Nos cartazes relativos às festas de S. João deste ano colocados pelo município surge uma novidade: os cem anos da festividade oficial. Em bom rigor, as festas joaninas comemoram-se há séculos, com a justaposição da homenagem cristã ao Baptista às festividades pagãs do solstício de Verão. No Porto, as fogueiras tradicionais perdem-se na memória dos tempos. Mas até serem oficializadas, tiveram de esperar muito.
A 1ª República pretendeu, logo no seu início, criar os feriados municipais, acabando ao mesmo tempo com os religiosos, numa tentativa de laicizar e "educar" a sociedade. Assim, os municípios e as suas novas vereações republicanas estabeleceram os que eram mais próximos aos munícipes, ou mais convenientes. No Porto, as autoridades camarárias não chegaram a acordo, pela que a decisão acabou por ser referendada, numa "consulta ao povo do Porto" levada a cabo pelo Jornal de Notícias. Havia várias propostas, além do 24 de Junho, já muito festejado: 1 de Maio, 8 de Dezembro, 9 de Julho (entrada das forças liberais no Porto), e outras que não vêm à memória. Acabou por ganhar, com grande maioria , o S. João, que era assim, em 1911, instituído como o feriado municipal da cidade do Porto.
Não deixa de ser irónico que, em plena República laicista e com assomos jacobinos, tenha sido o Santo que baptizou Cristo a nomear um feriado criado por iniciativa de um organismo republicano, mesmo que as festividades fossem sobretudo pagãs. Em todo o caso, é graças a esse referendo municipal de há cem anos que hoje em dia podemos festejar o Baptista e a chegada do Verão, sabendo que no dia seguinte se pode sempre recuperar das mazelas.
publicado por João Pedro em "Estado Sentido"
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