto. Proposta já é criticada pela elevada verba em causa.
A Câmara de Paredes vai construir um mastro com cem metros de altura. No topo será colocada uma bandeira de Portugal que, promete o edil, será a maior do País e uma das maiores do mundo. A inauguração do monumento será durante as comemorações do centenário da implantação da República Portuguesa, a 5 de Outubro do próximo ano, mas o valor do projecto - um milhão de euros - está a merecer críticas.
Todavia, para o autarca local, Celso Ferreira, as repercussões em termos de notoriedade do concelho ultrapassarão em muito a verba gasta.
A primeira vez que se ouviu falar na construção de um mastro em Paredes foi na cerimónia da tomada de posse do executivo municipal. A meio do discurso, o presidente da Câmara anunciou a criação de uma fundação para gerir a cooperação com os países de expressão portuguesa, respondendo, desta forma, àquilo que denominou de "desafios da Presidência da República e do Governo".
Fundação essa que, para além de organizar a "Conferência de doadores por Timor", ficaria responsável pela participação de Paredes nas comemorações do centenário da República Portuguesa, que incluem "a construção de um mastro e bandeira de Portugal com cem metros de altura".
À data, o anúncio passou despercebido à maioria dos vereadores, membros da Assembleia Municipal e responsáveis dos partidos da oposição e só agora é que o projecto mereceu críticas.
Isto porque no orçamento apresentado recentemente pela maioria social-democrata, a construção do mastro está orçamentada em um milhão de euros. Em comunicado, o PS/Paredes, liderado pelo assessor do primeiro-ministro Artur Penedos, afirmou, lembrando a fixação da taxa máxima permitida por lei no IMI e na derrama, que a Câmara aumenta impostos para gastar um milhão de euros na construção de um mastro para colocar a bandeira nacional.
Estas acusações são desvalorizadas por Celso Ferreira. Para o social-democrata reeleito para um segundo mandato em Outubro passado, a concretização deste monumento alusivo à implantação da República "é uma oportunidade interessante para a Câmara" e que justifica o investimento.
O mastro terá cem metros de altura, sendo 40 metros mais pequeno que a Torre Vasco da Gama, em Lisboa, mas maior do que a Torre dos Clérigos, no Porto, e quase igual ao Cristo-Rei, em Almada. Estará equipado com um sistema mecânico que manterá "a maior bandeira do País e uma das maiores do mundo" sempre desfraldada.
"Apresentámos a ideia à Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República e à Presidência da República. Foi aceite e será uma das duas grandes intervenções do programa oficial das comemorações. Uma será em Lisboa e outra será em Paredes", alegou o autarca.
(Fonte: Diário de Notícias)
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