sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O “REI” SOLDADO

Já vai distante o tempo em que vi chegar ao Aeródromo Base nº. 3, na então Vila do Negage, um jovem Alferes Miliciano Piloto que dava pelo nome vulgar de Nuno Bragança. Magro, louro, de bigode bem desenhado sobre uma boca que parecia apenas saber pedir desculpa e esboçar aqueles sorrisos que distribuía para um lado e para o outro… porque eram gratuitos, dizia eu cá para os meus botões.

Aquele militar não era uma pessoa qualquer, mesmo que o ti António o houvesse mandado para Angola como mais um e não como alguém que mereceria outras honras se estivesse inserido num outro sistema governativo que não uma república, pois era apenas e tão só o HERDEIRO DA COROA PORTUGUESA!

Sei que a Causa Monárquica não estava aqui em “causa”, mas o que é verdade é que aquele jovem Oficial Piloto era nem mais nem menos que D. Duarte Pio de Bragança, o Princípe da Beira e Duque de Bragança, que havia levado o seu portuguesismo ao ponto de se oferecer para servir em África, no combate ao terrorismo que havia deflagrado em Angola, Guiné e Moçambique.

Talvez a contragosto, Salazar acabou por autorizar que ele viesse para Angola… mas com expressas ordens para não ser exposto às agruras do combate e ao perigo de captura por parte do inimigo, para que não houvesse exploração do facto por parte das facções partidárias da Monarquia, como se compreenderá.

No dia da sua chegada foi um espectáculo a subserviência patente no comportamento de alguns Oficiais do AB3, que em grandes reverências, quase tocando o nariz no chão, o tratavam por “Sua Alteza”, “Majestade”, “Senhor D. Duarte” e outras coisas do mesmo jaez, até que o Comandante Gião colocou um ponto final no caso! O jovem piloto era o Alferes Bragança e mais nada!

Como por magia, o herdeiro da Casa de Bragança simpatizou comigo, talvez por saber que também eu tinha alguma simpatia pela Causa, passando a ser o seu confidente, o seu amigo, o seu conselheiro e tudo o que se possa dizer numa situação em que alguém confia na nossa maior experiência das coisas do Negage e nos pede que lhe sirvamos de cicerone, o que fiz com toda a boa vontade.

Pela minha mão conheceu a Vila do Negage, algumas das pessoas mais antigas da terra, como o velho Ginja, o Fernando Santos, o João Ferreira, os Padres Prosdócimo de Pádua e Fortunato da Costa, o Manuel Manso, o Professor Carvalhosa… enfim: as pessoas que havia feito o Negage, que lhe deram um estatuto, uma história capaz de não envergonhar aquele que bem podia ter sido o seu Rei.

Chamo a D. Duarte Pio o Rei Soldado sem ironia, pois Rei deveria ele ser, pela graça de Deus, e soldado era-o na realidade, porque foi nessa condição que o vimos um dia chegar às terras mártires de Angola.

Ainda hoje me pergunto se alguma vez Portugal se poderá perdoar por não ter aproveitado a circunstância de ter no seu seio um homem bom que nasceu para ser Rei… mas a quem a tacanhez de espírito dos homens resolveu recusar o lugar que a história, por direito inalienável, lhe outorgou, que é o de REI DE PORTUGAL!


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