Entre os devaneios do estudo para uma cadeira e o esboço de um projecto monárquico a iniciar, já este semestre, entre a camada académica da Universidade do Porto (é segredo), o tempo destinado a escrevinhar umas coisinhas aqui no Estado Sentido (ES, é-ésse) vai rareando.
Algo que me pareceu merecer alguma notoriedade foi uma duvida que me atormentava - já ia para umas poucas semanas - e que me assustava, pois era uma falha de argumentação que me parecia facilmente detectável por presumíveis oponentes num debate Monarquia-República (penso que já estamos todos um pouco cansados disso, é verdade).
Um dos argumentos mais usados pelos monárquicos a favor da Monarquia é a figura paternal do Rei, a sua distância das lutas interinas dos partidos, e o seu imparcial interesse pela coisa pública (poderá haver, de facto, algo como um interesse imparcial? e sendo possível, poderá sê-lo pelas complexas coisas da res publica? - outras discussões, outros debates).
Imagino que um republicano e democrata (este democrata é aristoteliano, descansem monárquicos da democracia directa) poderia magoar profundamente a minha causa ao relatar as figuras paternais dos regimes autoritários, ou pior, totalitários.
Depois de ler algumas coisas aqui e ali, formulei uma resposta que me parece a melhor forma de desarmar este argumento.
Todas as formas de regime necessitam uma figura paternal. Aliás, os clientelismos dos governos representativos (seja numa oligarquia ou democracia) são sistemas semelhantes aos patriarcalismos primatas.
O paternalismo monárquico vai além dessa protecção opressora do patrício da República, do Senador e do Congressita, do Homem do Partido, do Cacique.
O rei é um pai que dialoga com um filho maduro. Há uma relação de afecto, como parece haver desde sempre entre os governantes e governados - mesmo que ocasionalmente não seja bem assim (ironia, ironia) - mas há uma independência e uma responsabilidade da parte do súbdito que tornam o voto irresponsável do infantil cidadão republicano uma tolice de criança mimada e mal-educada.
Ou seja, basicamente a minha argumentação baseia-se no facto de que todos os regimes necessitam esta figura paternalista, só deve haver cuidado em escolher uma que não oprima a figura menor.
Assim, o Rei é um Pai, respeitável e distante, mas afectuoso:
Como insiste em ser o Pai cool, e mostrar que é alguém do Povo e cujas funções são exercidas da forma que qualquer detentor do senso-comum faria, essa Perversão pode ser um desastre para as liberdades do homem - e aqui há casos bem conhecidos.
Essas perversõs patéticas da figura paternal dos Reis pode ser observada tanto na propaganda dos regimes autoritários dos anos 30, 40 e 50, como nos actuais concorrentes à presidência de um país tão pequeno como o nosso.
Aliás, Portugal poderá ser o detentor da mais ridicula transformação da imagem paternal dos Reis em algo absolutamente absurdo:
publicado por Manuel Pinto de Rezende
(Fonte: Blogue Estado Sentido)
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