O governo entre a troika e a realidade nacional |
Uma das grandes conquistas do 25 de Abril foi a instituição do Poder Local, consagrado na Constituição formaliza uma realidade factual desde os primórdios da nacionalidade.A guerra permanente entre os representantes locais e Lisboa parecia ter findado com o fim do Estado Novo, mas a recente crise veio abrir velhas desavenças entre o que o Governo da República julga ser as aspirações populares e os problemas reais sentidos nas localidades.
Definindo uma noção de descentralização democrática em Portugal, teve a sua formalização pela primeira vez nas Cortes de Afonso III decaindo posteriormente com o advento de ideias e conceitos do Estado estranhos à realidade portuguesa.Com a Constituição republicana de 1911, a expressão poder local ganhou relevo de Lei e foi retomada na Constituição de 1976 com poderes alargados ao nível orçamental ( ao abrir o título dedicado, na parte III -organização do poder político-, às autarquias locais.)
À ideia de poder local subjaz a convicção de que a unidade do Estado não deve levar à dissolução de comunidades menores. Pelo contrário, considera-se que estas deverão ter a possibilidade de administrar os interesses que lhes são específicos através de órgãos representativos da vontade dos seus membros e próximos das populações. A existência de competências a serem exercidas localmente pretende garantir uma maior eficácia na resolução de certos problemas.
Esta verdade incontestável tem ganho especial relevo com as resistências populares a projectos governamentais feitos à revelia dos interesses locais e do Poder Local, como tem sido o caso do projecto nacional das Barragens ou os mais variados projectos de construção civil rotulados como sendo de “Projectos de potencial interesse nacional” (PIN) excluíndo-se as populações locais do debate.A recente extinção de freguesias não é mais do que mais um passo no caminho da total centralização do Poder em Lisboa.
Não foi desprovida de significado a comemoração de D. Duarte do dia da Restauração (1ª de Dezembro) em Mirandela, juntamente com vários autarcas numa iniciativa intitulada “O Renascer do Poder Local” , não fosse D. Duarte o legitimo sucessor ao Trono de Portugal e um forte apoiante do Poder Local. Desde 2007 que a chamada de atenção do Chefe da Casa Real tem insistido no perigoso crescendo do Poder de Lisboa sobre os interesses vitais das populações locais, pondo muitas vezes em questão a sustentabilidade das regiões.Uma dessas grandes bandeiras é a questão do Tua
Resta a pergunta: estaremos perante o caminho que levará ao fim do Poder Local?
Foram os chefes locais que enfrentaram e derrotaram as tropas napoleónicas ,quando os desmandos em nome do progresso fizeram lembrar aos homens e mulheres de setecentos as razões que levaram os portugueses a revoltarem-se em 1640 em favor de um Rei , contra os desmandos de outros estrangeiros.
Os ventos mudam mas o barco apenas vai para onde o capitão o leva
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