quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A CRISE NACIONAL E INTERNACIONAL EXPLICADA SEM DEMAGOGIAS


CriseNacional e Internacional
Crise nacional
Creioque a maioria das pessoas ainda não percebeu bem esta crise - e os economistasnão estão a saber explicá-la com clareza.
É verdade, como se tem dito, que há uma'crise nacional' e uma 'crise internacional'. Mas, depois destaevidência, a confusão que por aí vai é enorme.
Comecemos pela crise portuguesa.
 Trata-se de uma crise profundíssima, potenciadapor três factos capitais: o fim do Império, a passagem da ditaduraà democracia e a entrada na União Europeia.
Tudo isso, que se pensava vir a ter umefeito benéfico na economia, produziu de facto consequências devastadoras.
O fim do Império limitou-nos o espaçovital, cerceou-nos matérias-primas e mercados, diminuiu-nos políticae psicologicamente.
A passagem da ditadura à democracia (com oseu rosário de greves, nacionalizações, perseguições,saneamentos, reivindicações laborais insustentáveis, etc.) destruiu boaparte do nosso tecido económico. A entrada na União Europeia e aabolição das fronteiras pôs-nos em confronto com economias muito maisavançadas, acabando de liquidar o que restava da nossa débilcapacidade produtiva.
A criseinternacional é de outra natureza.
Ela decorre da globalização e tem duas vertentes.
Por um lado, os produtos feitos no Ocidentecomeçam a não ter condições para competir a nível global com outrosproduzidos em países (China, Índia, Coreia, etc.) onde os salários e asregalias laborais são muitíssimo inferiores.
Por outro lado, as empresas tendem a transferircada vez mais as suas fábricas e serviços de Ocidente para Oriente - oque significa que no Ocidente vai aumentar o desemprego e no Orientevai acentuar-se a procura de mão-de-obra. E, em consequência disso,no Ocidente baixarão os salários, acabarão muitas regalias sociais, numapalavra, será posto radicalmente em causa o tipo de vida que se fez nosúltimos 50 anos.
No Oriente, pelo contrário, os salários tenderãoa subir e o nível de vida crescerá. Assim, a crise que hoje se vive noOcidente é de natureza diferente das anteriores.
Antes, eram crises de crescimento docapitalismo dentro da sua área geográfica; agora, a crise tem a ver com a globalizaçãodo capitalismo. Repare-se que grande parte do planeta, que atépouco vivia fora do sistema capitalista, aderiu à sociedade demercado: basta pensar nas adesões quase simultâneas da Rússia e da Chinapara se ter uma ideia do abrupto alargamento da área do capitalismonos últimos anos.
Os grandes grupos multinacionais, que antesestavam limitados a um determinado espaço territorial, hoje têm oplaneta inteiro para instalar os seus centros de produção - podendoprocurar os salários mais baixos, as melhores ofertas de mão-de-obra,as menores regalias dos trabalhadores.
O planeta tornou-se um sistema de vasoscomunicantes - onde, para uns viverem melhor, outros vão ter de viverpior. Para certas regiões subirem o nível de vida, outras vão necessariamenteperder privilégios. Perante isto, perguntará o leitor: o quepoderemos fazer para inverter o estado das coisas?
Basicamente, não há nada a fazer.
Os factores que potenciaram a crise nacionalsão irreversíveis - e a globalização não vai andar para trás. Assim, vamoster de nos adaptar à nova situação, o que significa de uma maneira simplestrabalhar mais e ganhar menos. Os salários vão baixar (lenta ou abruptamente)entre 10 e 30%, os horários de trabalho vão aumentar (com a abolição total dashoras extraordinárias), o 13.º e 14.º meses vão ficar em causa, a idade dareforma também vai ser ampliada (para perto dos 70 anos), o rendimentomínimo garantido vai regredir drasticamente, o subsídio de desempregotambém vai  diminuir, a acumulação de reformas vai ser limitadíssima.
Muitas 'conquistas dos trabalhadores' naEuropa, obtidas no pós-guerra, vão regredir. As leis laborais vão ter deser flexibilizadas. O sistema de saúde não  vai poder continuar agastar o que tem gasto. Preparem-se, porque não vale a pena protestar. Oque não tem remédio, remediado está.
Dizia há dias, com graça, Ernâni Lopes, apropósito do subsídio de férias: «Se dissessem a um americano: 'Para o mêsque  vem não trabalhas e ganhas dois ordenados', ele não acreditava».
Pois há muitos anos é esta a situação:não trabalhamos nas férias e recebemos o dobro.
Isto, também, vai acabar.
José AntónioSaraiva

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