Este texto não pretende ser um texto de reflexão, é um exercício pessoal de escrita e porque não de homenagem, no dia do aniversário do seu nascimento, a um português desconhecido de muitos e esquecido por tantos outros.
Em 1889, entre os demais milhões, nasceram dois homens. Um rico e um pobre, ambos morenos, ambos de estatura mediana, ambos portugueses. Um destes homens teve um nascimento promissor e dele se esperaram grandes coisas, do outro, nascido anónimo, ninguém ousou esperar coisa alguma.
A história, deste ponto em diante, revelar-se-ia imprevisível. Esses dois homens, que jamais se conheceram, são a proa e a popa do século XX português. Entre eles três eras e duas revoluções.
António nasceu em 1889, a 28 de Abril e Manuel nasceu no mesmo ano, no dia de hoje: 15 de Novembro. No dia de hoje também, em 1889 também, foi deposto do trono, no Brasil, o Imperador Pedro II que alguns dias mais tarde, a caminho do seu exílio em Paris, assistiria, em Lisboa, ao baptismo de Manuel.
António é para a história António de Oliveira Salazar e Manuel é Manuel II, Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.
A história do Portugal de Salazar, com todas as suas controvérsias e furores fratricidas, é sobejamente conhecida de todos, detractores ou apoiantes; a história do Portugal de Manuel é muito curta:
Dom Manuel não nasceu para ser rei, esse lugar deveria ser ocupado pelo seu irmão Luís Filipe que conjuntamente com o pai de ambos, o rei D. Carlos, foi assassinado em 1908. O acontecimento do regicídio catapultou um jovem Manuel de dezoito anos para um trono onde não esperara sentar-se. Manuel mostrou-se à altura e procurou aprender o novo ofício de rei não hesitando em questionar e pedir ajuda nas matérias para as quais não se sentia ainda apto. Fez viagens ao norte do país, visitou e foi visitado, oficialmente, por chefes de estado estrangeiros numa era em que as visitas de estado eram ainda novidade e grande prestígio e honra para as nações anfitriãs e incentivou ainda a criação de políticas sociais de ajuda ao proletariado aprovando, nos finais de Setembro de 1910 o estabelecimento de um Instituto de Trabalho Nacional.
A 4 de Outubro, no entanto, chega o golpe de estado republicano. Durante o bombardeamento do Paço das Necessidades, onde habitava, o Rei de 20 anos insistiu em ficar dizendo: "Vão vocês se quiserem, eu fico. Desde que a constituição não me marca outro papel senão o de me deixar matar, cumpri-lo-ei." Na manhã de 5 de Outubro, contudo a revolução impõe-se em Lisboa por meio da força e chega à província através da telegrafia.
Tudo está perdido e nada mais resta ao Rei do que embarcar com a restante Família Real rumo ao Porto onde se organizaria a resistência monárquica. Tal não aconteceria. Os oficiais a bordo e as duas rainhas, mãe e avó, com o fantasma da morte dos filhos e marido no regicídio de 1908 vivo, insistiriam com Manuel que se rumasse a porto seguro onde as suas vidas não corressem perigo. Seguiu-se então para Gibraltar e daí foi-se o Rei exilar em Inglaterra na mesma cidade onde havia nascido a sua mãe. As suas palavras foram:
“Forçado pelas circunstâncias, vejo-me obrigado a embarcar no iate real “Amélia”. Sou Português e se-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu país. Espero que ele, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer. Viva Portugal!"
E assim, às três pancadas, se encerrou uma monarquia de 800 anos. Uma das mais brilhantes da história.
Em 1932, no exílio e inesperadamente, Manuel morreria de um edema na glote. O ex-rei sufocaria até à morte. Também Portugal e toda a Europa começariam a experimentar o sufoco em 1932: Em Lisboa, António, aquele que também nasceu em 1889 tornar-se ia presidente do conselho de ministros e conduziria o país a uma ditadura pessoal de quase 40 anos; Noutro ponto da Europa, um austríaco chamado Adolf que, imagine-se, nascera em 1889, naturalizava-se alemão e inaugurava uma voragem que terminaria na guerra mais nefasta de todos os tempos. No ano em que morre Manuel nascem dois monstros. Os monstros do autoritarismo.
O símbolo supremo da monarquia, tantas vezes acusada de não-democrática é substituído pela não-democracia suprema.
Tudo isto parece longínquo para muitos neste ano em que sr marcam os 100 anos de existência da República Portuguesa. Monarquia parece uma ideia vetusta. Em exercício hipotético e por graça direi que se a história tivesse sido outra e ao invés de morrer, em 1932 Dom Manuel tivesse tido um filho, esse filho, hoje, em 2010, poderia ser Rei de Portugal, com uma idade aproximada à de todos os actuais monarcas europeus e teria sucedido a D. Manuel que facilmente teria reinado até aos anos 70 tal qual como reinou António.
Teríamos sido poupados a 40 anos de ditadura e a uma revolução e, não tenho dúvidas, o prestígio internacional de Portugal, que é hoje um país secundário, manter-se-ia intacto.
Àqueles que dizem que Monarquia já lá vai há muito tempo responderei: "Não senhor, neste momento é que estamos a saltar um rei"
Viva a Monarquia!
Diogo de Figueiredo Mayo
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