Numa local da SIC, a Restauração é retratada como uma espécie de coisa de malfeitores, isto é, um grupo de nobres resolveu pôr a duquesa de Mântua pela porta fora, e pronto, está restaurada a independência. Como se se tratasse de uma golpada palaciana sem outro mérito que não fosse o de uma oportunidade aproveitada.
Os “historiadores” e “jornalistas” da SIC ignoram a resposta popular à expulsão do poder filipino, como ignoram que foram precisos 30 anos de intermitente guerra para consolidar o que foi conseguido, como ignoram os monumentais esforços diplomáticos para obter o reconhecimento internacional da Restauração, como ignoram o que isso custou em termos humanos, em perdas de território e em alianças pouco desejadas.
São muito criticadas as comemorações da Restauração que se faziam no tempo da II República. Tais críticas têm alguma razão de ser porque, ao tempo, não se sabia onde acabava a comemoração propriamente dita e onde começava a propaganda do regime republicano então no poder.
As comemorações da Restauração passaram, com a trafulhice revolucionária sobre a qual a III República se instalou, a ser coisa de “fascistas”, “passadistas” e quejandos. Ou seja, muito republicanamente “aboliu-se” a data, conservou-se o feriado (não fosse os “trabalhadores” não gostar), destituindo-se tal feriado de qualquer significado político, patriótico ou histórico.
Parece que temos vergonha de ser portugueses.
Talvez não seja verdade. Temos, isso sim, vergonha de ser governados como somos e por quem somos.
Coisa que nada tem, ou devia ter, a ver com a Restauração.
2.12.2010
António Borges de Carvalho
(Fonte: Blogue "Irritado")
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