A adulteração do liberalismo constitucional a partir de 1900 desencadeou a reacção salutar das forças monárquicas comandadas por João Franco. Um episódio diz tudo. Um tal sr. Gomes, dirigente progressista da freguesia de S. Paulo em Lisboa, e pai do futuro Director do Banco de Portugal, veio dizer-lhe: “Venho-me ligar consigo; o José Luciano, chamo-lhe por brincadeira o homem dos perús vai atrás dos seus homens com uma caninha na mão; o senhor vai à frente e eles atrás.”[1]
Os atropelos ao art.º 74 da Carta levavam a uma situação insustentável em que os dirigentes rotativos se acusavam mutuamente, como no sarcasmo de Hintze contra José Luciano “Fui leal ao meu rei, não entrei em conspirações republicanas”.[2] Antes de se afastar do Parlamento em 1901, sendo chefe da bancada do Partido Regenerador, João Franco deixou dito “que este País não podia continuar a ser ludíbrio de Regeneradores e Progressistas, que os países pertenciam aos seus povos, e que os monárquicos, para honrarem as institui ções, deveriam “caçar no mesmo terreno’” que os republicanos”. Estava marcado o terreno de combate que levaria João Franco a erguer o dedo ameaçador contra a propaganda republicana: “Se não fizerem já a República, eu não lhes deixarei fazê-la”. E de facto assim teria sido se D. Carlos e o Príncipe Real tivessem escapado ao atentado. E por isso mesmo o atentado visou ambos.
Franco queria governar com a Nação e democratizar o processo governativo. Assim nasceu o Partido Regenerador Liberal, destinado a defender as instituições monárquicas contra o Rotativismo decrépito e contra a propaganda republicana.[3] Após dois anos de observação e de expectativa, a partir de 1903 começa uma intensa propaganda no País, sustentada na imprensa e com larga organização partidária em Lisboa. Ao escol de homens políticos que o fundaram, abandonando antigas posições partidá rias, vieram juntar-se valores intelectuais. Num artigo sobre a adesão do grande escritor Fialho de Almeida, escreveu-se então: “Deu-se com Fialho o mesmo que acontecera com Ramalho Ortigão e Teixeira Lopes, com Sales de Lencastre e Costa Goodolfim, com Antero de Figueiredo e Eugénio de Castro, com Henrique da Gama Barros e o Visconde de Castilho, Agostinho de Campos, José Maria Rodrigues e Gomes Teixeira, e tantos Portugueses excelentes nas artes, nas letras ou nas ciências, idealistas sem serem ideólogos, que espontaneamente trouxeram ao esforço sincero do Franquismo o valioso atestado moral da sua adesão ou da sua simpatia.”[4]
Entre os que acompanharam João Franco desde a primeira hora no Partido Regenerador Liberal contam-se os nomes de: Drs. Teixeira de Abreu, Martins de Carvalho, José Novais, Mota Gomes, Luís de Soveral, Tarouca, de Arnoso, de Mafra e de Margaride, Drs. José Cavalheiro, Viscondes do Banho, da Idanha, Drs. Alfredo a Costa, Carlos Tavares, Pedro Gaivão, Malheiro Reimão, Luciano Monteiro, Teixeira de Vasconcelos, Tavares Proença, Melo e Sousa, , Pinto de Mesquita, João Saraiva, Morais Sarmento, Driesel Shroeter, António Viana, António Costa, Morais de Carvalho, José Maria dos Santos, Marquês de Valflor, e os mais distintos oficiais da época, Vasconcelos Porto, Paiva Couceiro, Aires de Ornelas e Azevedo Coutinho, que a essa amizade juntaram a glória militar.
[1] Carnide, 31
[2] Referindo-se à ditadura regeneradora de 1895
[3] Carnide 59
[4] Carnide, 60
Fonte : Professor Mendo Castro Henriques
(Fonte: Blogue "Causa Monárquica")
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