“ Sussurrava-se em Sagres que, há séculos quando os moiros foram senhores da península, era alcaide de um Castelo roqueiro, erguido a meio do Tejo, o sarraceno Almourol, que ali vivia com a sua mulher Cardiga e a filha Miraguarda, de olhos sonhadores e negros e de tanta beleza, que era capaz de cativar a alma de um cristão.E assim sucedeu.
Nas pelejas entre moiros e cristãos nas vizinhanças do Castelo, intrépido e romântico cavaleiro cristão, das hostes de Afonso Henriques, divisou nas ameias da fortaleza o moreno e encantador rosto da adepta do Islão de nome Miraguarda, filha de Almourol e Cardiga. E tão enfeitiçado ficou de suas raras graças e belezas, que se esqueceu que profanava a religião professada, ousando olhar cobiçosamente para a filha dos infiéis.
Mas o amor não consentiu estorvo , chegado à fala com Miraguarda cosido com as cortinas das barbacãs, planearam a fuga. E o amoroso cavaleiro raptou a moira encantada, levando-a para longes terras, cingida a si, em fogoso corcel. No momento da fuga, as hostes cristãs aproveitaram o ensejo para penetrar no Castelo, tomando-o aos Sarracenos.
Foi então que Almourol e Cardiga, não podendo suportar a afronta da dupla traição e o degradante cativeiro que lhes imporiam os assaltantes inimigos, decidiram subir à torre de menagem e precipitaram-se no Tejo. E assim puseram termo à cruciante dor que lhes avassalara as almas.
Os cadáveres dos 2 sarracenos, sobre nadando as águas do rio, foram Tejo abaixo impelidos pela corrente e internaram-se no oceano, perdendo-se entre as brumas e neblinas do além mar, onde, petrificadas, se transformaram, diz a lenda, em 2 ilhas de maravilha.
Quando os Portugueses, séculos depois, descobriram a ilha de Sta Maria, e 12 anos após a de S. Miguel, o povo tomou como verídica a lenda de antanho, dizendo que Sta Maria era o corpo da Cardiga e S. Miguel o do Almourol, transformados nas 2 ilhas encantadas.”
Curioso é que o descobridor dos Açores foi frei Gonçalo Velho Cabral, senhor de Pias, de Beselga e de Cardiga, comendador do Castelo de Almourol que em 1432 foi designado 1.º capitão donatário de Sta Maria, e em 1444 1.º capitão donatário de S. Miguel.
(Fontes: Atalaia - V.N.Barquinha e Real Associação do Médio Tejo)
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