segunda-feira, 3 de maio de 2010

SEM REI NEM ROQUE

«Na República Portuguesa, começou por vigorar o princípio de que "o país é para todos, mas o Estado é para os republicanos". Mais do que o caracter electivo dos cargos de direcção política do Estado, o que defeniu a ideia de república, em Portugal depois de 1910, foi a reserva desses cargos e dos empregos públicos para os republicanos - e estes foram quase sempre, entre 1910 e 1926, os de um partido, o Partido Repúblicano Português (PRP).


(...) A Constituição de 1911 reduzira ao mínimo o presidente da República, de modo que nunca desempenhasse o papel político que o rei tivera: era eleito no parlamento, para quatro anos, sem direito a reeleição, e não podia dissolver o parlamento. Mas competia-lhe nomear o chefe do governo. (...) Arriaga aproveitou essa prerrogativa constitucional para confiar o governo a um velho general, Joaquim Pimenta de Castro. (...) Pimenta de que Castro manteve o parlamento encerrado e convocou eleições para Junho de 1915. Fora do governo, o PRP temeu desaparecer eleitoralmente. Os outros partidos tomaram alento. Surgiram até, sobretudo no Norte, centros monárquicos (cerca de 55), porque Pimenta fez saber que, com ele, a "república é para todos os portugueses". Pensou mesmo em instituir o sufrágio universal, o que acabou por também inquietar a direita republicana. António José de Almeida lembrou logo: "só republicanos verdadeiros podem conservar e defender a república». O PRP resolveu então tratar Pimenta de Castro como tratara João Franco em 1907: chamou-lhe "ditador" e tramou uma insurreição, usando civis armados e os seus partidários na marinha e na Guarda Republicana. O golpe de 14 de Maio foi muito mais sangrento do que o 5 de Outubro. O exército não mostrou zelo, mas os grupos armados de Machado dos Santos, ao lado do Governo, deram luta. Poderá ter havido (...) 200 mortos e 1000 feridos. Pimenta de Castro e Machado Santos foram presos, e Arriaga forçado a resignar. A violência anticlerical agravou-se: em Loures, foram assaltadas três igrejas, que tiveram as imagens queimadas na rua».

Excerto da História de Portugal coordenada por Rui Ramos
(Fonte: Real Associação de Lisboa)

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