A Grande Ilusão - Um ensaio sobre 1910
Mendo Henriques
«Este texto A Grande Ilusão - Um ensaio sobre 1910 não se apresenta, de todo, nem na forma nem na intenção, como uma obra historiográfica; utiliza a revisão histórica aludida para problematizar os acontecimentos da época, fazendo ressaltar uma interrogação: por que razão fez o país a República em 1910? Porque foi abolida subitamente uma instituição cujas cinco quinas tanto se confundiam com a nossa identidade que não houve maneira de as retirar da bandeira nacional ? E porque triunfou a imputação de culpas à monarquia liberal pelos supostos atrasos do país?»
(9 de Agosto de 2010)
Um novo livro ,prestes a sair para as livrarias ,que tenta explicar que «[o] avanço do ideal da República até à implantação em 5 de Outubro é um fenómeno que só pode ser explicado desde que abandonemos a concepção determinista da história»...um livro a não perder para uma interpretação moderna, em duas abordagens opostas, sobre a problemática do 5 de Outubro e a sua utilidade para interpretar o Portugal presente e aquele que pretendemos para o futuro
Introdução – A Grande Ilusão
Em meados de Outubro de 1910, a maior parte dos jornais, revistas e folhetos que circulavam em Lisboa apresentavam ilustrações de uma rapariga seminua, desenhada em estilo art Nouveau, com os cabelos longos enfiados num barrete frígio e que fitava com ar fatal as brumas do futuro. Era uma figuração política e ao mesmo tempo o ídolo de uma pátria e de um regime, uma exasperação emocional(...)
Os clubes, centros e associações que preconizavam a extinção da Monarquia não tinham visão política que fizesse entrever avanços. Eram um punhado de homens eloquentes, das letras e do direito. Os acontecimentos externos como a fracassada República Espanhola de 1868-1874 e a implantação da III República Francesa excitavam as imaginações e inspiravam ideários generosos e messianistas. A crise de 1890 foi ocasião de um fogo fátuo. Na verdade, só a crise aberta em 1907 pelos partidos monárquicos e o Regicídio, bem como o apoio declarado do novo grão mestre do GOL e das chefias carbonárias, abriu ao PRP o caminho da revolução. (...)
A burguesia comercial em delírio no dia 5 de Outubro de 1910, julga ver no prolongamento das políticas económicas advindas do Fontismo a solução para uma crise financeira que é internacional
Mas o progresso não veio em 1911. Nem em 1912. Nem 1913. Em 1914 já havia uma ditadura. E, fosse com a República Nova de Sidónio Paes, quer com o regresso da República Velha em 1919, a 1ª República arrastou os seus ideais generosos e patrióticos, a par das suas grandes ilusões, até terminar no estertor de mais um golpe militar.»
Sá Cardoso proclamando o fim do Governo de Pimenta de Castro a 14 de Maio de 1915 , uma das muitas ditaduras que varreram os 16 anos da Iº República– Benoliel-Arquivo fotográfico da C.M.L
«Este ensaio tentará responder a estas questões em três partes.
Numa primeira, é esboçado o funcionamento das instituições da monarquia liberal na conjuntura muito especial de 1910»
«Numa segunda parte do ensaio, são abordadas algumas das condições económicas (...). .O balanço da primeira metade do século XIX português mostra que a perda do Brasil como “mercado interno” e o tempo perdido em conflitos armados e lutas ideológicas condicionaram até ao limite a exequibilidade do país Mas após a Regeneração, a monarquia liberal conseguiu o arranque para o desenvolvimento e teve 40 anos de progresso, talvez insuficiente, mas claro e insofismável. A partir de 1890, e sobretudo devido a causas exógenas, o desenvolvimento desacelerou e a oscilação entre o proteccionismo e a abertura económica não ajudou. »
Crise financeira de 1907, em Wall Street, no seguimento do colapso financeiro de 1890 faria o caminho para o aparecimento dos Bancos Centrais em todo o mundo
«Contudo, comparado com outros países europeus que se industrializaram ao longo do século XIX, o Portugal de 1910 precisava, objectivamente, de um novo folgo económico e não de uma mudança política. Os governos após 1910 não souberam enfrentar o agravamento das condições económicas e o resultado foi a degradação de todos os indicadores económicos na 1ª República »
montagem de comboios a vapor, sec XIX, o prenúncio da era industrial o capital acumular-se-ia em escala na Industria, uma tendência que nem o Estado Novo conseguiu evitar
«Uma terceira parte deste ensaio aborda as razões e as ideologias com que, na época, foi analisada o que se chamou a “decadência” do país, confundida por algumas correntes com a “decadência” da monarquia. Creio que o fulgor da República, como solução para redimir uma pátria considerada degradada pela acção nefasta da dinastia de Bragança, resultou de uma radicalização do nacionalismo liberal que, ao longo do século XIX, chocou com as tradições católicas. A monarquia liberal conteve esse choque com o compromisso da Carta Constitucional. Mas a propaganda republicana tudo fez para contaminar as questões de ordem política, religiosa e cultural»
(Fonte: "Somos Portugueses")
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