(Dom Duarte com o Presidente da Câmara do Funchal)
>D. Duarte defende imagem tradicional
De visita à Madeira, para participar hoje na cerimónia de encerramento das comemorações dos 500 Anos do Funchal, D. Duarte de Bragança manifestou, em entrevista ao Jornal da Madeira, a importância da data para a capital madeirense. O monarca entende que esta efeméride possibilitou um maior conhecimento da cidade em termos do seu património cultural e histórico, não só por parte dos portugueses em geral como também a nível internacional.
Considerando que o Funchal soube desenvolver-se de forma sustentada em relação à oferta turística e à qualidade de vida, D. Duarte entende, no entanto, que é preciso dar atenção a um desenvolvimento em harmonia com a paisagem e a natureza, que são factores de diferenciação da cidade, em particular, e da Madeira em geral.
Dessa forma, continuou o monarca – numa conversa que manteve com o JM no Centro de Hipismo do Santo da Serra, que visitou com a esposa e filhos na companhia do presidente da Câmara Municipal do Funchal -, construídas que estão as grandes infra-estruturas, as novas construções «deviam ser integradas numa cultura e identidade madeirense. As que já cá estão, e que puderem ser melhoradas nesse sentido, também não se perdia nada».
Admitindo que as falhas urbanísticas existem por todo o país, D. Duarte de Bragança disse que, apesar de compreender a necessidade de progresso, lamenta que se tenha perdido um pouco da beleza da paisagem do Funchal, de há trinta anos atrás, por exemplo. De qualquer modo, está convicto de que o Funchal saberá respeitar o futuro, no sentido de seguir um progresso em harmonia com o ambiente, a paisagem e a identidade cultural madeirense. É esse «o caminho indispensável, para que daqui a uns anos, possamos continuar a dizer que esta é uma terra muito bonita, com encanto. Devemos privilegiar o respeito pela diferença e qualidade, ainda mais em zonas de difícil acesso como é o caso da Madeira», uma região insular. É que, continuou, um turista não vai querer fazer uma viagem cara para uma ilha para ver edifícios ou construções.
Expostas as suas preocupações em relação ao futuro do Funchal, o monarca deixou o repto: «desafiava as pessoas interessadas a criarem um movimento, uma organização ou associação para defesa da paisagem e da identidade cultural madeirense, como há na Inglaterra, onde existe uma associação importantíssima chamada o British Trust, que tem três milhões de membros, que se preocupa em defender a paisagem e a arquitectura tradicional».
2009: «Que o egoísmo dê lugar à solidariedade»
Instado a manifestar uma mensagem de votos para 2009, D. Duarte de Bragança apelou a que se substitua o egoísmo pela solidariedade. «Temos de pedir a Deus que nos mande a sua bênção e que, numa altura de dificuldade, esta é também uma altura boa para a conversão da nossa vida, para pensarmos melhor nos valores espirituais, de solidariedade, das pessoas que vão ficar em dificuldades e que vão precisar de nós, e que se se substitua o egoísmo pela solidariedade».
No ponto de vista do monarca, essa é «a grande lição que podemos aprender em alturas difíceis. Se houver uma solidariedade eficiente e eficaz entre todos, ninguém tem de passar mal. Não faz sentido que uns continuem a ter tudo e outros nada».
Nos seus votos para o próximo ano, D. Duarte de Bragança disse ainda esperar que haja «uma participação cívica mais activa nas organziações de solidariedade, de defesa da natureza e ambiente». A esse respeito, comentou que Portuigal é dos países da Europa com menor percentagem de pessoas filiadas nas organizações ambientalistas. «Somos o único país da Europa onde não temos no Parlamento Europeu um deputado que faça parte de um grupo de defesa do ambiente. Isso não pode ser, temos de ter uma actividade mais cívida e eficiente nesse campo», defendeu.
Portugueses não levam democracia a sério
Duarte de Bragança está preocupado com o facto dos portugueses não estarem «a levar a democracia a sério». No seu entendimento, dos problemas que destaca no País, a falta de participação dos cidadãos no processo democrático é sentida na falta de confiança destes em relação ao Parlamento, às Forças Armadas e policiais e até ao Presidente da República.
A seu ver, e entre outras questões a resolver em Portugal, a Educação tem de ser realista, tem de formar civicamente as pessoas mais jovens. «A Educação tem de formar a inteligência, a lógica», sublinhou. Assim, e também em prol da economia do país, a aposta devia ser na formação profissional e técnica, no apoio a empresas que produzam riqueza em Portugal. Por outro lado, o monarca entende que os portugueses não têm, actualmente, um raciocínio lógico e estão a prejudicar-se. A título de exemplo, questiona-se pelo facto de se comprar tantos produtos importados em vez dos nacionais, Outra ideia que defende é um modelo idêntico ao das empresas japonesas, para combater o desemprego. Ou seja, em vez de demitir pessoas, as empresas portuguesas também deviam reduzir para metade o horário e o salário dos funcionários em tempo de crise. Não haveria desempregados nem empregados cansados por estarem a trabalhar horas a mais.
Paula Abreu
Suplemento / Revista Olhar / 2009-01-03
> D. Duarte considera que ilhas autónomas de países monárquicos têm muito sucesso
> D. Duarte considera que ilhas autónomas de países monárquicos têm muito sucesso
> Portugueses deviam poder escolher entre República e Monarquia
O Duque de Bragança quer que a Constituição Portuguesa preveja a possibilidade dos portugueses se manifestarem sobre que tipo de chefia de Estado querem para o País. D. Duarte entende que há um contracenso na Lei Portuguesa que diz que o Povo é soberano, «pode decidir sobre o que quiser mas não pode decidir sobre que tipo de chefia de Estado tem. Tem de aceitar esta que foi imposta pelos senhores que, em 1975, fizeram a Constituição».
O monarca defende, portanto, uma mudança na Constituição no sentido de alterar o Artigo 288, que refere que é «inalterável a forma republicana de Governo», para um artigo que defendesse que «seria inalterável a forma democrática de Governo».
Recordando que na última revisão constitucional houve uma tentativa de mudar esse artigo, D. Duarte de Bragança espera que, havendo novo processo, esta matéria venha a ser alterada. Reconhece, no entanto, que para o efeito «tinha de haver suficiente espírito democrático no nosso parlamento».
Com essa alteração e prevendo-se a possibilidade de referendar entre o regime democrático a seguir pelos portugueses, entre o republicano e o monárquico, D. Duarte de Bragança manifesta-se confiante de que muitos portugueses poderiam escolher o regresso da Monarquia.
Ilhas de países monárquicos com modelos de autonomia de sucesso
Questionado sobre qual poderia ser o actual estado do País, se fosse regido por uma monarquia, o Duque respondeu que bastaria comparar políticamente com outros países europeus que seguem o regime monárquico. «Actualmente, cerca de metade da Europa funciona em Monarquia e, portanto, é a que funciona melhor, em geral, como são os exemplos dos países escandinavos, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Reino Unido... São países que estão a funcionar bem. Há mais civismo e progresso humano. Vejo por exemplo as ilhas do Canal, Jersey e Guernsey, que têm uma situação parecida à Madeira em relação a Inglaterra, têm uma autonomia muito maior do que a Madeira, mas ninguém põe em causa a unidade do Reino Unido, como outras ilhas anexas à Holanda ou Dinamarca». A respeito das ilhas autónomas, o monarca salienta que existem modelos de autonomia dentro das monarquias que «são mais seguros e evoluídos do que na República».
Viver bem gastando menos
Na conversa que manteve com o JM, no Centro Hípico do Santo da Serra, que visitou com a esposa e filhos, na companhia do presidente da Câmara Municipal do Funchal, D. Duarte de Bragança pronunciou-se ainda sobre as suas expectativas para 2009. «Eu espero que, esta situação difícil, grave económica e financeira, seja um motivo para uma reforma total na nossa maneira de ver a vida e até das nossas isntituições. Ou seja, até agora, desde a II Guerra Mundial, temos vivido sempre com o aumento do consumo, dos gastos e do desperdício de energia e de recursos. Então em Portugal, a coisa acelerou muito. Devíamos agora passarmo-nos a desenvolver num sentido diferente; passarmos a gastar menos, mas a viver melhor. Não se precisa de gastar mais para viver melhor».
Nesse sentido, o Duque de Bragança defende, por exemplo, que se use menos o automóvel particular, dando preferência aos transportes públicos, que se gaste menos energia na agricultura, nos transportes, no aquecimento das casas, nomeadamente.
Considerando, por outro lado, que um dos problemas de Portugal tem a ver com a falta de aprticipação dos cidadãos na democracia, D. Duarte de Bragança fala na importância dos portugueses tentarem inverter essa postura. «A nossa democracia não é participativa, ninguém vai pedir aos deputados do parlamento que resolvam os seus problemas. Se houver uma crise grave, não vai haver uma confiança nas instituições. As forças armadas estão a ser desmobilizadas, a polícia está a ser desprestigiada... A educação tem de ser mais realista, mais prática, tem de formar civicamente as pessoas mais jovens e sobretudo, a educação tem de formar a inteligência e a lógica», sustentou ainda o monarca.
Queremos economia nacional e compramos produtos estrangeiros
Duarte de Bragança aponta ainda algumas das contradições da sociedade, defendendo que «se queremos alguma coisa temos de fazer por ela». Ou seja, continuou, «queremos a economia nacional, mas depois compramos os produtos estrangeiros. Vejo na Madeira, por exemplo, a venderem bananas da Colômbia, vejo na Madeira e no Continente, os portugueses comprarem produtos estrangeiros quando os portugueses não conseguem ser vendidos. Isto não pode ser, é um absurdo», comentou. A seu ver, o povo em geral não está a ter um «raciocínio lógico, não está a usar a inteligência e está a fazer coisas que o vai prejudicar».
Para D. Duarte de Bragança, há que mudar o estado do país a vários níveis, com uma intervenção colectiva da sociedade. Um passo importante, defendeu ainda, tem a ver com o programa de ensino, que tem de ser «mais eficiente e prático. As crianças perdem muito tempo a decorarem regras e coisas teóricas que não servem rigorosamente para nada e depois não aprendem a História de Portugal nem a defesa da natureza, da saúde, a raciocinar logicamente e a aprender matérias que são úteis para a vida».
De salientar que o Duque de Bragança e a família escolheram o Funchal para assistir à passagem do ano.
Paula Abreu
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