Durante a I República, os monárquicos queriam restaurar a Monarquia contra o Governo. Na II República, a maioria pretendia a Monarquia através do Governo. Nesta III República, a posição dos monárquicos, pelo menos a dos mais significativos, que são os que aparecem agrupados em instituições, em forças políticas, é completamentediferente: defendemos que a Monarquia deve ser restaurada, ou instaurada, quando e da forma que o Povo Português quiser.
Mas a partir de 1974 foi visível, creio que cada vez mais visível, a degenerescênciada República. Durante o consulado de Salazar ela mantivera-se com a estabilidade que todos conhecemos, e de certo modo lhe censurámos, que era uma estabilidade artificial, mas que lhe dava uma certa respeitabilidade. Depois do 25 de Abril voltou-se em grande parte à I República, à balbúrdia, não tão sanguinolenta, mas sem deixar de ter aspectos deviolência – não podemos fechar os olhos ao que se passou no Ultramar. Mesmo na Metrópole, a existência de formas larvadas de violência, de ódios de classe, é qualquer coisa de muito forte, e a própria intriga palaciana dentro e fora dos partidos, à volta dos Governos, em torno dos Presidentes, constituem outros tantos argumentos a favor da Monarquia. Quer dizer, a República está a afundar-se. É um espectáculo deprimente, degradante. É preciso encontrar uma forma de equilíbrio que só pode estar para além do próprio jogo dos interesses em presença, quer económicos quer outros.
Contudo, penso que o facto de as características desta III República serem muito diferentes não nos deve deixar esquecer que o principal para a Restauração da Monarquia é a reforma da mentalidade. Sem uma verdadeira e profunda reforma não faz sentido instaurar a Monarquia, pois as diversas reformas do Estado perdem-se, e hoje é muito fácil destruir num dia o que se construiu na véspera. Portanto, sem uma reforma profunda da atitude mental das populações é muito pouco valiosa qualquer reforma estrutural.
Henrique Barrilaro Ruas, Portugueses. Revista de Ideias
(Fonte: Blogue da Real Associação de Lisboa)
(Fonte: Blogue da Real Associação de Lisboa)
(*) Henrique José Barrilaro Fernandes Ruas (n. Figueira da Foz, 2 de Março de 1921 - f.Parede, 14.08.2004 ), professor, historiador, ensaísta, filósofo e político monárquico, nasceu na Figueira da Foz, e casou em 8-02-52, com Maria Emília Chorão de Carvalho, tendo oito filhos. Filho de Henrique Fernandes Ruas, de Soure, engenheiro civil e de minas pela Escola do Exército, e D. Clara Adelaide Echaves Barrilaro Ruas. Frequentou na Figueira e em Coimbra vários colégios e professores particulares até concluir o Curso Liceal no Liceu D. João III. Formou-se em História e Filosofia pela Universidade de Coimbra (1945), onde teve como professores Miranda Barbosa, Torquato de Souza Soares, Joaquim de Carvalho, e Amorim Girão. A dissertação de licenciatura é sobre Dionísio Pseudo-Areopagita, traduzindo do latim a Hierarquia Celeste, sob direcção de Miranda Barbosa...
Obteve uma bolsa de estudos do I.A.C. e inciou-se na historiografia medievo-portuguesa, com o P.e Pierrre David. Com bolsa de estudos do Governo Francês, cursou em 1947-49, cadeiras da École des Chartes de Paris como Paleografia, Diplomática, H.ª do Direito em França, Fontes de H.ª de França, conhecendo Alain de Boüard. Seguiu no Instituto Católico de Paris, as lições de H.ª do D.to Canónico, Fontes do Direito Canónico e H.ª da Igreja com Mons. Arquillière, preparando tese de doutoramento sobre o mosteiro da Vacariça (Buçaco). Na Bibl. Nacional de Paris analisou os Diplomata et Chartae do P. M. H., enviando colaboração para a Revista Portuguesa de História, Coimbra e iniciando um estudo sobre a Chanson de Roland. Com Torquato de Sousa Soares colabora na Rev. Port. de H.ª e na revisão da 2.ª ed. (actualizada) de Gama Barros. Ao voltar de Paris, exerce o ensino oficial de Religião e Moral, no Liceu Gil Vicente, 1949-50. Em Coimbra, retoma a docência em colégios particulares.
Colabora com Gonçalves Rodrigues nos Serviços Culturais da “Mocidade Portuguesa” e entra para a Faculdade de Letras de Lisboa, onde ensinará (1953-57) Paleografia e Diplomática, Numismática/Esfragística, Epigrafia, História Geral da Civilização, História da Antiguidade Oriental, História dos Descobrimentos Foram seus alunos, entre outros, Maria Carmelita Passos e Homem de Sousa, M.ª Cândida Pacheco, A. H. de Oliveira Marques, Luís de Oliveira Ramos, Pedro A. Teles da Silva Pereira.
Entra como Assistente em 1957 para o Centro de Estudos Sociais e Corporativos, nomeado pelo ministro das Corporações Veiga de Macedo que, fiel à “Situação”, tinha colaboradores desafectos ao Estado Novo. Aí trabalha sob Sedas Nunes, e depois Ruy de Albuquerque, e Francisco Neto de Carvalho. Nesses 5 anos elabora Ideologia: ensaio de análise histórica e Crítica e a antologia de António Corrêa d’Oliveira O Homem e o Trabalho. Em A Moeda, o Homem e Deus, 1957 teorizou a separação entre política e religião. O ministro Gonçalves de Proença obriga-o a abandonar o Centro de Estudos no Outono de 62 por incompatibilidade com a leccionação no Instituto Comercial de Lisboa, onde o chamara José Carlos Amado. Aí permaneceria até à reforma (1988). Entretanto, mantém a actividade docente de Filosofia, História, Organização Política, Francês...
A partir de 1964, ajuda a criar o CODEPA (Centro de Orientação e Documentação de Ensino Particular) dirigido por José Carlos Amado, trabalhando no Centro de Estudos Pedagógicos, no Boletim, no Instituto de Novas Profissões, e no Colégio da Cidadela. Escreve então Alguns Problemas Psico-Pedagógicos dos Meios Áudio-Visuais.
Em Setembro de 1961 torna-se Director Literário da Editorial Aster, onde permanece até ao encerramento em 1989. Após a tentativa frustrada (1972-73), da Editorial Expansão, regressa à Aster com Fernando de Sousa. Após o 25 de Abril, toma parte na fundação da “Universidade Livre” como professor de Filosofia do Ano Propedêutico. Aí leccionará História da Cultura Medieval, e depois Universidade Lusíada. No ISCAL perdeu as funções docentes desde 1976. Às Universidades Católica, Internacional, e de Évora prestou colaboração pontual.
No campo pedagógico, participou ainda no lançamento e na direcção das Escolas Comunitárias, iniciativa de Manuel da Costa Garcia. E, por nomeação do Ministro Inocêncio Galvão Teles, fui vogal da secção de interesses morais da Junta Nacional de Educação. Também, por encargo recebido do Dr. António Carlos Leónidas, fiz a redacção final dos Programas do Ensino Primário (ca. 1960). Colaborou na revista Escola Portuguesa. Na Acção Católica foi membro da Direcção do CADC desde 1940 a 1943 (presidente em 42-43) e presidente diocesano da J.A.C. de Coimbra (1941-42).
A actividade política de HBR obedeceu sempre à opção monárquica onde cedo se destacou. Foi Presidente do Centro Académico de Democracia Cristã (Coimbra, 1942-43) Foi um dos fundadores da revista Cidade Nova (Coimbra) Participou na Causa Monárquica em diversos períodos, sob a direcção dos Secretários-Gerais Fernando de Sousa e Carlos Lopes Moreira e do Lugar-Tenente António de Sèves. Dirigiu um Círculo ou Centro de Estudos da Juventude Monárquica de Coimbra < ca. 1945/46 > ) e foi director de Doutrinação e Propaganda (1955-57) e presidente da Comissão de Estudos Doutrinários (1966-68), vindo a demitir-se por discordar do conservadorismo exagerado da Causa, descrito em Âpendice do seu livro A Liberdade e o Rei . Noutras iniciativas colabora ainda no quinzenário Mensagem. Foi um dos fundadores da revista Cidade Nova, Coimbra, em torno da qual se renovaram as gerações integralistas. Foi sócio-fundador do Centro Nacional de Cultura (Lisboa, 1945) de que foi director em 1955. Foi sócio do Centro de Cultura Popular. Foi um dos promotores do Instituto António Sardinha, - iniciativa de Rivera Martins de Carvalho. Fundou o movimento Renovação Portuguesa com Magalhães e Silva, Mário Saraiva, Pardete da Fonseca, para o qual escreveu o Manifesto (1969). Foi dirigente da Convergência Monárquica e Candidato a deputado pela lista oposicionista da Comissão Eleitoral Monárquica (1969). Foi membro do Conselho de Lugar-Tenência e do Conselho Privado do Duque de Bragança. No 3º Congresso da Oposição Democrática de Aveiro em 1973 (designação que, a seu pedido, substitui o de Congresso da Oposição Republicana) defendeu o urgente derrube do regime para que "os povos do Ultramar sejam senhores dos seus próprios destinos". Após o 25 de Abril de 1974, integrou o PPM (desde a criação em 23 de Maio de 74, até 1990) sendo dirigente e deputado à Assembleia da República (1979-83). O inédito As Minhas Repúblicas (Crónicas e Memórias) regista essa actividade.
Autor de obras sobre temas históricos, eclesiásticos, literários, pedagógicos, e de ensaio político, a que se junta uma vasta bibliografia dispersa por revistas, dicionários e enciclopédias, o essencial da obra de HBR foi o de chamar a atenção para os fundamentos históricos e filosóficos das questões de identidade nacional como ressalta na sua monumental edição de Os Lusíadas que contém materiais indispensáveis para reconfigurar a interpretação da obra, como sejam o “discurso a D. Sebastião” que atravessa a epopeia, a «imagem pessoal» de Camões, ou os silêncios sobre a história de Portugal. No campo político, pela sua acção e livros contribuiu para o descomprometimento dos monárquicos com o salazarismo.
Bibliografia Sumária
1945 - Hierarquia Celeste de Dionísio Areopagita
1945 - A Questão Académica
1947 – “O cristão no mundo de hoje” Conferência na sede da Acção Católica, Lisboa.
1948 - Cristianismo e Integralismo
1957 - A Moeda, o Homem e Deus
1961 - Portugal no Mundo de Hoje
1961 - Ideologia
1971 - A Liberdade e o Rei
1971 - O Integralismo como doutrina política
1999 - Luís de Camões
1999 - Um testemunho acerca do «Partido Popular Monárquico» (PPM)
2001 - Dois imperialismos
2002 - «Os Lusíadas», edição comentada e anotada Rei dos Livros, 2002, 708 págs.
Universalismo Português (entrevista «Pessoal e Transmissível» de Carlos Vaz Marques, TSF, 5 de Junho de 2002)
“Autobiografia” em Estudos, Revista do Centro Académico de Democracia Cristã Coimbra, Nova Série, n.º 1 (2003), pp. 33-51.
(Fonte: Realistas)
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