terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ESPERANDO NO PASSADO UM FUTURO

Passaram mais de quinhentos anos desde aquele dia. Aquele Verão de 1578 havia mudado os destinos deste Reino para sempre. Sabido era que o Rei, Dom Sebastião e toda a elite aristocrata haviam padecido em Alcácer-Quibir. Com o trono vazio, o medo crescia nas ruas de Lisboa, para acalmar o povo dissera-se “Ele há-de voltar… numa manhã de nevoeiro, como a que o viu partir”.

O mito nascera e, na boca do povo cresceu, fez-se crença popular e sempre que a esperança emagrece a lenda reaparece. Diz-se mesmo que foi o espírito Sebastianista que fez com que o povo quisesse o retorno do Rei e da independência em 1640. Disse-o D. Miguel de Almeida, na manhã de 1 de Dezembro, em que diante do Terreiro do Paço e daquela multidão proclamou com as lágrimas a escorrerem-se-lhe pela barba grisalha – “Olhai Portugueses! O Príncipe e Rei que meu pai viu partir… voltou, e hoje venho no meu brado gritar… Liberdade! Liberdade! Viva Dom João IV! O 8º Duque de Bragança, é o nosso legítimo Rei!”- foram estas as palavras deram força e mantiveram viva a esperança durante aqueles vinte e oito anos da Guerra da Restauração.

Não foi caso único na nossa história; em momentos de crise e desespero, a espera de Dom Sebastião veio trazer a esperança e o consolo que muitas vezes nem a Fé confortara.

Muitos escreveram sobre isto, foi no dealbar da Primeira República, vista por muitos na altura como uma catástrofe Nacional, que levou homens como António Sardinha, Francisco Rolão Preto e Homem-Christo a fundar uma nova esperança - o Integralismo Lusitano – do qual foi membro o escritor e poeta Fernando Pessoa, que na sua obra tanto traduziu este mito.

Será um tormento do passado? Um agoiro do futuro? – Ou será apenas o facto de Portugal não ser capaz, nunca mais, de construir um futuro, tão belo, luminoso e glorioso quanto o seu passado, passado, “que não volta mais”- João Ferreira-Rosa.

Não podemos refugiarmo-nos no passado e esquecermo-nos do futuro.


Por: António Baião Pinto
 
(Fonte: Blogue Monárquicos Nortenhos)

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