Estava a ver a Grande Reportagem da SIC sobre os 50 anos da Guerra do Ultramar onde passou uma reportagem feita em 1969 na Guiné. Ao ver a coluna de militares emboscada, ao ver feridos, ao ver sofrimento :
- lembrei-me das muitas histórias que o meu pai me contava de privações e de uma juventude perdida no meio de uma Guerra
- lembrei-me daquela geração que foi esquecida no dia 25 de Abril de 1974 por ter combatido em nome de uma República que é a mesma de hoje com o mesmo Hino e Bandeira
- lembrei-me do quanto era motivo de gozo por parte de alguns patriotas da trampa alguém ter combatido na Guerra do Ultramar, muitos tinham vergonha de dizer que estiveram lá
- lembrei-me daquelas imagens de palhaços parecidos com Ché-Guevara de cabelos compridos e barba a fazerem depois de 1974 o juramento comunista da bandeira
Nem todos foram condecorados como o meu pai foi, ele foi duas vezes condecorado. Uma por mérito de ter salvo um camarada que tinha perdido uma perna por causa de um arrebentamento de uma mina quando se deslocavam numa coluna, se não fosse imediatamente evacuado por helicóptero morreria alí. Ouviu uns aviões da FAP a passarem por perto e sabia que se conseguisse entrar em contacto com eles poderia pedir um Alloete III para salvar o camarada, sabia que os sistemas de comunicação da Força Aérea e do Exército não eram os mesmos e também sabia que não era fácil comunicar com aqueles aviões. Andava um avião da PIDE que estava a interferir com a operação e de certa forma a dar a posição ao inimigo da tropa portuguesa podendo aumentar ainda mais o nº de baixas, perdendo a paciência o Joaquim meu pai agarra na G3 e dispara alguns tiros de rajada que passam perto do avião o qual logo se afastou.
Como furriel de Transmissões, Criptógrafo do Exército destacado na companhia de Cavalaria “Os Linces” estacionada em Cantina Dias, Norte de Moçambique, pegou no seu rádio banana e trepou a uma árvore onde esticou a sua antena do rádio para tentar entrar em contacto com os aviões da Força Área Portuguesa correndo o risco de ser abatido pela FRELIMO ou turras como eram conhecidos. Conseguiu entrar em contacto com os aviões, os pilotos ficaram surpreendidos por ser um militar do exército a comunicar com eles de uma maneira que eles julgavam impensável, pediu-lhes que fosse feita uma evacuação de hélio pois a companhia tinha sido emboscada e havia feridos que precisavam de ser imediatamente evacuados.
A história do feito não passou sem dar nas vistas, o comandante da Força Aérea Portuguesa daquela zona militar soube do feito e mandou uma comunicação para o quartel do meu pai para se apresentar na Base Aérea, foi condecorado com a Medalha de Mérito Militar.
Como as medalhas na altura eram pagas ele não as levantou, nunca lhe deu muito valor … se encontrasse uma de Mérito Militar cravava ela na sepultura dele porque merece.
É de admirar o heroísmo daqueles pilotos de helicópteros que iam para zona de guerra com o objectivo de salvar camaradas com mulheres enfermeiras corajosas correndo o risco de ficarem ali mesmo, admiro muito D.Duarte de Bragança porque ele compreende mais do que ninguém os combatentes do que outros … quando uns como o Cavaco Silva se divertiam a trepar palmeiras e estar atrás da secretária outros como D.Duarte eram pilotos de helicóptero e iam para o meio do combate com as asas ao peito que podiam bem ser de anjos para aqueles que estavam caídos e feridos …
Houve muitos que não foram condecorados, houve muitos que morreram e que as suas sepulturas estão esquecidas no meio do mato sem que os seus familiares pudessem fazer o luto, houve muitos que ficaram feridos e que ainda hoje sofrem por isso gastando o dinheiro em medicamentos que o Estado Português tem a obrigação moral de os pagar, houve muitos que passados estes anos todos sofrem com o stress de guerra existindo pouco apoio psiquiátrico especializado para o efeito, e os mais de 5000 africanos que combateram sobre a bandeira de Portugal e foram esquecidos por “nós” ou então assassinados em África pelos novos putativos defensores da Liberdade e Democracia para aquelas bandas onde a Pátria ficou manchada de sangue.
A mim que não estive lá custa-me saber que aqueles milhares de portugueses como eu perderam a sua juventude em terras longínquas, lá se fizeram homens de barba rija mas da pior forma. Claro que houve também acções condenáveis de ambas as partes como massacres mas qual é a guerra onde não há danos colaterais ? ninguém gosta da guerra, se há alguém que gosta das duas uma ou é maluco ou nunca soube o que é a Guerra … eu não sei mas sei o valor da vida Humana. O Estado Português antes de 1974 é o mesmo depois de 1974, a República Portuguesa é a mesma com o mesmo Hino e Bandeira, independentemente de antes de 1974 ser uma ditadura aqueles homens estavam a cumprir ordens e não por sua auto-recreativa vontade, no mínimo o Estado Português devia pagar para se limpar os cemitérios onde estão milhares de sepulturas de militares cobertas pelo mato, e quanto a pensões … eu acho que há dinheiro que pague tanto sofrimento por muito ou pouco que ele seja.
Passados 50 anos do primeiro combate, quase 37 anos do Abril de 74, eu pessoalmente como filho de retornados nunca pensei que aquelas terras fossem nossas porque a África Portuguesa durante séculos foi esquecida só mesmo na segunda metade do séc.XIX se lembraram de a conquistar … Serviu de arma de arremesso para os republicanos com o Ultimato Inglês de 1891, até 1974 o Ultramar fez parte da República mas foi propositadamente esquecido nas comemorações do centenário, temos portanto uma República com Alzeimer … não é bom para a Democracia.
A Pátria não é de direita e nem de esquerda é de todos.
Honra aos que há 50 anos tombaram em combate, Honra aos que combateram … na Guerra do Ultramar
Portugal também é deles, nunca os devia ter esquecido … os militares de hoje também não esquecem … a democracia que se cuide
Rui Monteiro
Fonte: Blogue "Causa Monárquica"
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