Em Novembro de 1925 realizara-me eleições para o Parlamento. Eis como elas decorreram, de acordo com notícias dos jornais Correio da Manhã, Diário de Notícias e A Época:
Em Lisboa: «Os revolucionários tinham-se colocado à porta da assembleia, impedindo a entrada dos eleitores que lhes não agradavam. A certa altura, quando alguns deles iam a entrar, o chefe do grupo, um tal Carvalho, disparou contra eles, sendo imitado por alguns facínoras que o acompanhavam».
«Além do escandaloso corte dos eleitores monárquicos, nos cadernos de recenceamento, que só numa das freguesias da capital inutilizou cerca de 700 votos e além da recusa do voto a numerosos eleitores, sob pretexto de não serem conhecidos, cometeram-se em Lisboa as tropelias do costume, que a República reputa indispensável para sua defesa e manutenção»
«Mal deram em ser conhecidos os resultados das eleições, um grupo de indivíduos armados de mocas e bengalões começou a visitar, em atitude de desordem, as várias secções de voto da cidade (...) da freguesia de Santa Isabel e aos "vivas" à república, invadiram a sala, distribuindo pancadaria a torto e a direito. Estabeleceu-se pânico; ouviu-se o disparo de cinco tiros (...). Urnas, mobiliário, cadernos, listas, impressos, tudo se espalhou, feito em pedaços, pelo chão».
Em Matosinhos: «Em Infesta do Balio e Perafita, as assembleias foram invadidas por grupos estranhos que viajaram em camionetas e que, armados de pistolas, cavalos-marinhos e bombas, expulsaram os elitores da lista concelhia»
Em Alcochete: «Houve comício feito da janela do Centro Democrático, sendo maior o número dos oradores que o dos ouvintes, pois a população desta terra é retintamente conservadora (...) Vendo-se perdidos, apenas começou o escrutínio, lidas apenas sete listas, todas dos conservadores, e tendo eles duas, desataram a dar vivas à república, chefiados pelo delegado do Governo, de Aldeia Galega e pelos polícias da S. do Estado, e a expulsarem da assembleia os conservadores. Houve grossa pancadaria, uns saltaram pelas janelas, outros brigavam na rua. Só se ouvia gritos de - MATA! MATA!»
Em Cabeceiras de Basto: «Entre baionetas caladas, procedeu ao simulacro das eleições administrativas, neste concelho, a antiga vereação democrática, que violou o recenceamento eleitoral, passado o prazo legal das reclamações, riscando os votatntes desafectos, com o fim de ser agora reeleita sem oposição alguma, como está sucedendo para "prestígio" da República e do Partido Republicano Português».
Na Golegã: «A eleição correu ilegalmente, negando a mesa o direito de voto a muitos eleitores que se apresentavam com a certidão, e aos quais em caso nenhum podia ser negado esse direito, como é de lei».
Em Mação: «Os democráticos, vendo perdida a eleição, praticaram as mais revoltantes imoralidades, fazendo votar os mesmos indivíduos 3 e 4 vezes e expulsando violentamente os contrários».
Na Figueira da Foz: Nas assembleias de Lavos e Maiorca, onde os monárquicos tinham uma grande maioria, os democráticos roubaram os cadernos eleitorais, não deixando votar os adversários».
Em Alenquer: «A mesa (...) comandada pelo célebre Ramos Rosa, recusou-se terminantemente a abrir a urna e mostrou que nela já havia listas. Em vista de todas essas irregularidades (...) os conservadores resolveram abandonar a eleição (...). Na assembleia de Meca, também os eleitores foram impedidos de votar pela Guarda Republicana que se encontrava a dez metros de distância e protegia os arruaceiros encarregados de impedir a votação. Os eleitores republicanos votaram 5 e 6 vezes cada um».
Em Mafra: «O descaramento e o roubo subiram a ponto de figurarem 710 listas como entradas, quando o número de eleitores inscritos no recenseamento é apenas de 556».
O espectáculo prosseguiria pelas Republicas seguintes. Somente agora sem bengaladas e tiros, com meios mais sofisticados...
Fonte: Costa Brochado, «O Sr. Norton de Matos e a sua candidatura», Portugália editora, 1949, pág. 130.
(Fonte: Blogue "Centenário da República")
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