Senhor Dr. Mário Soares
Antes de mais queria dar-lhe os seus parabéns pelo “desfazer” dos seus 87 anos, a mim o caminho ainda poderá ser longo para chegar lá se o destino assim o quiser. Escrevo-lhe nos meus 36 anos de idade ciente que o mundo e o nosso país correm sérios riscos de voltar atrás na História, ciente de que os problemas do Povo e não do Proletariado têm de estar sempre à frente das preocupações de qualquer pessoa de bem que se preocupa com a “coisa pública”.
Sou militante do Partido Socialista desde 1996 quando fiz 21 anos, o meu pai viu que estava na altura de eu assumir o que eu defendia depois de uma infância recheada de preocupações muito pouco normais para uma criança … sim eu com 9 anos via empolgado os debates políticos na TV onde o Senhor Doutor participava e os meus pais nunca me proibiram de o fazer. Tudo isso era fruto da educação e da tradição política que tinha na família, era uma consequência natural.
É fácil ser Socialista Democrata quando o nosso partido está no poder e está tudo a correr bem, o que nos põe à prova na vida e o Senhor Doutor sabe melhor do que ninguém é quando as circunstâncias são adversas ao que defendemos. Só com os meus 14 anos comecei a ter plena consciência política do que significavam as coisas, foi por essa altura que recebi a herança familiar do que a minha família defendia. O meu avô Manuel António Vilela durante a 2º Guerra prestou serviços de informação aos EUA com um louvor por escrito do próprio presidente, era um acérrimo defensor do Partido Democrata Americano tanto no tempo de Roosevelt como no tempo de Kennedy. Ele esteve ao lado de Humberto Delgado na cidade no Porto nas eleições de 1958 e foi preso duas vezes por isso pela PIDE mas era um monárquico sem Rei como muitos o foram depois da morte de D.Manuel II e não se reviam no pai de D.Duarte de Bragança seu amigo. Sabendo isto e defendendo os mesmos ideias que o meu avô e o meu pai fazia sentido mais tarde ou mais cedo ser militante do Partido Socialista, defender o Povo, defender os mais desfavorecidos, defender os que mais precisam.
Sim sou Republicano porque defendo a “coisa pública” mas sou Monárquico da mesma forma que o foi Antero de Quental, Oliveira Martins, António Sérgio , Robert Owen, Proudhon, Olafe Palme, Gonçalo Ribeiro Telles, Sophya Mello Breyner e tantos outros …
Sempre o assumi desde o acto da assinatura da militância que era monárquico, monárquico como José Estevão, mas desde o primeiro momento os nossos camaradas disseram-me que o regime era válido em democracia. Como Antero de Quental dizia os problemas do Povo são mais importantes do que o problema de regime.
Não vou defender aqui a minha posição, acho que não o devo fazer porque não lhe vou dizer nada de novo. De há 4 anos para cá participei nas actividades do Instituto da Democracia Portuguesa onde sozinho aprofundei a ideia de uma “Esquerda Monárquica”, algo que achava que não existia mas a pesquisa e a História me demonstraram que sempre existiu, desde D.Manuel II apoiar o Partido Socialista Português até ao seu amigo Gonçalo Ribeiro Telles ter pertencido à sua lista nas eleições de 1969 e mais tarde o PPM com três deputados na bancada parlamentar do PS.
No meio disto tudo vejo com muita preocupação a colagem da extrema-direita ao ideal monárquico e o aproveitamento da falta de cultura política das pessoas para aproveitamento eleitoral. Vejo a História a repetir-se como aconteceu em 1929 com o Crash da Bolsa e infelizmente o que se sucedeu, peço desculpa como crente mas peço a “Deus” que não volte a acontecer. Mas o Povo no fim é o que sofre sempre, os Neo-Liberalistas já fizeram Adam Smith dar demasiadas voltas no caixão … insultam-no com a falta de ética na economia.
Admirava-o Senhor Doutor quando subia as escadas da Sede do PS em Aveiro e via a sua enorme foto, ainda hoje o admiro como referência e farol para todos os camaradas que nestes momentos conturbados lutam por acreditar no Socialismo Democrático. Precisamos mais do que nunca de um Europa Unida, precisamos da consciência social e da ética que só o Socialismo Democrático podem dar.
Melhores cumprimentos do seu humilde Camarada,
Rui Paiva Monteiro
Rui Paiva Monteiro
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