domingo, 30 de maio de 2010

CARTA ABERTA DE JOÃO BRAGA AO CHEFE DO ESTADO

Excelência:

Contra o que é meu hábito hesitei bastante em tomar a decisão de escrever esta carta porque tenho simpatia pela sua pessoa, como penso ser do conhecimento de Vossa Excelência, porque o currículo académico de Vossa Excelência é digno de respeito, porque o percurso profissional de Vossa Excelência nos meios da alta finança confere-lhe um prestígio sem mácula, porque o facto de ter sido Ministro das Finanças do Dr. Francisco Sá Carneiro é para mim indissociável da figura ímpar daquele político e estadista.

Mas decidi escrevê-la pelos mesmíssimos motivos que me levam a criticar duramente Vossa Excelência: achei que seria demitir-me dos deveres patrióticos de cidadão dado à luz em terra portuguesa, o que constitui, no meu entender e desde que esse entendimento se produziu, uma responsabilidade de alto grau decorrente do peso da descendência que honra todos os que nascem em terra tão ilustre como aquela que é a nação portuguesa, por mor desses antepassados que contribuíram, por amor ao Reino de Portugal, para que ela se tornasse em uma das mais marcantes, essenciais e meritórias da História da Humanidade.

Posto isto, vamos às razões que me levaram a tanto:

1) – Nas últimas presidenciais, foi Vossa Excelência eleito pela maioria dos votos dos portugueses, à primeira volta, e tomou posse em Março de 2006 do cargo de Chefe do Estado por um período de cinco anos como manda a Constituição que temos.

2) – Por obra e graça do vosso antecessor herdou Vossa Excelência, como Primeiro-Ministro, aquele que será talvez o Chefe de Governo mais nefasto, mais mentiroso e mais indigno, que consta da História de Portugal.

3) – Esta apreciação resulta de algumas das mais disparatadas iniciativas governamentais que promoveu, de algumas das mais descaradas faltas à palavra dada consubstanciadas em promessas feitas em campanha eleitoral e já no desempenho das altas funções para as quais foi eleito pela maioria absoluta do povo português, no primeiro mandato, e por uma maioria simples no segundo e, por último, de algumas das mais ignominiosas leis por ele preconizadas para a sociedade portuguesa.

Perante este negro quadro da realidade actual da nação portuguesa cabe perguntar o que terá feito Vossa Excelência para lhe pôr um termo. A resposta é nada, absolutamente nada, para lá de umas titubeantes escusas a comentar o que ia acontecendo, sob o pretexto falacioso de não aumentar a instabilidade política, falacioso porque com esse procedimento tem vindo Vossa Excelência a tornar-se no maior contribuinte para o agravamento dessa instabilidade, expressa nos resultados desastrosos da Economia, da Justiça, da Educação, da Cultura, da Saúde, da Segurança, no insustentável agravamento do custo de vida dos portugueses e no vertiginoso achincalhamento do prestígio internacional da nação portuguesa.

Se não tiver paciência nem cara para ler o que lhe estou escrevendo, ouça ao menos as palavras de Henrique Medina Carreira, de Nuno Crato, de João Duque, de Fernando Ulrich, de João Salgueiro, de José da Silva Lopes, de Luís Campos e Cunha, de José Manuel Fernandes, de Vasco Pulido Valente, de José António Saraiva, de António Barreto, de Manuela Ferreira Leite, de António Pires de Lima, de Mário Crespo, de Henrique Monteiro, de José Luís Saldanha Sanches, de Vicente Jorge Silva, de Maria Filomena Mónica, de Marcelo Rebelo de Sousa, de Miguel Urbano Rodrigues, de Aura Miguel, de Vasco Pinto de Magalhães, de Joaquim Letria, de muitos outros e muitas outras, de tantos e desvairados quadrantes políticos, que tudo têm feito, num ecumenismo político nunca dantes observado, para despertar a aparentemente entorpecida consciência política de que Vossa Excelência tem vindo a dar mostras de uma forma relapsa e contumaz por meio dos seus numerosos “não posso comentar as decisões do governo”, “não tenho declarações a fazer sobre esse assunto”, “não me pronuncio sobre essa matéria”, e por aí adiante.

E se Vossa Excelência pôde contar com o álibi da maioria absoluta do primeiro dos governos do actual Primeiro-Ministro para não dissolver o Parlamento e convocar eleições, já desde as de Setembro último, face aos resultados eleitorais então verificados, deixou Vossa Excelência de poder escudar-se nesse álibi para fazer o que lhe competia. Mais concretamente, desde 31 de Março passado, que Vossa Excelência dispôs de 58 (cinquenta e oito) dias para agir e fazer o que urgia e urge, mas optou por continuar a esquivar-se às medidas requeridas por essa urgência, aduzindo a necessidade de travar ou pelo menos não agravar a sacrossanta instabilidade política.

No âmbito deste quadro aflitivo creio ser legítimo concluir que a instabilidade que angustia o dia-a-dia de Vossa Excelência é aquela que poderá evitar a vitória de Vossa Excelência nas presidenciais do próximo ano, tornando-o no primeiro presidente não reeleito desta república, desde 1974. E é a partir desta conclusão que eu me vejo obrigado a pedir a Vossa Excelência que faça aquilo que Vossa Excelência nunca teve a coragem para pedir ao ainda Primeiro-Ministro durante esta sombria página da nossa História: demita-se, Senhor Presidente!

Demita-se e poupe a Portugal e aos portugueses o triste espectáculo de uma campanha eleitoral esbanjada em patéticos esclarecimentos do inexplicável, em desajeitadas imagens do tempo de antena de Vossa Excelência e de vossa excelsa esposa ao lado ou mesmo à frente de Sua Santidade o Papa, como se estivessem ambos com as mãos nos ouvidos e nos olhos, em debates a justificar o injustificável, esquecendo-se da regra de ouro que revela acusar-se quem tanto se explica.

Ou não. Ou então siga o piedoso, mas sábio, conselho dado há dias na SIC Notícias por um dos seus rancores de estimação, o Dr. Pedro Santana Lopes: não dissolva o Parlamento e, dentro dos poderes presidenciais que lhe assistem e do que decorre das normas constitucionais, proponha um Governo de Salvação Nacional, cujo Primeiro-Ministro, que não este, seja do partido mais votado nas últimas legislativas — José da Silva Lopes ou Ernâni Lopes, por exemplo —, ou outro, mais ou menos independente, que o PS não chumbe, e que os restantes partidos aceitem, para que a legislatura se cumpra, resguardando o país de novas eleições e arrancando com a recuperação económica que devia ter começado há pelo menos oito meses.

Um governo composto por individualidades com provas dadas na condução das mais importantes empresas de Portugal, que não tenham rabos de palha no que a casos de corrupção diga respeito, mostrando dessa forma Vossa Excelência a vontade de meter um travão na verdadeira instabilidade política e económica, ao mesmo tempo que eximiria este martirizado povo do pagamento de centenas de milhares de milhões de euros que incontáveis políticos da área da governação têm vindo a desviar dos fundos comunitários para o próprio bolso, o dos respectivos familiares e amigalhaços, evidência que está indesmentivelmente na origem da tremenda crise da qual parece não lograrmos sair, por via da instabilidade política, social e labora, que lhe está inerente, situação em que presentemente nos encontramos e pela qual Vossa Excelência sobressai como principal responsável, já que uma duvidosa licenciatura acrescida de um passado pouco lucrativo para a economia do país conferem ao actual chefe do governo uma inimputabilidade intelectual que um doutorado em York não pode avocar.

Estou convencido de que partido algum se atreveria a reprovar um governo da iniciativa de Vossa Excelência, dado que o eleitorado jamais perdoaria uma tão grande demonstração de interesse videirinho, de leviandade política, de ausência de sentido do estado, através da falta de apoio a esse seu gesto excepcional de se iniciar o erquer de Portugal do abismo para onde foi empurrado.

Olhe que isto não necessita de uma coragem por aí além, bastar capacitar-se de que assim as próximas eleições legislativas jamais colidirão com as presidenciais do seu desassossego.

Respeitosamente

João Braga
(Fonte: Facebook)

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