El-Rei D. Manuel II teve um domingo bem agitado, cujos pormenores são minuciosamente contados no DN de segunda-feira, com despachos que mencionam a própria hora dos acontecimentos.§ Buçaco: “El-rei, depois do costumado banho no Luso, seguiu de automóvel para Carregosa, onde almoçou com o rev. bispo conde, chegando aqui às sete da tarde”. § Albergaria, 10 e 37: “Acaba de passar el-rei em direcção a Carregosa, sendo alvo de entusiásticas manifestações populares”.§ Águeda, 12 e 15. “Grande apoteose. Enorme multidão saudou com inteiro entusiasmo o monarca. Águeda manifestou mais uma vez os seus arreigados sentimentos monárquicos”.§ O rei passou ainda por Mourisca e Oliveira de Azeméis, mas a segunda travessia Águeda, de regresso ao Buçaco, é impressionante e parece digna de uma estrela de cinema.§ Águeda, 7 e 8 da tarde, excertos da narração do correspondente: “Milhares de pessoas impediam a marcha do automóvel (…) El-rei pedia instantemente sossego, mas cada vez mais o entusiasmo redobrava”. § Em Águeda, à segunda passagem do cortejo real, houve banda a tocar o hino, gritaria, vivas e flores lançadas das janelas. Parece impossível, lendo este relato certamente verídico, que apenas 73 dias depois D. Manuel seria forçado a partir para o exílio.
E ainda há quem se espante, como se a República fosse a obra de um país. Volto a repeti-lo: nas vésperas do golpe de 5 de Outubro de 1910 Portugal podia ser uma monarquia sem monárquicos, mas não era, com certeza, um país de republicanos. Como o não é hoje, mentalizem-se disso.
(Fonte: Obliviário)
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