Lisboa, 28 de Maio (Lusa) – A “história de vida” de Maria Adelaide de Bragança van Uden, 99 anos, neta do Rei Dom Miguel I, que enfrentou os nazis, e que vive na Caparica, é contada pela escritora Raquel Ochoa, no livro “A Infanta Rebelde”.
A infanta Maria Adelaide integrou a resistência austríaca aos nazis, esteve presa, veio viver para Portugal, onde criou a Fundação Nun’Álvares Pereira para apoio aos carenciados.
“É um exemplo de vida pela estatura moral, e esta é uma história que tinha de ser contada”, disse à Lusa Raquel Ochoa que “por acaso” se cruzou com a “Dona Infanta” (como é muitas vezes citada).
Referindo-se à obra, Raquel Ochoa afirmou: “É uma biografia romanceada completamente alinhada com a história que recolhi na primeira pessoa”.
A autora, vencedora em 2008 do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, afirmou que “em prol do prazer pela leitura” recriou os ambientes e alguns protagonistas, tendo pontuado a narrativa com o discurso direto de Maria Adelaide de Bragança van Uden.
“Mas todos os factos relatados são verídicos”, sublinhou.
Referindo-se à actividade de Maria Adelaide como resistente aos nazis, na Áustria, Raquel Ochoa considera que é “uma acto heróico mas quando questionada sobre a questão, Dona Maria Adelaide apenas afirma que foi uma reacção natural com algo com que não concordava. Era-lhe impossível viver num mundo assim”.
“A resistência era como respirar, perante a educação que tinha tido e os ideiais que tinha. Não resistir é que era uma violência contra ela mesma. Resistir era um acto natural”, explicou a autora.
Maria Adelaide foi detida pelas tropas nazis, tendo sido salva de fuzilamento “in extremis” e após várias diligências de António Oliveira Salazar que se indignou por terem prendido uma Infanta Portuguesa.
A autora sublinha que a Infanta “teve outros de actos heróicos” e referiu o seu trabalho “como assistente social em prol das populações desfavorecidas” na margem sul do Tejo, desenvolvido de “forma discreta”.
“Ela [Maria Adelaide] percebeu que através da descrição não era notada nem perseguida, além de por educação, não gosta de fazer alarde do que faz, há zero de gabarolice nesta família, o que é a antítese da sociedade em que vivemos”.
Esta acção social foi feita no âmbito da Fundação Nun'Álvares Pereira que se diluiu após o 25 de Abril de 1974.
Referindo-se à posição da Infanta ao regime que antecedeu à revolução de 1974, Raquel Ochoa afirmou que “reconheceu Salazar como quem pôs em ordem as contas do Estado, mas insurgiu-se sempre contra os métodos usados”.
Raquel Ochoa começou a trabalhar neste livro em junho de 2009 quando entrevistou pela primeira vez a neta de Dom Miguel I, ainda antes de decidir candidatar-se ao prémio Revelação Agustina Bessa-Luís com o romance “A Casa-Comboio”.
“Para mim, se algum mérito tenho, foi o de ter conseguido que se abrisse comigo. A história é dela, é a vida dela, e foi uma grande vida”, argumentou.
“Dona Maria Adelaide de Bragança. "A Infanta Rebelde” com chancela da Oficina do Livro, tem prefácio de Dom Duarte, Duque de Bragança, sobrinho da biografada, que a refere como “um exemplo”.
Texto: Portugal em Nantes
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