A mais de um ano das eleições presidenciais começou com Manuel Alegre e Fernando Nobre a dança das candidaturas. Ambas ditas independentes e supra-partidárias mesmo se, no caso do poeta, teve imediatamente o apoio do Bloco de Esquerda e mais tardiamente, a contra-gosto, o do Partido Socialista de que é militante e se Fernando Nobre confessa que seria uma honra ter como apoiante Mário Soares, ex - presidente e que não apoia Alegre, reunindo à sua volta um grupo de descontentes com a decisão dos órgãos oficiais do PS, que poderão vir a apoiá-lo.
Cavaco Silva, em funções na chefia do Estado, aguarda calmamente o desenrolar dos acontecimentos, nomeadamente a tentativa falhada, ao que parece, de à direita lhe arranjarem um opositor que se venha entrincheirar em Belém quando estiver em desacordo com leis da esquerda agora maioritária na Assembleia da República e dispare vetos sobre vetos, mesmo que não produzam qualquer mossa no alvo.
E falta ainda o PCP que terá também o seu candidato, por razões de princípio, mas que, numa 2ª volta, votará em Alegre para barrar o caminho a Cavaco. E à “reacção”.
Todos eles dirão ou já disseram que são independentes, não se sabe de quem ou do quê, e que querem unir os portugueses. E que querem vir a ser o “presidente de todos os portugueses”, numa farsa digna de Gil Vicente ou, mais modernamente, da revista à portuguesa.
Hoje é o candidato Fernando Nobre que dá uma entrevista ao Diário de Notícias e que esclarecendo que “Não sou monárquico, sou republicano. É uma inverdade, acho isso espantoso” diz , como não podia deixar de ser que “Estou nesta candidatura para unir todos os portugueses, o que passa por unir os republicanos, os monárquicos, os imigrantes naturalizados, todos”. E mais diz, depois de tentar não se situar politicamente à esquerda ou à direita, respondendo ao entrevistador que o coloca no centro- esquerda, que possivelmente é um homem dessa área política. E mais diz ainda, o que obviamente agrada à direita, que é um patriota e não tem vergonha de o dizer. Tal como Manuel Alegre já o disse em eleições anteriores, no que é a manifestação de uma posição tradicional da maioria dos republicanos que fizeram o 5 de Outubro (passe os iberistas que por lá andaram também) e lhe terá valido os votos de alguns monárquicos desprevenidos e equivocados, em contra-ponto aos esquerdismos reaccionários pós 25 de Abril, aos neo-iberistas e aos federalistas europeus.
Tenho pelo Dr. Manuel Alegre apreço, como poeta e cidadão, como tenho pelo Prof. Cavaco Silva, como economista e pessoa de bem, como tenho pelo Dr. Fernando Nobre o maior apreço como servidor incansável das causas sociais e das causas humanitárias. Não é isso que está em causa. Como não está em causa escolher ou ajudar a escolher o mal menor destas candidaturas que se nos apresentam. Nem alimentar o mito de um candidato monárquico à presidência da República que, por artes de berliques e berloques, viesse a convocar um referendo para escolher o regime (mesmo se as normas constitucionais o não permitem) ou a, num golpe de Estado, restaurar a Monarquia. O que, além do mais, revelaria uma pessoa desonesta. O Dr. Fernando Nobre desfez esse mito e ainda bem. É tão republicano como os outros, pretende eternizar esta república centenária e decadente como os outros. Merece a minha indiferença como os outros. Eu quero um Rei, verdadeiramente independente e supra-partidário e não um sábio ou um intelectual ou um tecnocrata ou um santo, mesmo se laico, na chefia do Estado. “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
publicado por João Mattos e Silva, Ex-Presidente da Causa Real e Presidente da Real Associação de Lisboa
(Fonte: Blogue da Real Associação de Lisboa)
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